26a MCT: Audiovisual é muito mais do que a sala de cinema

Há tempos o audiovisual não se resume a cinema nem especificamente a salas de cinema, e a pandemia amplificou isso com a entrada de multi-artistas na realização de trabalhos de imagem e som. Isolados e afastados de seus trabalhos principais, figuras da performance, das artes cênicas, da música e das artes visuais se enveredaram na construção de formas de expressão a serem transmitidas em plataformas de vídeo, podendo ser consumidas de qualquer espaço e dispositivo.

Parte da temática desse ano da Mostra de Cinema de Tiradentes, “Cinema Mutirão”, trabalha com essa expansão, e a mesa de segunda-feira à tarde “Invenções e saberes criados coletivamente” foi a reunião de exemplos disso. Havia no encontro a musicista e artista Saskia, o jornalista e pesquisador musical GG Albuquerque e a cineclubista Anne Santos. Em comum, todos se movimentam pelas artes de maneiras híbridas, compreendendo a força do mutirão e com plena consciência das contradições e dificuldades de se inserir economicamente num cenário dominado por plataformas e multinacionais de comunicação.

GG Albuquerque comentou de situações em que artistas negros de periferia viram criações suas serem apropriadas e “monetizadas” por influencers brancos de grande repercussão e isso não dar retorno financeiro aos artistas originais. Falou ainda da percepção invertida de que as plataformas sociais seriam espaços para ampliar alcances, quando, na prática, elas estão constantemente sugando conteúdos para benefícios, lucros e interesses próprios. “Recentemente um jornalista me perguntou se o TikTok ajudava a disseminar o funk, e eu respondi que, na verdade, é o funk que ajuda a disseminar o TikTok”, afirmou GG.

Saskia, que exibiu na Mostra o filme “Caixa Preta” (codirigido por Bernardo Oliveira), chamou de “cinema arrastão” o que ela acredita ser necessário para alguma mudança de cenário e para provocar a realização de conteúdos fora dos padrões estabelecidos pela indústria. Mas, frisou, ainda há grande dificuldade de remunerar adequadamente os artistas que mergulham nessas novas formas. Por sua vez, Anne Santos, que faz o cineclube Mate com Angu na Baixada Fluminense, exaltou o espaço alternativo de exibição como a ampliação das possibilidades de se compartilhar a fruição artística.

“Eu amo a sala de cinema, mas o espaço do cineclube não é excludente dela, ele deve somar, trazer a coletividade como um território e um espaço sem hierarquias”, disse Anne. Para ela, o mais intenso dessa experiência é que ver filme é uma entre várias coisas que as pessoas fazem nesses espaços, que se tornam autênticos ambientes de troca e convívio.

 

Saiba mais sobre a 26ª edição da Mostra de Cinema Tiradentes em nossa cobertura completa.

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