26a MCT – Aquilombamento e práticas indígenas no audiovisual brasileiro: ele acontece?

              Na tarde do dia 26/01 foi apresentado o seminário de Práticas coletivas no cinema brasileiro contemporâneo: Aquilombamento e práticas indígenas, no Cine Teatro, durante a programação da Mostra de Cinema de Tiradentes.

              A conversa foi mediada pela curadora Tatiana Carvalho Costa e na conversa foram convidados Cristina Amaral, produtora e montadora, Gabriel Araújo, crítico e curador e Mirna Kambeba Omágua Yetê Anaquiri, que é artista visual, performer e arte educadora. Foram discutidos diversas faces do tema, como a presença dos cinemas negros e indígenas transforma a visão do cinema brasileiro contemporâneo e como esse processo (dos cinemas negros e indígena) pode oferecer, ser a chave da compreensão a respeito de tais mudanças.

               O crítico apontou as contradições do tempo atual, no qual pessoas negras historicamente marginalizadas passaram a ser apropriadas pelos sistemas da grande indústria como forma de serem absorvidas também pelo capital. “Agora elas viram super-heróis”, ironizou. Para ele, isso cria uma pressão muito grande e, à sua forma, um outro tipo de gueto e separação. Ao falar de cinema brasileiro, lembrou da importância de Zózimo Bulbul (1937-2013) para o audiovisual negro brasileiro, ao mesmo tempo em que o peso da redescoberta de Zózimo arrisca abafar outras expressões de artistas negros no próprio cinema. “Quando a gente legitima uma figura central, a gente desloca e esquece de olhar as experiências coletivas, algo que o individualismo não comporta”, alertou.

                Mirna, em uma de suas falas, comentou sobre o processo de gravar com a cineasta Cristina o filme Cambaúba, que foi exibido em Tiradentes. Para fazer a produção, ela pediu  “permissão e licença” para a mãe natureza, para as águas, para o povo preto daquela terra onde a história seria contada. “Eu peço permissão. Permissão ao povo preto dessa terra, a cidade de Goiás que possui esse movimento de mulheres, esse fazer coletivo. É também, sobre pedir licença e honrar a terra, além de construir a haste que se liga com a ancestralidade e o passo que desejo dar”. A artista menciona e enfatiza a importância da permissão e licença, tanto dos povos, mas também à natureza, trazendo o respeito acima de tudo e todos para que o “fazer cinema” se concretize.

                 A produtora Cristina trouxe também como é importante ter a base dos sonhos para a criação de filmes: “O sonho é o nosso primeiro passo, antes de produzir um filme, a gente sonha nesse filme até mesmo antes de criar ele, fazer cinema. E sonhar é um direito humano, e é essa a primeira briga que devemos ter: ampliar o espaço para a diversidade desse país” e posteriormente fez uma crítica em relação a produção de filmes e longas ”Nosso filme é dito hegemônico, mas não é, seja aquele que conseguiu mais recursos ou não. Depois de um tempo, quando você procurar esse filme, ele não existe mais, porque não é isso que importa. Portanto, quando temos a oportunidade de criar cinema para ficar na história, é transformador ”.

Saiba mais sobre a 26ª edição da Mostra de Cinema Tiradentes em nossa cobertura completa.

 

*Texto produzido com a colaboração de Fabiane Watanave.

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