Produtora Escarlate tem 12 projetos contratados. Conheça 4 deles!
Fundada em 2016, a Escarlate Conteúdo Audiovisual e Experiências Criativas apresenta um crescimento orgânico que já está há cinco anos adiantado. A constatação é de uma das fundadoras, Joana Henning, em entrevista especial ao Prodview.
A empresa tem em seu escopo 80% de projetos voltados ao cinema, mas também tem forte atuação em gestão de conteúdo e eventos, tudo voltado ao mercado audiovisual.
Já estão em andamento 12 projetos de longas metragens, dos quais Joana chama a atenção para quatro.
Confira a entrevista na íntegra abaixo, em que a profissional também comenta sua visão do mercado, os gargalos e o relacionamento com a produção audiovisual.
Comente brevemente sobre a Escarlate.
Eu tenho uma produtora de eventos no Rio há 10 anos. Vim de Brasília e tinha uma associação que representava artistas de diversas modalidades. A gente também realizava muitos eventos e fazia gestão de projetos. Mudei para o Rio e abri uma produtora de eventos, atuei com a Globo e MTV. Conheci o Sérgio Sá Leitão, ele no serviço público e eu na produtora e em 2015 ele me procurou e falou para abrirmos uma empresa em parceria com foco em gestão de conteúdo. Eu transformei a minha produtora na Escarlate, que é recente, mas é uma repaginação.
Como é essa divisão entre eventos e audiovisual?
Hoje 80% dos nossos projetos são de audiovisual. A Escarlate tem uma área de projetos e outra de experiências criativas, que são eventos. Mantemos um diálogo permanente com o mercado, de olhos nos eventos do Brasil e do mundo, identificando qual o parâmetro de desenvolvimento do mercado atual e depois criamos projetos que atendam demandas existentes.
Em relação a conteúdo audiovisual, estamos com 12 projetos contratados, mas outros em negociação, podendo chegar a 20. Temos hoje 90% dos nossos projetos em cinema, mas também criamos série, reality e outros. Desses 12 projetos já contratados temos parcerias com a Globo, Downtown, Paris Filmes, H2O e Fênix.
O Sérgio saiu da empresa para assumir a ANCINE, depois o Ministério da Cultura – MinC e eu assumi a empresa, mas o modelo de gestão foi criado junto a ele lá no começo e toco na mesma linha com autonomia total.
Como você enxerga o mercado de produção?
Não gosto de ser generalista. Vejo o mercado super aquecido e uma gestão da ANCINE muito focada em desenvolvimento e diálogo internacional para otimizar os mecanismos de desenvolvimento interno. Acredito num diálogo permanente, porque essa indústria não está fechada a um modelo só.
Você via antes 50 filmes anuais, hoje você tem 150. Ao mesmo tempo a bilheteria deu uma volta que ninguém tem mais controle, você tem de repente filmes com média de 300 mil bilhetes e chega um filme e faz 3 milhões, fica um mês em cartaz e você não entende o motivo. Não tem uma fórmula, mas o mercado está em desenvolvimento e a Escarlate é prova disso.
E o VOD?
A questão do VOD, não acredito que seja um problema, acho que ele vem para complementar porque você cria uma maior cultura de assistir cinema nacional, cria uma cultura de espectadores que sabem o que estão assistindo, que começam a identificar melhor os gêneros.
Quando você tinha cinema e TV aberta, tinha-se uma distância enorme entre uma coisa e outra. E aí os blockbusters e as franquias tinham mais visibilidade. Hoje com o VOD você tem acesso a qualquer conteúdo, então acho que só vem a somar não só com a questão do desenvolvimento de bilheteria e de acesso, mas também para o desenvolvimento da própria indústria.
E os mercados internacionais?
Hoje não tem como eu ser uma produtora de cinema brasileiro sem dialogar com o mercado europeu, latino-americano e norte-americano. O cinema brasileiro acredito que esteja mais integrado hoje e a indústria do audiovisual como um todo tende a estar mais integrada e recebendo em tempo real as inovações que acontecem no mundo. O melhor dos mundos é o Brasil conseguir alcançar uma posição muito concreta no desenvolvimento de diálogo. Estamos caminhando para isso. Temos capacidade técnica, operacional, financeira, de consumo, de espectador e de cultura. E não tem como não aproveitar.
Quais são os principais gargalos e dificuldades para a produtora?
Como a produtora é nova, mas nasceu grande, temos um modelo de parceria, de rede de coprodução em que conseguimos desenvolver vários projetos ao mesmo tempo com equipes de produções associadas.
Mas, o nosso gargalo está no processo burocrático, de captação e investimento, que nem sempre chega em tempo de produção. Para diminuir isso, buscamos participações societárias, investidores, criando um fluxo de projetos.
Temos dificuldade também hoje com roteiristas no Brasil. Tem vários projetos de formação de roteiristas e eu adoro, incentivo, inclusive de contratar roteiristas assistentes para escrever junto para adquirir experiências e conseguirmos formar profissionais que atendem à demanda de produção, que cresceu muito.
E você, enquanto profissional e mulher, em uma posição de liderança à frente da Escarlate, como foi a sua trajetória até o momento?
Eu sou produtora desde que nasci porque meu pai é músico e cresci em Brasília. Sempre estive envolvida com esse meio (cinema, música). Comecei no Circo, que é uma estrutura completa de entretenimento, tem a parte de infraestrutura, artística, pessoal, gestão, bilheteria, divulgação. É um ambiente que requer um esforço físico enorme, que teoricamente seria um ambiente mais masculino, mas você tem mulheres muito fortes no Circo.
Quando eu dava aula de aéreo eu pegava muito homem forte que não conseguia subir em um tecido e em um trapézio. O Brasil ainda carrega um estigma de um país machista, não temos como negar isso, mas não sinto o mercado fechado, por existir esse estigma temos que estar o tempo todo lembrando e não deixando brecha, mas eu não tenho dificuldades como produtora.
Nosso próximo filme tem diversidade, mas isso não pode estar relacionado só a cumprir cota. Que a diversidade esteja relacionada à diversidade dos profissionais e não só à Cota. Esse é o caminho. Sinto comportamento machista cada vez menos presente e cada vez mais monitorado. Sou contra patrulha e nicho, mas entendo que a diversidade tem que atender uma liberdade de fato. Tem que se tornar um princípio básico de respeito.
Como você vê o posicionamento feminino nos cargos de maior responsabilidade dentro do mercado de produção?
A Escarlate tem uma historia engraçada, foi aberta por um homem e uma mulher. Eu tinha muitas reuniões com homens, ainda tenho, só que em dois anos isso mudou e radicalmente e de forma orgânica, a Escarlate é uma empresa hoje de cinco mulheres e eu não escolhi isso, foi orgânico, natural. Isso se equilibrou, quando vou aos estúdios, tenho cada vez mais reuniões com mulheres e em cargos de diretoria, o que há um ano atrás não acontecia tanto. O mercado está se transformando. A maioria dos CEOs são homens, mas você vê uma diretoria executiva muito feminina também, acho que é uma questão de tempo.
Como você avalia esse tempo, ainda que curto, da existência da produtora?
Muito intenso. A Escarlate é uma repaginada de uma empresa que já existia, então mudar o foco até fechou algumas portas, entramos em um mercado novo, um modelo de gestão novo. É muito intenso porque foi planejado assim. Antes de lançar a empresa, a gente trabalhou muito para lançar uma carteira sólida, que tivesse aderência e potenciais investidores. A experiência anterior e a saída do Sérgio e a entrada da Melissa, agregou valor. Depois de dois anos e meio, estamos pensando em um novo trabalho.
Hoje entendemos as lacunas da empresa, o quanto podemos crescer e estamos em um desenvolvimento cinco anos à frente. Se você consegue alinhar o desenvolvimento do audiovisual com um bom network, você consegue crescer rápido sem grandes riscos. Estamos crescendo organicamente.
Dos 12 projetos, quais que você pode comentar?
Entramos no set agora com a Suzana Pires com De Perto Ela Não é Normal, que é uma montagem da peça da Suzana que está há dez anos em cartaz, já levou mais de 10 mil espectadores para o teatro e a gente está já há dois anos no projeto, em parceria com a Globo, e a H2O. A Cininha de Paula vai dirigir, a Suzana vai fazer três personagens. Temos elenco de fora e esse é o projeto mais intenso nesse momento.
Em paralelo estamos trabalhando o roteiro de Celso Daniel, que é uma história muito complexa e muito interessante porque todo mundo olha para a adrenalina superficial, mas quando você entra nos meandros dessa história, você identifica uma riqueza de personagens, vai vendo que mexeu com a historia do País, mas também com famílias, pessoas, sociedade, cada um tem um ponto de vista interessante. O Marcos Jorge vai dirigir. É uma parceria com a Downtown.
Temos também um projeto com a Fênix de um diretor estreante que trabalha a história de um menino que quer ir muito para a escola e vive na favela, e começa a perceber que pelo ambiente ele pode ou não ir e isso mexe com a questão da educação, diferenças sociais.
Há também o projeto do Sequestro do Voo 375, que foi inspiração para o 11 de setembro, depois que descobriram um recorte de uma matéria documentos da Al Caeda. É um projeto com a Paris Filmes. Ele queria atirar no palácio do planalto porque perdeu tudo na inflação. Mostra as contradições do vilão e o relacionamento com os passageiros.