Série produzida pela Uzumaki com Drauzio Varella mostra a realidade da saúde de refugiados no Líbano

Conhecido por falar sobre a saúde no Brasil e os impactos na sociedade, o médico Drauzio Varella estreia uma nova série no MOV, plataforma e produtora de vídeos do UOL, intitulada “Drauzio em Campo: Líbano e Jordânia”, em que mostra as consequências da guerra para 1,5 milhão de sírios que vivem em campos de refugiados. A convite da organização internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF), Drauzio conheceu de perto as dificuldades das vítimas da guerra e o trabalho desses profissionais.

Em três episódios, a série aborda desde as dificuldades das famílias alocadas na região até situações de vulnerabilidade na saúde e as mutilações causadas pelos conflitos.

Com produção da Uzumaki Comunicação e realização do MOV, ao longo de 10 dias, o dr. Drauzio, juntamente com o Diretor de Audiovisual Newman Costa e a Diretora de Fotografia Gislaine Miyono, foram até a região libanesa do vale do Bekaa, no campo de refugiados de Abu Farris, que acolhe cerca de 280 famílias (formada por 8 a 9 pessoas). Também passaram pelas localidades de Majdal Anjar, Arsal e visitaram um hospital de MSF em Amã, na Jordânia, especializado em cirurgias reconstrutivas para vítimas de conflitos armados.  Muitos pacientes chegam ao hospital anos depois de terem sido feridos, após terem sido submetidos a tratamentos frustrados e com infecções graves.

Sob a ótica da direção, Newman Costa explica que houve o cuidado de colocar três elementos principais em ação: os refugiados como personagem principal, MSF como especialista e o dr. Drauzio como comunicador-médico. “As histórias de vida dos refugiados conduziram a narrativa de toda série. Encontramos relatos muito tristes de pessoas que não têm para onde ir e nem a perspectiva de até quando podem ficar. Entre tantos fatos, o mais chocante foi ver a quantidade de crianças mutiladas no hospital de reconstrução em Amã”, explica.

Fazer gravações e entrevistas nessa região não foi tarefa fácil e necessitou de uma produção diferente. A equipe teve de se adaptar às restrições de segurança presentes nos contextos em que MSF atua, trabalhando em uma área que até pouco tempo era dominada por grupos extremistas. Também foi necessário respeitar sempre a necessidade de priorizar o atendimento aos pacientes. Ter pouco tempo para gravar em locações que não tivemos acesso prévio, em que as pessoas falam uma língua que não dominamos faz com que não tenhamos tanto controle das situações e nos coloca mais como observadores de uma situação que é pouco divulgada. Tecnicamente éramos uma equipe reduzida, mas acredito que a limitação foi o grande desafio para captarmos as histórias da melhor maneira possível“, destaca a diretora de fotografia Gislaine Miyono.

Devido ao conflito Sírio, iniciado em 2011, os diversos bombardeios aéreos e ataques terrestres à população civil provocaram a fuga de milhares de famílias para o Líbano. O país tem cerca de 4,5 milhões de habitantes e abriga pelo menos 1,5 milhão de refugiados sírios. Desta forma, tornou-se o país do mundo com o maior número de refugiados per capita.

Na série, Drauzio Varella comenta que o refugiado sobrevive em terra estrangeira numa luta diária pelas necessidades básicas, carrega nas costas o peso de tudo que deixou para trás, tem diante dos olhos a incerteza do futuro e a vontade de voltar para um lar que já não existe.

O que mais me impressionou nessa experiência com a organização Médicos Sem Fronteiras foi sentir bem de perto a complexidade da situação política, dos interesses financeiros, da formação de grupos antagônicos nessa região que se refletem nas guerras e, as consequências que essas guerras têm sobre a população que é obrigada a se refugiar em outros países nas piores condições possíveis, vivendo em tendas. É uma experiência muito tocante”, revela o dr. Drauzio.

Para que a produção pudesse ser realizada, a equipe Uzumaki e o dr. Drauzio tiveram todo apoio da equipe de comunicação de MSF no Brasil, que os acompanhou durante as gravações, e também do suporte de equipes médicas e de comunicação de MSF in loco.

MSF é uma organização humanitária internacional criada por médicos e jornalistas em 1971 e que leva cuidados de saúde para pessoas afetadas por conflitos armados, desastres naturais, epidemias e desnutrição. No Líbano, MSF mantém 13 clínicas que oferecem atendimento nas áreas de doenças crônicas, obstetrícia, pediatria, planejamento familiar e saúde mental.

Alta taxa de natalidade entre refugiados sírios

Em Majdal Anjar, a 50 km de Beirute, a maioria dos atendimentos são para casos de diabetes gestacional tipo 1 e 2, hipertensão e doenças cardiovasculares, hipertireoidismo, asma, DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica) e epilepsia.

Já em Arsal, cidade a 80 km de Majdal Anjar, além do atendimento de doenças crônicas, a unidade MSF oferece serviços de pediatria e obstetrícia onde são realizados entre 70 a 85 partos mensalmente. A média de filhos entre as famílias de refugiados é de 6 crianças, podendo chegar até 14 por família.

Todos os serviços oferecidos nos projetos de MSF são gratuitos, inclusive anticoncepcionais para o planejamento familiar. A realidade testemunhada pelo médico brasileiro nos contextos visitados no Líbano foi de que a decisão final sobre o uso de contraceptivos, assim como sobre o método escolhido, geralmente é do homem, não da mulher. Em um dos episódios, Drauzio Varella pergunta a uma obstetriz de MSF por que ela acha que as famílias continuam tendo tantos filhos, sendo que não possuem nenhuma perspectiva de futuro. Segundo a profissional, “eles acreditam que como perdem muitos familiares, ter filhos é uma maneira de substitui-los”.

 

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