CineBH: Mostra Diálogos Históricos debateu produções brasileiras de 1979

Depois de três dias de encontros, a mostra Diálogos Históricos foi concluída neste sábado, dia 21 de setembro, na 13ª CineBH, com a exibição do longa “Maldita Coincidência”, de Sérgio Bianchi. Em seguida, o pesquisador e conservador-chefe do MAM-RJ, Hernani Heffner, debateu o filme com o público do Cine Humberto Mauro.

Na quinta e na sexta-feira, Heffner analisou os outros títulos escolhidos para este ano, “República dos Assassinos”, de Miguel Faria Jr, e “Inquietações de uma Mulher Casada”, de Alberto Salvá. Em comum, são todos filmes lançados há exatas quatro décadas, refletindo o mal-estar e desconforto de um país prestes a sair de um regime militar de mais de vinte anos.

“Todos esses trabalhos permitem aproximações de contexto histórico e social em comum, e o que mais os conecta é a percepção do fracasso da esquerda no período pós-1964”, afirma Heffner. “Temos personagens em completa letargia, presos num entorpecimento que muitas vezes os leva ao desespero”.

Essa paralisia, na visão do pesquisador, não significa passividade, conforme pôde ser visto no desfecho dos filmes, em especial em “República dos Assassinos” e “Inquietações de uma Mulher Casada”, nos quais determinadas personagens tomam atitudes que alteram o curso de uma história maior. “Apesar de serem ações individuais dentro da narrativa, o que move as protagonistas ganha contornos coletivos e amplos por insinuarem outros rumos a elas, seja simbolicamente acabando com a ditadura ao matar o chefe do Esquadrão da Morte, no filme do Faria Jr, seja indo embora na busca por outras formas de viver, como vemos no Salvá”, avalia Heffner.

A participação do público na mostra Diálogos Históricos foi expressiva e se manteve constante ao longo das três tardes. Entre jornalistas, críticos e cinéfilos, todos acompanharam atentamente as sessões e a posterior explanação de Hernani Heffner. Entre perguntas e ponderações, todos expuseram suas ideias, compartilhando o debate e ampliando as percepções.

Um dos curadores da 13ª CineBH, Francis Vogner dos Reis, celebrou a presença de tantos interessados. Para ele, um dos motivadores de um recorte como esse dentro de programação tão vasta como a da Mostra é justamente construir novas pontes entre filmes do passado e as ideias de um cinema do presente. “Olhar para esses títulos, tão pouco falados dentro de uma historiografia mais tradicional de cinema brasileiro, com o ponto de vista de hoje, é entender em que universo eles se inseriam e como respondiam a um processo cultural e político do qual faziam parte. Trazê-los para os olhares de agora e perceber como ainda reverberam e se atualizam, diante de um estado de mundo de 40 anos depois, acaba por ser um exercício muito estimulante”, comenta Francis.

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