“Estamos em momento de governantes inimigos da imaginação”, afirma curador da Mostra de Tiradentes

No sábado, 25 de janeiro, os profissionais responsáveis pela curadoria da 23ª Mostra de Cinema de Tiradentes apresentaram sua perspectiva da temática-chave “A Imaginação como Potência” durante debate. Foram eles: Camila Vieira, do Ceará; Lila Foster, do Distrito Federal; Pedro Maciel Guimarães, de São Paulo; e Tatiana Carvalho Costa, de Minas Gerais; além do mediador e coordenador curatorial do evento, Francis Vogner dos Reis, também de São Paulo.

Segundo o próprio Francis, a ideia de uma temática tão ampla é que ela pudesse dar conta de uma série de assuntos e obras distintos, que representam ou repensam o mundo de maneiras que não correspondem imediatamente à realidade – que seria capaz de permitir a imaginação de outras realidades possíveis e existentes, expandindo a compreensão do País. “Estamos em um momento histórico de governantes que são inimigos da imaginação, mas isso não é de agora. A censura não apareceu agora, vem desde Padre Anchieta e Nelson Rodrigues. Há (hoje) uma guerra cultural. Mas como vamos reagir a isso? Há uma luta no campo simbólico, onde vemos pessoas como Roberto Alvim usando (texto de) Goebbels”, declarou na abertura do primeiro debate do evento.

Para Lila, nesse contexto, a Mostra de Tiradentes tem vivido um alargamento da experiência do que é cinema, partindo de mudanças internas também ao, por exemplo, em 2016 ter a profissional como a única mulher na curadoria e em 2020 ter mulheres como maioria nessa equipe. Além disso, ela apontou como a temática central do encontro busca apresentar caminhos estéticos, fabulações e distopias – uma exploração da imaginação.

Dentro das expansões da experiência e de realidades, Tatiana criticou a proposição governamental atual de “personagem universal com pretensão de certeza, presa na figura do homem branco, e da ficção histórica do negro com subalternidade”, que não seria capaz de representar a pluralidade do mundo e do País. Assim, a Mostra de Tiradentes comemora que neste ano os marcadores de gênero e raça do evento demonstram uma busca pelo plural e pela representatividade: por exemplo, só da Mostra Foco, 70% da direção das obras conta com pessoas negras. “Isso não é ruptura, é expansão”, disse Tatiana.

Camila, por sua vez, complementou os números citados com a mudança de 2019 para 2020 em alguns pontos: entre os 81 curtas apresentados em 2020, houve 29 pessoas autodeclaradas negras contra 18 em 2019 e foram 2 pessoas autodeclaradas indígenas contra 0 no ano passado.

Acreditando no potencial de tantas obras e pessoas, Pedro Maciel afirmou que agora o desafio dos curadores, do evento e de todos os presentes é “fazer com que os filmes que estão aqui furem a bolha [desta Mostra]” para que essas possibilidades cheguem a mais pessoas.

Confira a matéria sobre a abertura e homenagem realizadas pela 23ª Mostra de Cinema de Tiradentes, organizada pela Universo Produção.

 

* A Equipe Prodview viajou a Tiradentes (MG) a convite da organização do evento, assim como outros veículos de imprensa nacionais.

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