Especial: Criadores de streaming nacional propõem atenção especial ao conteúdo audiovisual para infância

Ainda neste ano, foi lançada a iniciativa Veoveo.com.br com o objetivo de apoiar a formação infantil com cursos e workshops sobre conteúdos audiovisuais infantis, bem como com artigos e reflexões sobre o tema e uma plataforma de streaming, Veoveoplay. Em meio a um momento em que conteúdos online ganham ainda mais força, o Prodview entrevistou os realizadores da plataforma sobre o processo de criação, negócio e propósito da iniciativa, que conta com site em Português e Espanhol.

Confira abaixo a entrevista na íntegra com Renato Nery e Vicky Romano sobre a proposta da plataforma. Abaixo da entrevista é possível também saber um pouco mais sobre os realizadores.

 

Prodview – Como surgiu a ideia de criar a plataforma VeoVeo? 

Vicky Romano – Surgiu naturalmente depois de observar em diferentes momentos, não só profissionalmente, mas também como mãe, a grande oferta de conteúdos audiovisuais para as crianças não só nos momentos de lazer ou dentro de casa, mas também em outros espaços que as crianças geralmente frequentam como na escola com os colegas, com as famílias etc. Percebemos um consumo compulsivo e desatento enquanto fazem outras atividades como jantar, almoçar ou até estudar, com muitos dispositivos disponíveis para acessar algum filme, seriado ou produção audiovisual. Então, a partir dessa análise, pensamos em ajudar a responder algumas questões ligadas ao consumo e os hábitos de consumo das crianças, das menores até os adolescentes. Quanto tempo, desse que eles são expostos ou se expõem às telas, é compartilhado com um adulto que está engajado no que a criança está assistindo? Como é esse processo de escolha de um conteúdo? Existem critérios, quais são? Existe mediação com a criança? O que acontece depois de assistir juntos? Essas entre outras perguntas fizeram e fazem parte da criação e cotidiano da plataforma. 

– Por que criar uma plataforma de streaming para este nicho? Como se destacar em meio à oferta atual?

Renato Nery – A plataforma foi um desdobramento de um curso em que ajudamos adultos, sejam eles pais, mães e/ou professores, a se relacionarem melhor com este universo. No curso, além de alertarmos para o problema, damos algumas dicas e estratégias de como, o que, se é adequado ou não, e como dar limites na questão do consumo de conteúdo. Nesse sentido, um repertório pode ser apresentado às crianças, os adultos podem tomar as rédeas da formação subjetiva da criança – formá-la para a diversidade. A plataforma apresenta, neste momento, curtas dos mais diversos lugares do mundo e com as mais diversas abordagens que apresentem questões pertinentes à formação infantil. A série de curtas está organizada em uma evolução de temas e conflitos dos quais podem servir de insumo para conversas com as crianças. Acredito que a plataforma se destaca pela sua curadoria e pelo seu entorno, os cursos, os textos e as dicas. Agora, ganhar atenção é um desafio. Estamos propondo um olhar específico e que exige um pouco de trabalho. As plataformas que estão por aí dão respostas mais fáceis, em quantidade principalmente. Assim, temos um desafio, queremos encontrar nosso público, que possui esses mesmos dilemas e preocupação. 

– Quais as principais dificuldades e oportunidades que tiveram em suas carreiras, individualmente? 

Vicky – Eu tive a possibilidade de romper os preconceitos próprios e de outras pessoas (família e amigos) sobre o cinema e a relação com uma carreira profissional. As pessoas se preocupavam demais sobre qual seria a minha área de trabalho específica. Aos poucos tive a oportunidade de ir fazendo um caminho profissional que me levou até onde estou hoje. Conheci muitas pessoas que me ensinaram, compartilharam conhecimentos comigo, me deram oportunidades de trabalho etc. 

Renato – Quando comecei no audiovisual em 2001, tudo era muito restrito e incipiente. O que hoje chamamos de mercado naquela época não existia. Não era claro qual o caminho que deveríamos percorrer. Hoje, graças às políticas públicas de desenvolvimento, o setor cresceu e as oportunidades também. Na época me aventurei um pouco na produção independente e logo fui para a criação de boa parte dessas políticas de desenvolvimento. Considero a plataforma VeoVeo um projeto de sonho, no qual misturo uma paixão, os conteúdos infantis, e bastante experiência de mercado. 

– Como pensaram o modelo de negócio? 

Renato – O modelo neste momento é de revenue share, no qual oferecemos uma participação para as distribuidoras e detentores dos direitos dos filmes, um percentual do conjunto das assinaturas. No futuro devemos incrementar com outros modelos também. 

– Por que a escolha do público infantil? 

Renato – Penso que este é o público mais importante para ser trabalhado do ponto de vista de melhoria da cidadania. As crianças são abertas e plurais, no entanto, podem passar por uma infância bitolada e chata, sem um repertório que estimule o ser do ponto de vista da investigação. Existem muitos conteúdos que são mais do mesmo, que não exploram nem conteúdo, nem formato.

Vicky – Para nós é um estímulo e um desafio pesquisar, selecionar e escolher conteúdos relevantes para crianças porque acreditamos que é nesta etapa da vida em que as crianças devem se olhar nas telas, sentirem-se representadas e conseguirem se interessar por coisas e questões que muitas vezes são deixadas de lado especialmente por esta ausência de diversidade e representatividade. 

– Quais oficinas e outros conteúdos pretendem lançar? Podem dizer qual será a próxima novidade da Veoveo ou calendário de lançamentos? 

Renato – Temos em nosso repertório essa oficina de “O que ver com as crianças“, na qual devemos criar alguns módulos maiores, menores e online. Também estamos postando vídeos com dicas do que assistir para além do Veoveo. Continuaremos buscando novos conteúdos para lançar neste ano e, depois do primeiro ano de atuação, deveremos preparar um pacote de novidades. 

– Qual o tamanho do catálogo atual da plataforma e sua previsão em um ano? 

Ambos – Hoje temos 32 curtas na plataforma e devemos ter mais 28 para chegarmos com mais ou menos uns 60 conteúdos ao fim do ano. Nosso foco não é quantidade, mas sim dar acesso a filmes relevantes. Como vamos separando os curtas em ordem de maturidade de recepção, a ideia é que cada idade tenha um bom repertório de filmes. Esperamos que gostem dos filmes e encontrar nossa audiência atenta à formação de nossas crianças. 

 

Sobre Renato Nery e Vicky Romano: Renato Nery atua desde 2015 na diretoria de inovação, Criatividade e Acesso da Spcine e colaborou na implantação da política audiovisual para a cidade de São Paulo. Vicky Romano, por sua vez, é produtora e curadora do Festival Latino-Americano de Cinema de São Paulo desde 2017 e, desde 2019, trabalha como agente de vendas da distribuidora de documentários Taturana Mobilização Social.

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