Começa o V FÓRUM MOSTRA com o tema Política, Mercado e Criação. Veja a programação
Pelo quinto ano consecutivo, a Mostra Internacional de Cinema em São Paulo realiza, em parceria com o Itaú Cultural, o Fórum Mostra, um espaço voltado às discussões sobre os aspectos políticos, econômicos e criativos no cinema.
Em 2021, o Fórum acontecerá ainda de forma virtual, dadas as restrições impostas pela pandemia, e será transmitido pelo canal da Mostra no YouTube nos dias 27, 28 e 29, com mesas sendo realizadas em dois horários: às 11h e às 15h.
No primeiro dia, os debates estarão centrados nos impactos da pandemia sobre o audiovisual, tanto em termos de linguagem quanto em termos mercadológicos. Enquanto a mesa de abertura, “Novas Telas, Novas Regras”, vai tratar da revolução do streaming, abordando, inclusive, as questões regulatórias que envolvem o setor, o segundo debate, “Ainda É Tudo Cinema?”, vai explorar as mudanças que a pandemia imprimiu à própria linguagem cinematográfica.
As novidades trazidas pelo on-line e a tendência das linguagens híbridas —algo que a pandemia não criou, mas aprofundou— estarão presentes também no segundo dia do Fórum. Na mesa “A Realidade Animada”, os diretores de Meu Tio José, Bob Cuspe – Nós Não Gostamos de Gente e Arquipélago, três animações selecionadas para a 45ª Mostra, falarão sobre o porquê de a animação vir se mostrando um recurso tão atrativo para artistas que desejam abordar temas de fundo político ou potencial crítico.
Ainda no terreno do hibridismo, o Fórum se abre para outras manifestações culturais na tentativa de entender como o presencial e o on-line devem, ou não, conviver nos anos que se seguirão.
Partindo das experiências de alguns eventos e instituições, a mesa “O On-line Veio para Ficar?” falará dos desafios e das possibilidades que a pandemia colocou para a relação entre a cultura e o público e do quanto a natureza de algumas manifestações culturais pode ter sido para sempre alterada —tendendo, em muitos casos, a incorporar a linguagem audiovisual.
O último dia do Fórum, por sua vez, será dedicado aos aspectos políticos da cultura. O debate “Política Audiovisual: Impasses e Saídas” reunirá os responsáveis pelas políticas do setor nos âmbitos municipal, estadual e federal para pensar o futuro da relação entre cinema e Estado, impactada não só pela crise das finanças públicas, mas pela própria reconfiguração do mercado.
O tema cultura e Estado terá prosseguimento na mesa de encerramento do Fórum, “Cultura, Estado e Burocracia”, na qual se procurará olhar para os graves impasses que atingem o setor não apenas com o objetivo de diagnosticá-los, mas de entender o que, da atual crise, pode servir de aprendizado para o futuro.
Também em consonância com o todo desta edição, o Fórum aposta na relação entre literatura e cinema e mais uma vez tem em sua programação o pitching on-line de livros Da Palavra a Imagem, que acontece no dia 1o de novembro, e que colocará, frente a frente, editoras de livros e produtores de cinema.
Dia 27/10
11H: NOVAS TELAS, NOVAS REGRAS
O último ano e meio, que deixou as salas de cinema fechadas em parte do tempo e manteve as pessoas em casa, acelerou de forma significativa mudanças que já estavam em curso no campo audiovisual.
No Brasil, desde que a pandemia começou, as plataformas existentes expandiram a base de assinantes e outras desembarcaram por aqui. Diante de tantas novidades, o setor se pergunta: como esse novo ambiente será regulado?
As dúvidas incluem desde a forma adequada de tributação das plataformas até a exigências de cota de programação brasileira e passam por questões ainda mais amplas, como os limites da propriedade cruzada entre os grandes players.
Participantes: Andressa Pappas (Motion Picture Association), Marcelo Bechara (Grupo Globo), Felipe Lopes (Vitrine Filmes
Mediação: Ana Paula Sousa, coordenadora do Fórum Mostra
15H: AINDA É TUDO CINEMA?
A pandemia, além de ter acelerado as mudanças estruturais no mercado audiovisual, impôs novos desafios na forma de se fazer cinema e, curiosamente, aproximou cinema e teatro – fazendo com que uma arte virasse um pouco a outra.
Ao mesmo tempo em que o teatro se viu obrigado a fazer experiências em vídeo, os filmes recuperaram elementos do teatro para se tornarem possíveis. Alguns dos filmes selecionados para a 45ª Mostra são resultado de processos criativos desencadeados pelo isolamento social.
Enquanto Caco Ciocler resolveu filmar por meio do Zoom, Andrea Beltrão foi ao Teatro Poeira fazer um longa-metragem sobre a impossibilidade de encenar Antígona e Miguel Gomes brinca com a linguagem para mostrar o que é filmar na pandemia.
Participantes: Andréa Beltrão (atriz), Caco Ciocler (ator e diretor), Luís Urbano (produtor)
Mediação: Guilherme Genestreti, editor-adjunto de Cultura da Folha de S. Paulo
Dia 28/10
11H: A REALIDADE ANIMADA
Assim como as fronteiras entre ficção e documentário foram ficando cada mais borradas, aquelas entre a animação e a realidade também foram se diluindo. Por que, numa era na qual o real é registrado de forma abundante, a animação é um recurso tão atrativo para se substituir as imagens realistas ou para tratar de temas de fundo político ou potencial crítico?
Para tentar responder a essa questão, esta mesa reúne três realizadores brasileiros com filmes selecionados para a 45ª Mostra.
Meu Tio José usa a animação para retratar o atentado contra José, um ex-integrante de um grupo político de esquerda de Salvador (BA), no início da década de 1980; em Bob Cuspe – Nós Não Gostamos de Gente, que ganhou o Festival de Annecy, o personagem-título encontra seu criador, Angeli; e Tarsilinha, uma produção voltada ao público infantojuvenil, tem como inspiração a obra de Tarsila do Amaral.
Participantes: Celia Catunda (cineasta), Cesar Cabral (cineasta), Ducca Rios (cineasta)
Mediação: Helen Beltrame Linné, roteirista e consultora de roteiro
15H: O ONLINE VEIO PARA FICAR?
No começo da pandemia, foi o vazio. Depois, veio o online. Aos poucos, foi se desenhando o híbrido. E agora, com as atividades culturais autorizadas a acontecer de forma novamente presencial, um modelo que ninguém ainda sabe ao certo qual será vai se desenhando.
Partindo das experiências de alguns eventos e instituições, esta mesa falará dos desafios e das possibilidades que a pandemia colocou para a relação entre a cultura e o público e do quanto a natureza de algumas manifestações culturais pode ter sido para sempre alterada.
Da mesma forma que possibilitou o contato com outras audiências, o virtual não afastou também o público? O híbrido é economicamente viável? Apesar de serem muitas perguntas, uma coisa parece certa: esse novo modelo tende, quase sempre, a incorporar a linguagem audiovisual.
Participantes: Fernanda Feitosa (diretora SP-Arte), Arthur Netrovski (diretor Osesp) Renata de Almeida (diretora Mostra)
Mediação: Ana Paula Sousa, coordenadora do Fórum Mostra
Dia 29/10
11H: CULTURA, ESTADO E BUROCRACIA
A cultura, no Brasil, sempre foi marcada pela presença estatal. Essa relação, que começa com a biblioteca trazida pela família real e se aprofunda na era Vargas, reflete a própria formação do Estado brasileiro, moldado por aquilo que o intelectual Raymundo Faoro chama de “patrimonialismo” e “estamento burocrático”.
Enredado nessa relação tanto por meio das leis de renúncia fiscal, que implicam numa relação formal com o Estado, quanto por meio do apoio direto, o setor cultural tem vivido, sob Bolsonaro, uma pressão política que tem a própria burocracia – representada pelas prestações de contas jamais analisadas e pelas cobranças do Tribunal de Contas da União – como algoz.
Quais são, para o futuro, as possibilidades de avanço nessa relação?
Participantes: Eduardo Saron (Itaú Cultural), Alfredo Manevy, Claudinéli Moreira Ramos
Mediação: Ana Paula Sousa, coordenadora do Fórum Mostra
15H: POLÍTICA E AUDIOVISUAL: IMPASSES E SAÍDAS
O início das políticas públicas de apoio ao cinema remete ao PósGuerra, na década de 1940. Desde então, mecanismos de proteção, como a cota de tela, e o financiamento público foram se tornando mundialmente aceitos como a única forma de se garantir a existência dos cinemas locais.
Passado quase um século desse início, as políticas públicas de apoio ao cinema se veem fortemente impactadas pela crise financeira dos Estados; pelo ataque de governos conservadores; pela reconfiguração que a tecnologia trouxe ao mercado; e até mesmo pelo seu cruzamento com outras pautas políticas, como a pauta identitária.
Diante desses novos contextos, qual deve ser, no Brasil, o futuro da política voltada aos filmes?
Participantes: Viviane Ferreira (diretora-presidente SPCine), Carlos Augusto Calil (professor e presidente Sociedade Amigos da Cinemateca Brasileira), Marcelo Ikeda (professor e pesquisador)
Mediação: Ana Paula Sousa, coordenadora do Fórum Mostra