25a MCT: Encontro sobre Cinema em Transição debateu presença de outras artes na realização audiovisual
Dentro da temática “Cinema em transição”, que está no centro das conversas desse ano na 25a Mostra de Cinema de Tiradentes, a mesa “Teatralidade e Performance: caminhos da ficção” aconteceu na tarde dessa quinta-feira, dia 27/1. Com a presença dos cineastas Felipe Bragança, Marina Meliande e Tiago Mata Machado e medição do curador Francis Vogner dos Reis, o encontro teve como estímulo os caminhos da ficção brasileira na última década e quais fabulações ainda são possíveis num mundo tão singular como o de hoje.
Entre diversos pontos tocados, chegou-se à percepção de que o hibridismo entre artes – com uma maior presença recentes das artes visuais, artes cênicas e performances na realização audiovisual – pode ser o combustível para um cinema brasileiro ainda pujante e inventivo. “Essa impureza faz muito bem ao cinema e é algo que ele sempre soube incorporar”, afirmou Tiago Mata, diretor de “O Quadrado de Joana” (2006) e “Os Residentes” (2010), filmes já exibidos na Mostra. O caráter coletivo da produção também foi exaltado por Tiago, que diz estar cada vez mais interessado em se afastar da ideia de uma única autoria. “O cinema não fecha em si mesmo e, por ser uma arte coletiva, ele sempre está sujeito às crises históricas, políticas e sociais. Como vivemos o grau zero da sociedade brasileira, ele está passando por mais essa crise”.
Para Marina Meliande, diretora de “A Fuga da Mulher-gorila” junto com Felipe Bragança (e filme vencedor da Mostra Aurora em 2009), um desafio tem sido “escapas dos algoritmos”, em referência ao modo mainstream de produção que se tornou praxe especialmente com a ascensão de grandes plataformas de streaming. “Como saímos disso pra gente ter a sensação de que está fazendo alguma coisa que de alguma forma questiona a própria forma de produção e de linguagem”, disse ela.
Felipe Bragança apontou que a ficção “é a fabulação de uma performance” e que não interessa a ele seguir a cartilha de que só se filma e se narra aquilo que se entende em profundidade. “Para falar de alguma coisa eu acredito que você precisa justamente ter a sensação de que não a conhece o suficiente e que o processo do filme é um processo de investigação e aproximação”, afirmou. “E creio que precisamos de um certo descontrole na feitura, em vez de seguir a massificação e o controle absoluto que se vê. O desafio é: onde ativar o descontrole?”.