25a MCT: Força estética dos espaços move cinema de uma nova geração em MG
O trabalho documental a partir da ficção ou a construção ficcional a partir do real: estes foram os pontos de partida de uma conversa sobre métodos de dramaturgia, personagens e espaços realizada na tarde dessa segunda-feira (dia 24/1) na 25a Mostra de Cinema de Tiradentes. Participaram os cineastas Clarissa Campolina, Luiz Pretti, Juliana Antunes e Samuel Marotta, com mediação da curadora Lila Foster. Todos e todas exibiram filmes nos últimos anos no evento e sempre levam para suas criações as questões levantas na conversa.
Em “Baronesa” (2017), ganhador da Mostra Aurora, o convívio entre as personagens foi algo extraído da convivência da diretora Juliana Antunes com as mulheres filmadas, em bairros e ambientes que ela se familiarizou especialmente para o filme. “É tudo ficção ali, menos a conversa das crianças e o tiroteio”, resumiu a cineasta, expondo que o processo se deveu justamente a estimular a performance das garotas em cena. Juliana ouvia conversas, participava e anotava e então orientava cenas que depois eram feitas e refeitas para a câmera. Ou seja, ocupar aquele espaço a ser filmado era fundamental para que ela conseguisse chegar aos efeitos que “Baronesa” explicita.
No caso de Clarissa Campolina, sua relação em “Notas Flanantes” (2009) se deu mais pela percepção de que ela não conhecia Belo Horizonte, sua cidade, como achava que devia. Diferente de outro filme seu, “Girimunho” (2011, codireção de Helvécio Marins Jr), em que a jornada de descoberta saía da cidade em direção ao interior profundo de Minas Gerais. No ‘Gimunho’ fomos descobrindo uma força para lidar com a ficção, com a narrativa, a partir da personagem (Bastu) e da história dos espaços onde a gente filmava”, contou ela.
Ricardo Pretti, radicado em Belo Horizonte, codirigiu com Clarissa Campolina “Enquanto Estamos Aqui” (2019), que registra o diário de viagens de duas pessoas em cenas filmadas em Nova York, Berlim e Brasil, numa epopeia de caráter mundial. Cada um desses locais foi preponderante para os encaminhamentos do filme, como explica Pretti: “Esse filme é representativo de uma relação que me interessa no cinema sobre os territórios onde a gente filma. O fato de estar num lugar que a gente não conhece acaba sendo um impulso, um desejo de jogarmos com aquele espaço. O espaço pra mim é sempre lugar de descoberta”.
Esse caráter de revelação também moveu Samuel Marotta na feitura de “Baixo Centro” (2018, codireção de Ewerton Belico), ao tentar dar às ruas de Belo Horizonte histórias e ficções que fossem além de só documentá-las. Algo similar aparece em seu trabalho mais recente, o curta “Ácaros” (2022), ensaio audiovisual em torno da relação entre cinema e ruínas. Marotta esteve numa sala de cinema desativada em Sete Lagoas (MG) e encontrou, lá, um espaço totalmente tomado por outros seres vivos (ratos, pombos, ácaros). “Talvez fosse isso mesmo, esse espaço não deveria estar ocupado por seres humanos”, reflete ele, que decidiu levar isso para o filme e compartilhar de visões ainda em construção sobre a natureza das geografias onde uma câmera pode circular.
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