25a MCT: “Os arquivos podem prever o futuro”, diz cineasta em debate
Entre as imagens de arquivo e os registros diretos, o que pode a imagem documental? Essa foi a questão central do debate “A imagética do documentário: arquivos e abordagem direta”, realizado na tarde de sábado (dia 22/1) na 25a Mostra de Tiradentes, com transmissão on-line. Reuniram-se as cineastas Marcela Borela, Fernanda Pessoa e Dácia Ibiapina e o cineasta Henrique Borela, que exibiram filmes em edições anteriores do evento e participam novamente esse ano dentro das celebrações dos 25 anos.
A mediadora e curadora do debate, Lila Foster, apontou que imagens de arquivo naturalmente ganham caráter de documento e testemunho de determinado momento histórico, o que já cria complexidades do arquivo e de suas ocasionais institucionalidades. “Lida-se com arquivos de várias naturezas, para além daquilo a que a gente chama de cinema, muitos deles também fora dos discursos dominantes e historiográficos”, disse ela.
Diretores de “Taego Ãwa” (2016), Marcela e Henrique Borela falaram sobre a trajetória das imagens resgatadas no filme, que mostram uma tribo indígena registrada em fitas VHS e a qual a dupla sai em busca para mostrar aquele material – descobrindo, assim, suas histórias. “Um conjunto de fitas foram encontradas pela gente na faculdade e, hora ou outra, estou sempre me lembrando de todo o processo, muito influenciado por coisas imateriais”, disse Marcela, descrevendo todo o caminho entre ver as imagens dos Ãwa e efetivamente lançar o filme.
No caso de Fernanda Pessoa, diretora de “Histórias que Nosso Cinema (não) Contava” (2017), seu encontro com a temática do filme – as pornochanchadas brasileiras dos anos 1970 – se deu inicialmente pela negação do material. “Eu não era fã daquilo, cheguei questionando o motivo daqueles filmes serem feitos”, relembrou ela.
Estudando e analisando, ela percebeu que parte da história brasileira estava sendo contada por meio daquelas histórias com erotismo, violência e insinuações de vários tipos. “A teórica Nicole Brenez fala que o arquivo às vezes prever o futuro, e isso pode ser visto no filme, pois nunca imaginei tudo que aconteceu na política brasileira desde 2012, quando comecei a fazer. O arquivo tem um aspecto visionário”.
Para Dácia Ibiapina, que fez “Entorno da Beleza” (2012) e “Ressurgentes, um Filme de Ação Direta” (2014), sua vontade era contrapor os discursos oficiais a imagens captadas no calor dos acontecimentos de movimentos sociais – e, em alguns casos, recontar a história sob o ponto de vista dos personagens diretamente envolvidos. “A captação daquilo que eu quero filmar é meu motor principal, mais que os arquivos”, diz ela, que de certa forma acaba criando seus próprios arquivos.