25a MCT: Tempos pandêmicos sob a ótica de longas e curtas-metragens
Em face do cenário atual, vários longas e curtas-metragens selecionados para compor a programação cinematográfica da 25ª Mostra de Cinema de Tiradentes, exploram em suas narrativas a pandemia da Covid -19 e seus desdobramentos. No caso dos longas, a assistente de curadoria, Maria Trika, revela que as produções exploram as possibilidades – e a falta delas – em meio ao contexto de confinamento e buscam investigar as consequências dessa conjuntura nos relacionamentos intra e interpessoais.
Assistente de curadoria de curtas, Rubens Fabrício Anzolim , afirma que nos curtas em que a pandemia é retratada, há exemplos de obras cuja pandemia fortalece o potencial de realização, levando estudantes e coletivos a moverem-se no sentido de forjar as obras a partir deste contexto. Já em outros casos, pode-se observar rotinas de grupos específicos da sociedade reagindo a este fenômeno. “Há também, os artistas que resolveram pegar este contexto específico e, a partir dele, forjar uma realidade nova, imbricando-se na ficção através da metáfora a estas situações e dilemas de saúde pública”, acrescenta Anzolim.
Longas-metragens
Dentro da Mostra Aurora, por exemplo, está a ficção “Seguindo todos os protocolos”, em pré-estreia mundial. O longa coloca o diretor-ator, Fábio Leal, no centro de uma trama de sobrevivência física e amorosa na pandemia, com um gesto que flerta com a autobiografia, sem deixar de também compor um registro do estado das coisas — do flerte, das relações, dos índices de contaminação da Covid-19, das paranoias pandêmicas.
Na Mostra Olhos Livres a temática da pandemia é explorada pelo documentário “O dia da posse”, do diretor Allan Ribeiro. O longa discorre sobre a história de Brendo Washington que sonha em ser presidente do Brasil. Enquanto esse dia não chega, Brendo estuda Direito, faz vídeos para as redes, sonha com novas conquistas e se imagina em um reality show, durante a pandemia.
Já a Mostra Temática traz o longa “Diário Dentro da Noite”, escrito, dirigido e protagonizado pelo ator Chico Díaz. O filme realizado durante a pandemia apresenta o espaço de intimidade do diretor com as pinturas que faz, os afazeres domésticos e o laboratório de seu personagem nas leituras e declamações dos textos.
Curtas-metragens
Os curtas-metragens que tratam da pandemia estão presentes nas Mostras Foco, Foco Minas, Jovem, Praça, Temática e Formação. Confira a lista abaixo:
Mostra Jovem: Realizado pelo coletivo Cidade Baixa, o curta “A Realidade Não Tira Férias” traz a volta às aulas de adolescentes que, em primeira pessoa, relatam seus cotidianos e sonhos atravessados pelos efeitos da pandemia e das desigualdades sociais em Salvador. “Ano 2020”, do coletivo Olhares (Im)Possíveis, reúne a energia e inventividade da quebrada, do funk e do “grau” num experimento documental sobre a rotina de adolescentes da periferia de Ouro Preto durante a quarentena.
Mostra Praça: “A Represa É meu Quintal”, dirigido por Bruna Carvalho Almeida, conta a história da velejadora Laís na tentativa de ser uma mulher negra a fazer história em sua região. No entanto, ela precisa enfrentar uma pandemia numa comunidade às margens do maior reservatório de água da Região Metropolitana de São Paulo. Montado com imagens do Google Maps e Earth, “Acesso”, de Julia Leite, traça uma cartografia afetiva de São Paulo a partir de lugares frequentados e rememorados por pessoas LGBTs, que falam sobre suas lembranças por meio de videoconferência.
Mostra Temática: “Centelha”, documentário vindo do Acre e dirigido por Renato Vallone, aborda o contexto pandêmico através do delírio de um homem que ritualiza e somatiza no corpo as dores da fome, do desespero, da história de um país abandonado à própria sorte. “Yãy Tu NũnãhãPayexop: Encontro de Pajés”, dirigido por Sueli Maxakali, abre um novo caminho em suas imagens através da frontalidade com que expõe um momento tão ímpar vivenciado pelas tribos indígenas aos olhos nus do espectador, intensificando o poder de seu discurso e reavaliando constantemente os códigos de um cinema que se apresenta em constante mudança e alteração.
Mostra Foco Minas: Filmado no início da pandemia, “Corre de marmita”, de Luiz Pretti& Philippe Urvoy, acompanha as ações comunitárias de um coletivo que prepara e distribui marmitas para pessoas em situação de rua no Centro de Belo Horizonte. A ficção “O Dia em que Helena matou o presidente”, de Fernanda Estevam, imagina uma mulher que deseja seguir com seu plano de matar o presidente, após um grande desastre. Já “Forrando a Vastidão”, de Higor Gomes, traz como protagonista uma senhora em treinamento e preparação para um momento importante no futuro.
Mostra Foco: “Iceberg”, do diretor Will Domingos, propõe pensar a realidade pandêmica através de outros códigos e, a partir do mal-estar que assombra uma cooperativa de costura para pessoas LGBT+, faz um comentário contundente sobre nosso tempo.
Mostra Formação: “Um certo mal-estar”, experimento visual realizado na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) por Tiago Calmon, apresenta uma breve e intensa representação visual da sensação de viver na incerteza midiática dos tempos pandêmicos.