16a CineBH – Documentário brasileiro se destaca por hibridismo e excelência estética
O debate sobre o documentário brasileiro no mercado internacional, realizado na quinta-feira (22/9) na programação do 13a Brasil CineMundi, reuniu um grupo de produtores e programadores especializados em selecionar filmes documentais em eventos mundiais de grande importância no cenário de exibição. O que ficou evidente – e já uma praxe em bate-papos dessa natureza – é o quanto os títulos brasileiros, especialmente da última década para agora, vêm se destacando por suas formas híbridas, ao utilizar métodos de ficção em abordagens documentais, e vice-versa.
Para Ana Alice de Morais, brasileira que trabalha na seleção do RIDM (Rencontres Internationales du Documentaire de Montréal), no Canadá, chegava a chamar atenção de curadores de outros países a quantidade substancial de filmes do Brasil que iam para exibição. “Não é mais segredo que o documentário brasileiro é um dos melhores do mundo e isso ficava muito evidente ao se olhar para os filmes”, disse ela, que inclusive tem colaboração direta nesse processo por ter produzido alguns títulos de repercussão mundial, como “Esse Amor que nos Consome” (Allan Ribeiro, 2012).
Programador do Museo Internazionale del Cinema, na Itália, Davide Oberto também destacou a qualidade estética e narrativa da produção documental contemporânea brasileira, concordando que sua maior diferença está na indefinição de suas fronteiras, o que resulta em filmes mais instigantes. Um ponto de virada nessa sua percepção, contou, foi assistir a “Nova Dubai” (Gustavo Vinagre, 2014) e se deparar com algo completamente imprevisível. Posteriormente Oberto foi confirmando suas impressões ao tomar contato com filmes como “Branco Sai Preto Fica” (Adirley Queirós, 2014) e “Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos” (Ricardo Alves Jr e João Salaviza, 2018).
A experiência de Luis González, diretor executivo do DocMontevideo/DocSP é de ter acompanhado a evolução de um mercado audiovisual brasileiro que foi crescendo a cada ano como um dos maiores da América Latina “e era muito bonito de ver”, exaltou. “Às vezes programávamos nossa mostra com dez filmes, com cinco sendo do Brasil, quase todos de novos realizadores. Isso falava de uma cinematografia de desenvolvimento com força e talento. Tomara que isso volte ao nível que poderia ter seguido se seus mecanismos de fomento não fossem interrompidos”.
Foi discurso comum entre todos os convidados do debate a urgência de se retomar políticas públicas de incentivo e desenvolvimento ao audiovisual brasileiro, um dos pilares da economia criativa que passa por dificuldades há quase quatro anos. Pedro Butcher, um dos colaboradores do Brasil CineMundi, chegou a relembrar como se deu a construção dessas políticas públicas desde o começo dos anos 2000 e o quanto é preciso reordenar a classe, diante dos atuais escombros, e se engajar num recomeço que se articule diante das forças políticas.