Cármen Lúcia disse que, apesar de vivermos num Estado em que as pessoas podem se deslocar para assistir a um filme ou a uma peça de teatro, ainda existem profundas desigualdades sociais no acesso cultural e frisou a necessidade de políticas públicas que garantam a todos os cidadãos o direito aos bens culturais.

“Eu venho de uma região muito rica culturalmente, mas com grandes dificuldades econômicas que limitam o acesso da população aos produtos culturais. É responsabilidade do Estado assegurar que a produção cultural seja acessível a todos, independentemente de sua localização ou condição socioeconômica. O dever do Estado é garantir que se produza, que se entenda e que se exiba aquilo que é produzido em benefício de todos,” disse ela. “A cultura brasileira é única e deve ser valorizada e difundida, proporcionando igualdade de oportunidades no acesso a teatros, livros e quaisquer outras formas de expressão artística”.

A ministra exaltou a importância da cultura como espaço de transgressão e questionamento, algo essencial no desenvolvimento humano e na resistência a políticas de cunho autoritário e ditatorial. “Quando acontece um golpe de Estado, a primeira coisa que é eliminada é a cultura. A pessoa que tem acesso aos bens culturais tem condições de ser mais livre. Os Titãs têm razão quando cantam que não queremos só comida, nós queremos comida, diversão e arte, nós queremos saída para qualquer parte”.

Em momentos de descontração, Cármen Lúcia relembrou a juventude em Minas, quando frequentava salas de cinema como espaço tanto de riqueza cultural quanto de convívio social. Brincou que “ia ao cinema para namorar” e arrancou risos da plateia. Contou que o pai exibia rolos de filmes para ela na sala de casa e deixava que vizinhos assistissem da janela, já que os filmes interessavam a todos.

Ao fim, na defesa dos direitos humanos e da arte como princípio constitucional e de formação íntima e pessoal, a ministra relembrou a fala de um antigo professor sobre as singularidades do ser humano. “Esse professor dizia que a onça não ‘desonça’, a zebra não ‘dezebra’, mas o humano se desumaniza. E a gente fala disso como se fosse natural alguém afastar-se de sua essência, como se fosse normal alguém sair e se exilar da sua humanidade. O que ainda reapruma o humano em si mesmo só a arte pode trazer. Todas as outras linguagens, de amor ou de ódio, são momentâneas. A única que é permanente é a que fala ao coração do homem na sua intensidade de luz”, disse.