19ª CineOP: Othelo, o Grande estreia em setembro e celebra a trajetória e legado de um dos maiores artistas brasileiros

Depois da première mundial no último Festival do Rio e de receber o prêmio de direção neste mesmo evento, o longa Othelo, o Grande teve sua estreia em Minas Gerais, estado da personagem principal, dentro da programação da 19ª CineOP, integrando a Mostra Contemporânea.

A Mostra tem como objetivo focar em produções de alta relevância para a educação e a preservação da história do cinema brasileiro e do próprio país. São produções que contribuem para debates e reflexões por meio da linguagem cinematográfica.

“Foram mais de 300 horas de material de pesquisa e são mais de 30 anos sem Grande Othelo. A vida e a obra do ator vivem hoje como síntese do cinema brasileiro e da história do país e do seu povo. Num espaço tão popular como são as praças, celebremos então esse gigante ator brasileiro”, disse a curadora Mariana Queen Nwabasili, na sessão do longa.

Dirigido por Lucas H. Rossi dos Santos e produzido por Ailton Franco Jr., a produção revela ao grande público e apresenta para as novas gerações as muitas facetas do artista.

“Foi um desafio enorme de montagem e também uma tentativa de decifrar sobre o que ele (Otelo) gostaria de ver na tela. Pra mim, o filme consegue contemplar um pouco o olhar dele sobre cinema, racismo, sobre sua própria trajetória e essa foi um pouco da lógica do filme”, conta o diretor.

Otelo trabalhou com cineastas como Orson Welles, Joaquim Pedro de Andrade, Werner Herzog, Júlio Bressane, Marcel Camus e Nelson Pereira dos Santos, entre tantos outros e usou esse espaço para moldar sua própria narrativa e discutir o racismo que o assombrou por oito décadas, duas ditaduras e mais de uma centena de filmes.

Narrado em primeira pessoa e utilizando imagens de arquivo, o filme é produzido pela Franco Filmes, em coprodução com Globo Filmes, GloboNews, Canal Brasil, RioFilme e Baraúna Filmes, e conta com distribuição da Livres Filmes.

O filme chega aos cinemas em setembro. Confira uma breve entrevista com o diretor:

 

De onde surgiu a ideia de fazer um filme sobre Othelo?

Quando eu era criança, tinha uma videolocadora perto de casa e eu gostava muito do Chaplin e meu pai pegou uma chanchada do Otelo e falou: você tem que assistir esse cara, que é o Chaplin brasileiro.

Depois, quando estava já estudando cinema, meu pai me apresentou para os filhos do Othelo, então começou uma relação com a família, de conviver juntos e fui pegando muita coisa que eles ouviram do pai e as coisas foram surgindo. O Othelo veio da infância e do contato que tive na minha formação.

 

E porque a escolha de fazer em primeira pessoa?

Othelo teve uma importância na formação da identidade do Brasil, ele participou de todos os movimentos e o legado dele é muito importante.

Quando escolhi fazer esse filme, queria que esse cara contasse a história dele, não queria fazer um filme estético, mas que de forma que daqui a 20 anos, alguém assistisse e visse o olhar dele. É para ele e não para mim.

Queria mostrar um Othelo que defende essa liderança.

A linguagem do filme tem como foco a abordagem do sujeito Sebastião por ele mesmo, em primeira pessoa. Negro, ator, umbandista, pai de cinco filhos e um homem cheio de feridas expostas ao lutar contra o racismo em uma vida marcada por tragédias desde a infância até a sua morte. Esse filme tem o objetivo de humanizar, desconstruir e desmistificar sua história com o humor típico de Grande Otelo.

 

E como você vê a contribuição do filme para as futuras gerações?

“Fazer um filme sobre Grande Otelo é, para mim, um movimento ancestral, visto que todos nós, negros que trabalhamos com arte no Brasil, seguimos seus rastros ao longo de nossos caminhos. Porém, seu nome anda esquecido no século XXI e completamente desconhecido para as novas gerações.

Ele foi um dos maiores artistas do Brasil e o primeiro ator negro conhecido nacional e internacionalmente. Sua carreira acompanhou o desenvolvimento cultural do país, participando de todos os grandes momentos: desde os cassinos, passando pelo cinema – das chanchadas ao Cinema Novo – e pegando todo o sucesso da televisão.

 

Comente um pouco sobre a escolha de fazer com material de arquivo.

A escolha de fazer um filme todo de material de arquivo e de colocar Otelo para contar sua própria história foi um gesto para deixá-lo conduzir sua própria narrativa e não deixar que ninguém interferisse nela. Foi difícil abrir mão de gerar mais signos e atmosferas de linguagem externas, mas isso fez com que o filme tivesse essencialmente a alma de seu protagonista e não que fosse um apenas registro estético e exótico sobre ele. E mais do que uma grande e necessária homenagem, este documentário é também uma releitura política sobre Otelo e um resgate histórico da memória deste ícone da cultura brasileira que, como sempre, proporcionou ao público negro brasileiro excelentes oportunidades para se reconhecer nas telas.

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