18a CineBH – Inversão de gênero e reflexões sociais: o cinema de Anna Muylaert no longa “O Clube das Mulheres de Negócios”
A 18ª edição da CineBH – Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte e o 15º Brasil CineMundi – Encontro Internacional de Coprodução começaram nesta terça-feira (24/9) e transformam a capital mineira no centro do cinema latino-americano e sede do maior ambiente de negócios audiovisuais do país.
Com programação gratuita, a mostra segue até 29/9, exibindo 110 filmes nacionais e internacionais em pré-estreias e mostras temáticas, de 15 países e 13 estados brasileiros, em 75 sessões distribuídas em 12 mostras temáticas.
A cineasta Anna Muylaert foi a escolhida para ser homenageada nesta edição do encontro.
Nascida em 1964 em São Paulo, é conhecida por abordar temas sociais e familiares com sensibilidade e crítica. Seus filmes, que misturam comédia e drama, ganharam popularidade, principalmente com “Que Horas Ela Volta?” em 2015.
Suas narrativas se destacam por sua uma visão humanista e atenção a questões de gênero, desigualdade social e dinâmicas familiares, criando personagens complexos e narrativas que ressoam universalmente.
Anna estreou na direção de longas com “Durval Discos” (2002) e “É Proibido Fumar” (2009), ambos premiados. Além do sucesso mundial “Que Horas Ela Volta?”, entre seus trabalhos estão: “Chamada a Cobrar” (2012) e o documentário “Alvorada” (2022). Seu filme mais recente, “O Clube das Mulheres de Negócios”, foi exibido no Festival de Gramado e agora teve pré-estreia nacional na CineBH.
O filme retrata a crise do patriarcado, ambientado em um mundo imaginário onde os estereótipos de gênero estão invertidos, ou seja, as mulheres ocupam as posições de poder enquanto os homens são criados para serem socialmente submissos. Questões como o machismo, o racismo, o classismo e a corrupção também estão presentes na narrativa.
O filme estreia nos cinemas em 28 de novembro.
A cineasta é uma figura importante no cinema brasileiro contemporâneo, combinando qualidade artística com temas relevantes, provocando reflexão e discussão.
Confira uma breve entrevista realizada na coletiva de imprensa da CineBH.
Como você lida com a pressão de repetir o sucesso de “Que Horas Ela Volta” e ao mesmo tempo a vontade de explorar novos caminhos criativos?
É um equilíbrio delicado. Por um lado, há uma expectativa do público e até minha de repetir o sucesso, mas também sinto uma necessidade de me libertar dessa repetição e buscar novas formas de expressão. Não há como repetir exatamente o que foi feito, então é importante encontrar novas histórias e abordagens.
Como as discussões globais sobre a invisibilidade das mulheres influenciaram seu novo trabalho?
Essas discussões foram fundamentais. Enquanto eu viajava com o filme “Que Horas Ela Volta”, percebi que a questão da invisibilidade e da dificuldade de reconhecimento das mulheres era um problema global. Isso me motivou a criar histórias que abordassem essas questões de forma mais direta e impactante, refletindo a realidade de muitas mulheres ao redor do mundo.
O que te inspirou a explorar a inversão de gênero e como você acredita que isso contribui para a discussão sobre igualdade de gênero?
A ideia de inversão de gênero surgiu como uma forma de destacar as diferenças e desigualdades de maneira mais visível. Ao trocar os papéis tradicionais, espero que o público possa ver com mais clareza as injustiças e desafios enfrentados pelas mulheres, promovendo uma reflexão mais profunda sobre esse assunto.
Como você equilibra diferentes temas e gêneros em seus filmes para criar uma narrativa rica e multifacetada?
Tento abordar os temas de forma que eles se complementem e se enriqueçam mutuamente. A mistura de gêneros, como comédia e política, permite que o filme tenha várias camadas de interpretação. Isso dá ao público a liberdade de escolher como entender e se conectar com a história, tornando a experiência mais pessoal e envolvente.
Quais são os desafios e responsabilidades que você enfrenta ao criar personagens femininas que fogem dos clichês tradicionais?
Sinto uma responsabilidade de representar mulheres de forma realista e empoderadora, mostrando suas lutas e conquistas sem recorrer a clichês. Isso exige uma abordagem cuidadosa e uma compreensão profunda das experiências femininas.