Cine BH traz como tema presença e a relevância internacional do cinema brasileiro e os seus desafios
A 13a CineBH – Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte, que ocorre entre os dias 17 e 22 de setembro na capital mineira, adota como tema “A internacionalização do cinema brasileiro e os desafios para o futuro”. A ideia é colocar em discussão a presença maciça da nossa produção no exterior e as suas contradições dentro do próprio país, onde está constantemente lutando para continuar existindo e se mostrar relevante diante de seu público. A temática foi pensada num ano especial, em que filmes como Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, e A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, de Karim Aïnouz, receberam prêmios importantes no último Festival de Cannes. A curadoria é assinada pelos críticos Francis Vogner dos Reis e Marcelo Miranda.
“O desempenho dos filmes brasileiros nos grandes festivais, tanto em recepção crítica, quanto em premiações, é fruto de quase duas décadas de investimento e diversificação de políticas públicas no desenvolvimento e na efetiva produção audiovisual no país”, aponta Francis Vogner. “Com esforço profissional e governamental para consolidar relações de coprodução e a estruturação de um circuito de festivais locais, com quase 200 eventos anuais que ajudaram a criar um campo de visibilidade de filmes independentes e de debates em torno dessa produção, o cinema brasileiro ganhou o país e o mundo”.
Atualmente, essa realidade passa pelo desafio de uma contingência política mais hostil, marcada pelo sucateamento ou extinção de políticas públicas de fomento e produção que atingem não só a realização de filmes, mas também a existência dos festivais e o investimento político nos contatos, promoção, parcerias e mediações diversas do cinema brasileiro com possíveis parceiros internacionais. O atual cenário, mais os riscos de que a Ancine (Agência Nacional de Cinema) seja extinta ou tenha sua atuação diminuída, acendeu o alerta na curadoria.
“O estímulo de colocar na mesa a internacionalização do cinema brasileiro veio do reconhecimento da presença e da importância dos filmes do país no mundo todo e o aumento das coproduções em nível mundial”, diz Marcelo Miranda. “A proposição dos desafios para o futuro é também a de reconhecer a fragilidade de um cenário sujeito às intempéries políticas. Como é possível, dadas as atuais circunstâncias, dar continuidade e ainda fortalecer nosso cinema?”.
Nas mesas, debates e exibição de filmes estarão em reflexão discussões centrais: quais as possibilidades para não só conservar o que foi construído, mas ainda não deixar que toda uma cadeia de produção e exibição – que constitui um patrimônio cultural, além de empregar centenas de profissionais e gerar riqueza relevante ao PIB do país – seja destruída? Como avançar com aquilo que vem sendo produzido e tão bem aceito planeta afora? Como equilibrar internacionalização e, ao mesmo tempo, legitimação do cinema brasileiro de prestígio em território nacional? Fortalecer essas duas ações estratégicas parece o grande desafio para construir um futuro que supere os constrangimentos históricos mais profundos do país.
HOMENAGEM À PRODUTORA MINEIRA FILMES DE PLÁSTICO
A partir da proposta de internacionalização do cinema brasileiro, a 13a CineBH vai homenagear a produtora mineira Filmes de Plástico, que completa uma década de atuação neste ano de 2019. Criada por André Novais Oliveira, Gabriel Martins, Maurílio Martins e Thiago Macêdo Correia, a empresa virou um “case” mundial ao se tornar uma das principais caras do cinema brasileiro em festivais e eventos internacionais. Isto se deve a uma constante e bem-sucedida presença de trabalhos do grupo em grandes circuitos de exibição desde 2013, quando o curta-metragem “Pouco Mais de um Mês”, de André Novais e exibido na Mostra de Cinema de Tiradentes, foi selecionado para a seção Quinzena dos Realizadores, no Festival de Cannes.
“A Filmes de Plástico é hoje a ‘marca’ mineira mais recorrente nos festivais mundiais e uma das mais vinculadas ao Brasil. Cannes, Roterdã, FID-Marseille, Santa Maria da Feira e Locarno são só alguns dos principais lugares onde a produtora exibiu seus filmes”, comenta Marcelo Miranda. Uma particularidade da produtora é sua origem em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte e de onde vêm três de seus integrantes (André, Maurílio e Gabriel). A geografia muito particular da terceira maior cidade de Minas Gerais é cenário para os dramas e situações de filmes como Ela Volta na Quinta, Temporada, Quinze, Mundo Incrível Remix e No Coração do Mundo, entre vários outros dos 15 curtas e três longas até aqui realizados.
“Entre a pesquisa de linguagem e a busca por um diálogo verdadeiramente popular com o cinema brasileiro, ao abordar a periferia, sua geografia, seus rostos e corpos, sua vivência, os trabalhos da Filmes de Plástico rapidamente chamaram atenção pelo misto de simplicidade estrutural e complexidade formal e narrativa”, destaca Francis Vogner.
Os filmes contam ainda com elenco formado preponderantemente por moradores dos bairros de Contagem de onde vêm os cineastas, incluindo familiares, vizinhos, amigos e gente de seus convívios mais íntimos. Essa presença de gente do núcleo pessoal do quarteto se soma a nomes profissionais de atuação, boa parte vinda do teatro, como Grace Passô, Barbara Colen, Rejane Faria e Gláucia Vandeveld.
Os quatro integrantes da Filmes de Plástico estarão presentes na abertura da Mostra CineBH, na noite de 17 de setembro, no Cine-Theatro Brasil Vallourec. No dia seguinte, vão promover uma masterclass nas dependências do Palácio das Artes, para falarem de sua história e formas de trabalho, produção e circulação.
“A cada novo filme, o cinema da Filmes de Plástico parece propor alguma coisa nova, fazendo isso como se nem estivesse fazendo. A cada plano, a cada palavra dos personagens, um universo se expande e toda uma cosmologia de pequenas relações se estrutura diante dos nossos olhos”, diz Marcelo.
Durante a CineBH, a Mostra Homenagem vai contar com quatro sessões dedicadas a um panorama sobre a obra da Filmes de Plástico, apresentando desde seu trabalho inaugural, Filme de Sábado(Gabriel Martins, 2009), até o mais recente, No Coração do Mundo (Gabriel Martins e Maurílio Martins, 2019), com exemplares de maior repercussão internacional, o que condiz com a temática do evento. São estes:
MOSTRA HOMENAGEM – FILMES DE PLÁSTICO NO MUNDO
Curtas-metragens:
– Filme de Sábado (Gabriel Martins, 2009)
– Fantasmas (André Novais Oliveira, 2010)
– Contagem (Maurílio Martins e Gabriel Martins, 2010)
– Pouco Mais de um Mês (André Novais Oliveira, 2013)
– Quinze (Maurílio Martins, 2014)
– Nada (Gabriel Martins, 2017)
– Quintal (André Novais Oliveira, 2015)
Longas-metragens:
– Ela Volta na Quinta (André Novais Oliveira, 2015)
– No Coração do Mundo (Maurílio Martins e Gabriel Martins, 2019)
Foto: Leo Lara/Universo Produção