Abertura da 23ª Mostra de Tiradentes convida à defesa da Cultura como diálogo e necessidade de novas lideranças
A 23ª Mostra de Cinema de Tiradentes teve sua abertura oficial nesta sexta-feira, 24 de janeiro. Seguida da pré-estreia mundial de “Os Escravos de Jó” de Rosemberg Cariry, a cerimônia foi marcada por performances artísticas, homenagem a Antônio e Camila Pitanga, além, claro, de resistência e defesa da Cultura. O evento é um dos principais eventos do audiovisual que contam com realização da Universo Produção, que acaba de completar 25 anos.
Segundo discurso de abertura dos diretores da Universo Produção – Fernanda Hallack, Raquel Hallak e Quintino Vargas -, somente nesta edição do evento em Tiradentes (MG) foram contabilizados números relevantes não só à experiência cultural como também econômica da região: foram mais de 250 empresas mineiras contratadas, mais de 2.500 empregos diretos e indiretos, mais de R$ 10 milhões em recursos injetados na economia local e a estimativa de mais de 35 mil pessoas beneficiadas. A Mostra também representa a comemoração dos 302 anos da existência da cidade histórica mineira.
Para além dos números relevantes do encontro, o discurso ainda incluiu uma clara defesa da Cultura, seja como setor ou como diálogo, ferramenta de socialização e caminho para paz. “Você já imaginou como seria a vida sem cultura? Um casamento sem música? Uma escola sem livro? Não adianta ignorar a cultura. Precisamos de políticas públicas e de lideranças políticas e privadas. Os desafios não param por aqui, a Mostra é um convite ao amor destemido por um ideal”, afirmaram em discurso.
Em apresentação audiovisual durante o evento, afirmou-se que: “A cultura é o que atribui sentido às coisas. O cinema é uma chama na escuridão”. Em segunda apresentação ainda na abertura, também se declarou que: “O cinema não pode mudar o mundo sozinho. Mas pode forçar a imaginação a seu limite. A imaginação permite que deixemos de ser vítimas do passado e reféns do futuro”.
Homenagem aos Pitangas
Foi Benedita da Silva, primeira senadora negra do País e esposa do homenageado Antônio Pitanga, que primeiro falou sobre as homenagens, sendo chamada para entregar os troféus do Prêmio Barroco aos Pitangas. Emocionada, elogiou os premiados e disse que “nós precisamos da Cultura, ela preserva nossa identidade, faz com que possamos ser mais ousados”.
Camila e Antônio Pitanga, em seguida, realizaram um discurso cada, ambos pautando a relevância da Cultura, da ancestralidade negra, da Mostra e da resistência no meio cinematográfico.
Camila Pitanga – “Meu pai, esse homem enorme, ele me nutriu de muitos olhares sobre a vida. Falo no plural porque meu pai me fez entender que a gente não pode olhar pro mundo só pelo nosso umbigo. A gente tem que olhar pelo outro, pensar nossa existência em uma dimensão mais coletiva. A gente vive nesse país rachado, que nos convoca a mais do que nunca estarmos atentos e fortes para ter coragem de sonhar, de não nos calarmos para o que nós acreditamos. A gente precisa ser resistência, que não é de hoje. A gente tem que se mirar nos povos originários, na nossa ancestralidade preta que resiste há séculos. A gente precisa acreditar nesse coletivo que não é só da Cultura, mas também de todos os outros agentes que compõe um povo. Realce!”. (Trecho editado e resumido)
Antônio Pitanga – “(A Mostra de) Tiradentes é um farol para o mundo, estamos vivendo tempos difíceis, mas Tiradentes está dizendo como sempre: presente! (Agradeceu a todos, ao evento) Os patrocinadores, nesses tempos difíceis, são os guardiões da Cultura. É difícil, tem muitas vozes dizendo ‘Não coloca dinheiro aí. São vadios, não serve pra nada’. Geramos milhões de empregos e mais de R$ 24 bilhões do PIB nacional com a Cultura. Eu vim do nada, mas no nada havia Cultura como dizia Paulo Freire, ninguém leva a Cultura a lugar nenhum, você aprende. Em todas as civilizações, a Cultura é socializadora. Não é por acaso que na Grécia Antiga, onde nasce a Democracia é na Cultura, mas nosso País não quer ver. Foi a Cultura que me deu cidadania. Nessa homenagem pra mim, vocês (direção da Mostra) estão homenageando todos esses movimentos (Cinema Novo e diretores) que tiveram a ousadia de inaugurar a cultura genuinamente brasileira. […] Vivi todas as minhas décadas e vivi bem, enfrentando a Ditadura e saindo deste Brasil em 1964 para ir para a África, eu não me contentava em dizer que sou afrodescendente. Eu queria saber de que África eu tinha vindo. […] A Cultura está de pé por vocês, resiste com vocês. Esta Mostra terá vida longa”. (Trecho editado e resumido)
Confira as falas de Camila (00’00) e Antônio Pitanga (09’22) na íntegra:
Veja abaixo a vinheta de abertura da Mostra de Cinema de Tiradentes:
*Assim como outros veículos de imprensa, o Prodview viajou a Tiradentes (MG) a convite da Universo Produção.