Debate “Os Escravos de Jó”: memória do Holocausto, contradições no Brasil e processo identitário
Como já é tradição, a Mostra de Cinema de Tiradentes deste ano, que começou em 24 de janeiro e vai até 1 de fevereiro, está promovendo diversos debates sobre filmes exibidos durante a programação. E, para abrir essa série de conversas, o evento escolheu justamente o longa “Os Escravos de Jó”, exibido na cerimônia de abertura no dia 24 de janeiro.
O debate subsequente se deu em 25 de janeiro com a presença do mediador e crítica de cinema Pedro Butcher, bem como do diretor Rosemberg Cariry, da produtora Bárbara Cariry, do ator Daniel Passi (protagonista do longa) e, por fim, do crítico de cinema convidado, Reinaldo Cardenuto. “Essa é a diferença da Mostra, o filme não termina quando a projeção acaba”, comentou Butcher. (Alerta de spoiler!)
A obra de Cariry é pautada pelo processo de construção identitária da juventude, com o protagonista Samuel, que é um jovem, filho de pais adotivos que estuda Cinema e conhece Yasmina, uma imigrante palestina. Os dois se apaixonam e precisam enfrentar as dificuldades que surgem por conta de suas histórias e perspectivas de vida. Samuel divide-se entre heranças conservadoras e visões libertárias, que lhe são repassadas por dois velhos etnicamente diferentes e com distintas orientações ideológicas.
Cardenuto, como convidado, teve 20 minutos iniciais para compartilhar com todos sua leitura do filme. Para ele, “Os Escravos de Jó” tem uma multiplicidade de discursos e conceitos, permitindo muitos recortes analíticos possíveis. O recorte escolhido pelo crítico, no entanto, foi o do barroco e transbarroco, conceitos artísticos apresentados no filme como uma expressão da pluralidade, miscigenação e contradições do Brasil como nação.
Além disso, o filme aponta como o Holocausto, a escravidão e outras tragédias como as imigrações ilegais para a Europa com mortes por afogamento teriam um componente comum, o sofrimento humano. Por fim, Cardenuto aponta que o filme parece apontar que o frentismo político, apresentado no filme por meio de uma manifestação pacífica que é atacada, fracassa – como se houvesse a necessidade de achar um novo movimento. “Não dá para ter um frentismo político sem olhar para o indivíduo, com pluralidade total”, comentou Cardenuto.
Para Rosemberg, apesar de usar de conceitos, questões e temas profundos, o filme não tem a pretensão de dar respostas e traz a experiência de um jovem em processo identitário, que conhece aos poucos o seu passado. “É um grande encontro de mundos”, afirmou.
Confira como foi a abertura da 23ª Mostra de Tiradentes e a apresentação da curadoria do evento.
*Assim como outros veículos de imprensa, o Prodview viajou a Tiradentes (MG) a convite da Universo Produção.