Festival de Berlim: destaque brasileiro e mercado internacional afetado por coronavírus
*Por Janaina Pereira, correspondente do Prodview que foi à Berlinale 2020
A maioria dos principais estúdios de cinema chineses cancelou sua presença na 70ª edição do Festival de Berlim, que foi realizada na cidade alemã de 20 de fevereiro a 1 de março. O Festival, que premiou o filme iraniano There is no Evil, de Mohammad Rasoulof, com o Urso de Ouro, teve uma baixa significativa de países asiáticos tanto na exibição dos filmes como no European Film Market / Mercado Europeu de Filmes (EFM) – realizado paralelamente ao Festival, e que reúne produtores e executivos da indústria para viabilizar novos projetos cinematográficos.
A causa dessa baixa é o novo coronavírus, variação de uma grande família de vírus de mesmo nome, conhecida desde a década de 1960, que causa doenças respiratórias leves ou moderadas, como um resfriado, mas que também pode ser fatal. A propagação do vírus, que teve início pela China, já chegou a Europa, o que levou a ausência de cineastas, produtores, atores e executivos do mercado, especialmente os chineses.
Segundo a direção do European Film Market, muitas companhias aéreas cancelaram voos da Ásia para a Europa, o que também afetou a presença de outros países asiáticos. O estande da China, inclusive, não foi montado no EFM, que é o segundo maior evento mundial da indústria cinematográfica, atrás apenas do Marchè du Film, do Festival de Cannes.
“A EFM lamenta o fato de que o estande chinês pela primeira vez não será realizado, mas entende que as circunstâncias do cancelamento são baseadas em uma situação de força maior”, informou a direção do evento em nota oficial.
Desde o final de janeiro, as 70 mil salas de cinema chinesas estão fechadas e não se sabe ainda quando voltarão a abrir. O prejuízo já está calculado em um bilhão de dólares. Apesar da preocupação com o novo coronavírus, o Festival de Berlim manteve a exibição dos filmes, com medidas de proteção ao público para evitar qualquer risco de contaminação.
Streaming ganha força
Sem apoiar abertamente as empresas de streaming, como faz o Festival de Veneza, mas também sem recrimina-las, como aponta o Festival de Cannes, Berlim se manteve no meio termo. Pelo menos durante o European Film Market, a maioria dos negócios realizados envolveram a América do Norte e as empresas globais de streaming, com a Netflix saindo na frente na compra de importantes produções.
“O mercado foi surpreendentemente bom. Parece que, depois de alguns anos de compra reduzida, alguns distribuidores agora precisam de filmes para lançar novamente”, comentou Michael Ryan, sócio da GFM Films.
De acordo com Marie-Laure Montironi, executiva da Pathe, mesmo com a ausência dos chineses, o mercado se manteve ativo, com destaque para os compradores da Alemanha, Itália, Espanha e Rússia. “Foi um ano diferente, mas todos nós precisamos de filmes novos para lançar”, analisou.
Presença recorde do Brasil
Este ano, 19 filmes brasileiros participaram do Festival alemão em diversas mostras, um recorde nacional no evento O Projeto Paradiso, iniciativa filantrópica do Instituto Olga Rabinovich, apoiou 11 desses filmes. O Projeto foi lançado em março de 2019, e investe em formação profissional e geração de conhecimento com programas de bolsas e mentorias, além de cursos, seminários e estudos. Focado na internacionalização, ele atua por meio de parcerias com instituições de referência no Brasil e no mundo, criando oportunidades para profissionais em diferentes fases da carreira.
“É importante celebrarmos e apoiarmos a presença do Brasil em um dos mais importantes palcos da cinematografia mundial”, informa Josephine Bourgois, diretora executiva do Instituto Olga Rabinovich.
Dentre as produções brasileiras apresentadas em Berlim, a única premiada foi “Meu Nome é Bagdá”, de Caru Alves de Souza, que recebeu apoio do Projeto Paradiso e ganhou o Grande Prêmio do Júri Internacional da Mostra Generation.