Especial: Festival online promoveu o audiovisual nacional em meio à quarentena
Desde março e abril deste ano, o Quarentena Online Film Festival já movimentava o mercado audiovisual com uma proposta 100% online, gratuita e sem algumas das restrições que eventos tradicionais podem trazer. Tudo foi pensado para ser uma oportunidade do setor criar e produzir de maneira segura, em casa, em meio às quarentenas causadas pela pandemia da COVID-19. Depois, em maio, o Festival exibiu 47 filmes de 7 países, com destaque principal para obras nacionais, incluindo títulos de 13 Estados brasileiros.
Para conhecer um pouco mais dessa iniciativa, o Prodview procurou os criadores do evento: Lara Sampaio e Mateus Rocha, estudantes de Cinema e Audiovisual do Rio de Janeiro e amantes do cinema.
Confira a entrevista na íntegra:
Prodview – Conta para a gente como surgiu a ideia do festival?
Lara e Mateus – Por conta dessa quarentena pela COVID-19, muitos artistas do meio audiovisual estão parados e angustiados pelo isolamento, sem poder criar propriamente. A ideia era criar um Festival sem qualquer tipo de restrição para fazer com que esse momento de isolamento fosse adaptado para um momento de visibilidade dos profissionais e, ainda sim, para acalentar as almas criativas de tantos colegas e amigos do meio.
Ao longo desses anos de faculdade, percebemos que um dos maiores conflitos das pessoas que produzem filmes, independentemente de formatos, é fazer com que seus filmes sejam vistos. E as soluções que elas encontram é pôr em vários festivais. Porém, mesmo os festivais abrindo espaço para isso, ainda não achamos que é o suficiente, pois eles são em sua maioria fechados. Logo, a ideia, que nasceu de uma mera inspiração enquanto lavava louça, conquistou muita gente, já que é um Festival 100% online, aberto, acessível, 100% gratuito e sem qualquer tipo de restrição, a não ser a única, “FIQUE EM CASA”.
Quais foram as principais dificuldades do festival? E as principais conquistas?
As principais dificuldades que nós tivemos ao longo do Quarentena Online Film Festival foi a sua construção na internet, tendo que aprender todos os recursos e os conteúdos digitais que nós teríamos que desenvolver e produzir, considerando que era apenas nós dois para organizar o Festival inteiro; falar com todo mundo, dar os avisos no grupo, montar a plataforma no Instagram, idealizar, produzir e organizar os posts, tanto imagens e vídeos quanto textos, a linguagem, organizar todas as lives, a cerimônia pelo YouTube e todas as funcionalidades de live-streaming que tivemos que aprender para trazer tudo na melhor qualidade possível. E claro, além disso, de fato entender como fazer um festival de cinema, só que totalmente online e de uma maneira que não fosse hierárquica, mas sim aberta e democrática, dando acesso a qualquer que quisesse acompanhar.
Já as principais conquistas não cabem em uma folha só! Desde o início queríamos ajudar as pessoas que queriam produzir, mas não encontravam forças para isso. E ao longo do QOFF inteiro, o que mais nos agraciou foram os agradecimentos dos participantes, que conseguiram produzir quando souberam da existência do Quarentena Online Film Festival. E isso, para nós, é o maior ganho de todos, poder ajudar a tantas pessoas e deixá-las felizes com o resultado. Além disso, poder conhecer tantos profissionais talentosos de tantos lugares diferentes pelo mundo inteiro, pelo Brasil inteiro, das mais variadas idades e profissões, com as mais diferentes ideias, noções, visões e vivências!
Foi um ganho gigantesco estar em contato com tantos talentos e imaginamos que não apenas para nós, mas sim para todos que estavam na nossa comunidade do WhatsApp, que puderam se conhecer e conversar tanto, ajudando uns aos outros! Foi fantástico, maravilhoso! Temos novos amigos, novos contatos, novas referências! Sem contar toda a notoriedade que o QOFF ganhou, sendo reconhecido como janela de exibição pela Revista Exibidor, dentre pessoas renomadas como Eduardo Escorel, que elogiou o Quarentena Film Festival pela Piauí! São muitas conquistas e poderíamos ficar o dia inteiro falando!
Qual foi o saldo do evento?
No total, foram 47 filmes, com vários formatos; documentários, filmes de gênero, videoartes, diários, filmes infantis e educativos etc. Dentre a duração, variou de 0:51 até 24:19. Temos filmes curtíssimos e o maior deles tem 24 minutos. E, dentre as produções que recebemos, temos 5 internacionais, da Colômbia, da Espanha e de Portugal, e mais de outras brasileiras que residem na Inglaterra, Alemanha e Irlanda. Totalizando, foram 7 países participantes, contando com o Brasil. Aqui, tivemos presença de 50% dos Estados brasileiros, com integrantes que moram em 13 Estados diferentes.
Qual foi a reação dos vencedores?
No total, foram 58 prêmios entregues, considerando que tivemos primeiro, segundo e terceiro mais votado para cada categoria técnica, podendo ainda ter empate. A recepção dos vencedores foi fantástica! Na realidade, a recepção de todos os participantes! Recebemos vários vídeos, incontáveis mensagens de agradecimento, as pessoas tão felizes e tão satisfeitas com tudo que organizamos! Só reações de gratidão e alegria, para a nossa mais grata euforia! Vocês planejam sequências para este festival? Talvez até próximas edições? Pensamos sim! Principalmente porque muitas pessoas estão muito gratas e pedindo mais edições para a gente, mesmo sem nem ter acabado essa! É muito curioso e gratificante ver isso. Mas, de qualquer forma, esperamos que não tenham que existir outras quarentenas para termos que fazer o Festival, por mais que o quadro mundial demonstre que algumas mais estão por vir, infelizmente. O que pudermos fazer para diminuir esse peso e utilizar a ferramenta do audiovisual para ajudar as pessoas, nós faremos.
Que mensagem vocês gostariam de passar para todo o setor de produção audiovisual neste momento difícil?
Mateus: Por trás de um Brasil que elimina a cultura da sua cartilha de governo, existe um Brasil produzindo cultura apesar do governo. Hoje, depois de 58 prêmios, mais de 100 pessoas que passaram pelo Festival, podemos ver que é possível fazemos arte por nós mesmos. Para mim, o Quarentena Online Film Festival foi uma experiência singular desse momento.
Lara: Se tem algo que sempre acreditei e hoje tenho mais do que comprovado por conta do QOFF, é capacidade que nós, seres humanos, e principalmente criadores, temos de nos adaptar. De fato, a gigantesca capacidade que temos para CRIAR. Para nos reinventarmos, para nos encontrarmos em meio a um caminho que está tão apagado. Tudo se apenas lembrarmos de acender uma luz. Então, se eu poderia, mais do que passar uma mensagem, mas pedir para essas pessoas talentosíssimas que estão por aí e querem produzir, mas não conseguem, é que; Acendam uma luz. Criem. Não importa quão simples seja. Não se desconectem com quem são. Mantenham-se em contato com vocês próprios, seus princípios, suas vontades, suas motivações, suas referências. Criem o que quiserem e como quiserem, não se trata sobre os outros, trata-se de um reencontro com você. Permita-se. Faça algo que venha de dentro do seu mais puro desejo. Não é sobre ignorar as coisas ruins, mas saber ver as coisas boas e se deixar conduzir pelo o que você acredita em sua mais pura autenticidade. Obrigada a todos e a todas que fizeram o Quarentena Online Film Festival ganhar vida e luz em um momento tão incerto e desesperador.