17a CineOP: Resumo 24/06 – Debates, curtas, cinemateca boliviana – Produção indígena e os desafios da preservação audiovisual

A programação intensa contou com discussões sobre a importância da preservação audiovisual.

Abrindo a programação dos debates da 17ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto, o encontro “Preservar, transformar, persistir” discutiu a forte presença da produção audiovisual indígena nas últimas duas décadas e que está em foco no evento esse ano. “Eu já tinha experiência de ver filmes indígenas, mas de maneira esparsa. Para a curadoria, fiz um mergulho, uma imersão nessa produção”, contou Cleber Eduardo, curador da Temática Histórica na CineOP. “No começo do processo eu achava que sabia alguma coisa sobre esses filmes e, no mergulho, descobri o tamanho da minha ignorância. Hoje, apesar de conhecer um pouco mais, eu me sinto mais ignorante em relação a essa produção”.

SESSÃO DE CURTAS
SESSÃO CINE-ESCOLA | 11 A 13 ANOS
Foram exibidas as produções:

  • RUA DINORÁ
    Dinorá é uma menina de 10 anos que mora na Rua 749, no bairro Conjunto Ceará, na cidade de Fortaleza. Faixa branca no karatê, seu grande sonho é vencer o campeonato interestadual. Para que as atletas possam viajar, elas precisam angariar fundos para o time, por meio da venda de rifas para familiares e vizinhos. Ao descobrir que suas colegas moram em ruas com o nome de personalidades históricas, Dinorá empreende, em seu jornada para a venda das rifas, uma investigação sobre o nome de sua própria rua e acaba descobrindo a força coletiva na construção dos espaços habitados.
  • HISTÓRIA COTIDIANA
    Uma “História Cotidiana” narra um acontecimento baseado em fatos reais. Um garoto é vítima de preconceito racial numa situação totalmente inusitada, mas isso não significa que o atos racistas não sejam corriqueiros, infelizmente ainda faz parte do cotidiano.
  • EWÉ DE ÒSÁNYÌN: O SEGREDO DAS FOLHAS
    Uma criança nasce com folhas em seu corpo e sua mãe busca a cura. Na escola, porém, as outras crianças a discriminam e ela foge para mata! Na Caatinga, encontra seres encantados de tradições indígenas e negras e caminha numa aventura de autoconhecimento. Sua busca a leva até Òsányìn, o Orisà das folhas, que apresenta o poder das plantas e a importância da preservação ambiental.
  • A DIFERENÇA ENTRE MONGÓIS E MONGOLOIDES
    Alguns seres humanos nascem com um conjunto de características variáveis, as quais chamam de síndrome de Down. Um disco voador, os dinossauros e as cegonhas nos ajudam a tentar entender o que é e qual a diferença de ter ela ou não.

DEBATE INAUGURAL | PRESERVAÇÃO | HISTÓRIA | EDUCAÇÃO
Com o tema: PRESERVAR, TRANSFORMAR, PERSISTIR, a mesa trouxe a seguinte provocação: se desde a década de 1980 os povos indígenas iniciaram seus primeiros contatos com as câmeras, nas últimas duas décadas tornaram-se realizadores independentes, com obras motivadoras do interesse de pesquisadores e festivais.
Qual o lugar do cinema em uma cultura estruturada na oralidade? Qual a relação desta produção com o presente, com a memória, com a espiritualidade e com a política? Que importância tem esses filmes para semear um desejo de futuro? Qual a importância de ser visto por plateias não indígenas? Como esta produção tão voltada para a memória está sendo preservada e arquivada? Esses foram os principais temas do debate.

Convidados:
Cleber Eduardo – curador da Temática Histórica | SP
Divino Tresewahú – cineasta | MT
Hernani Heffner  – gerente da cinemateca do Museu de Arte Moderna – MAM  | RJ
Vincent Carelli – cineasta e indigenista | PE

 

RODA DE CONVERSA | TEMÁTICA HISTÓRICA
Os cineastas homenageados dessa edição conversaram sobre quais os caminhos de formação, os processos de realização e os desafios da consolidação dos percursos de ambos no cinema.

Convidados:
Kuaray Poty (Ariel Ortega)– cineasta M’bya Guarani homenageado | RS
Pará Yxapy (Patrícia Ferreira) – professora, cineasta M’bya Guarani homenageada | RS
Bruno Huyer – antropólogo | BA
Ernesto de Carvalho – cineasta | PE
Sophia Pinheiro–cineasta | SP

“Nós tivemos a oportunidade e o interesse de ingressar no audiovisual e queremos mais pessoas envolvidas, afinal, o que fazemos é divulgar sob o nosso olhar nossa cultura e a luta do nosso povo”, disseram os homenageados.

Kuaray (Ariel) é uma das referências quando se fala em cinema indígena e  Pará Yxapy (Patrícia) uma das primeiras mulheres indígenas a dirigir, ela também mostra com seu trabalho a força da mulher na sociedade indígena . Com 15 anos de carreira eles são destaque quando se fala em audiovisual brasileiro.

DEBATE | ENCONTRO DE ARQUIVOS
Com o tema MEMÓRIA AUDIOVISUAL BRASILEIRA: RESISTÊNCIA E RESILIÊNCIA, a mesa debateu sobre como diversas instituições brasileiras registram em sua história momentos marcados por grandes crises, sobretudo, políticas e econômicas. A mesa teve por proposta reunir casos brasileiros, a fim de compor um panorama sobre as dificuldades e desafios vividos pelo setor da preservação audiovisual.

Convidados:
Maria Dora G. Mourão– diretora geral da Cinemateca Brasileira | SP
Luiz Joaquim – gestor do Museu de Imagem e Som de Pernambuco | PE
Valquíria Salgado Quilici – coordenadora geral substituta do Centro Técnico de Audiovisual – CTAV | RJ

 

DEBATE | ENCONTRO DA EDUCAÇÃO

Com o tema MEMÓRIA, ENCONTROS E AFETOS, a Rede Kino refletiu sobre seu caminho no audiovisual.
A Rede Latino-americana de Educação, Cinema e Audiovisual foi idealizada pelas professoras Inês Teixeira (UFMG) e Milene Gusmão (UESB) e fundada em 8 de agosto de 2009 na Faculdade de Educação da UFMG com o propósito de reunir projetos que estavam espalhados pelo país. Alguns de longa data, como o CINEDUC, e outros que surgiam com força em diferentes universidades, escolas e instituições de ensino não formal promovendo atividades cineclubistas e outros formatos de ver cinema juntos, assim como de produção audiovisual. A Rede Kino chegou à Mostra CineOP também graças à mediação de Inês Teixeira e hoje se reúne no seu XIV Fórum. Nesta mesa revisitaram o seu passado procurando nas memórias e nos afetos pistas para sua atualização e projeção.

Convidados:
Milene Gusmão – Professora e pesquisadora – UESB | BA
Valeska de Oliveira – Professora pesquisadora e extensionista – UFSM | RS
Ana Lúcia Soutto Mayor – Pesquisadora e Docente – EPSJV | RJ
Celia Nunes – Professora e pesquisadora – UFOP | MG

 

MASTERCLASS INTERNACIONAL | A CINEMATECA BOLIVIANA: PRESERVANDO O DIREITO CIDADÃO À MEMÓRIA
A Cinemateca Boliviana é uma fundação cultural privada, sem fins lucrativos, com inequívoca vocação pública. É a realização de um sonho de fôlego que começou há 45 anos e que resiste à ventos e marés graças a um imenso e permanente esforço daqueles que criaram esse maravilhoso empreendimento. Atualmente já se converteu no Centro Audiovisual e Cultural, uma referência indispensável da cidade e da região, cujos desafios e metas são cada vez mais amplos e complexos, não se limitando apenas à preservação e conservação do material fílmico, mas também se dedicando a estimular, colaborar, participar e apoiar as iniciativas e entidades de caráter educacional, cultural, intelectual ou social relacionados com as imagens em movimento. Assim como se dedica à promoção e difusão da arte cinematográfica e artes afins, como a videoarte, pintura, escultura, fotografia, marionetes, teatro, etc. e à promoção, desenvolvimento e divulgação dessas artes.
A Convidada internacional foi Mela Marquez.

 

SESSÃO DE CURTAS | MOSTRA HOMENAGEM
Com a temática geral “Preservar, transformar, persistir”, a CineOP tem o papel de aprofundar as discussões sobre o audiovisual brasileiro e trouxe ao público três curtas dos cineastas homenageados com o troféu Vila Rica.

“Disseminar a cultura indígena principalmente para os povos que frequentam festivais e apresentar a nossa luta, nossa sobrevivência – esse é o papel dos nossos filmes”, afirma  Pará Yxapy (Patrícia Ferreira), cineasta homenageada que apresentou filmes na 17ª Mostra de Cinema de Ouro Preto.

Foram exibidas as produções:

  • M’BYA MIRIM – PALERMO E NENECO
    Palermo e Neneco, duas crianças Mbya Guarani do Rio Grande do Sul, revelam em suas brincadeiras o drama do seu povo.
  • DESTERRO GUARANI
    Ariel Ortega faz uma reflexão sobre o processo histórico do contato dos Mbya-Guarani com os colonizadores, e tenta entender como seu povo foi destituído de suas terras.
  • MARIO REVE JEGUATÁ – NO CAMINHO COM MÁRIO
    Na aldeia Koenju, no Rio Grande do Sul, o jovem Mario e sua “gang” tiram onda com os desafios da realidade Mbya-Guarani de hoje.

 

SESSÃO DE CURTAS + BATE-PAPO COM DIRETORES | MOSTRA CONTEMPORÂNEA
Na Praça, as sessões de curtas e médias-metragens contemporâneos da 17a. edição da CineOP apresentaram documentários com comunidades que recordam suas histórias de luta dentro de seus territórios, ensaios com registros de família que recuperam o passado e narrativas ficcionais com personagens jovens que buscam reconhecimento no presente.

Foram exibidas as produções:

  • SANTO RIO
    No início dos anos 2000, São Sebastião do Soberbo foi destruída para a construção da Usina Hidrelétrica Candonga. Controlado pela Samarco, o projeto foi feito para abrigar rejeitos de minério extraído na região. A destruição da cidade foi a destruição da paisagem, do trabalho e da identidade da população ribeirinha que tinha o rio como sustento. Em 2015, a barragem de rejeitos de Candonga rompeu a 35 km da cidade de Mariana. O desastre industrial causou o maior impacto ambiental da história do Brasil com 19 mortes. A pesca foi suspensa devido à lama. E as outras fontes de renda foram perdidas. Cinco anos depois, continua o sofrimento das famílias que aguardam o reparo adequado.
  • CENTRAL DE MEMÓRIAS
    A luta pela moradia e a produção de um grande filme. A memória de quatro mulheres sobre um bairro de Vitória da Conquista e o encontro com o universo do cinema, nos anos 1990.
  • GOYANIA – OUTUBRO OU NADA
    A partir da observação e remontagem de imagens e sons de arquivo de diferentes épocas e autorias, uma mulher realiza um filme-carta endereçado à sua cidade natal.

 

SESSÃO DE MÉDIAS | MOSTRA HISTÓRICA
A sessão contou com a exibição das produções:

  • ZAWXIPERKWER KA’A – GUARDIÕES DA FLORESTA
    Nos limites do “complexo verde” formado pelas terras indígenas Caru, Awá, Alto Rio Guamá e Alto Turiaçu dos índios Guajajaras e Awás Guajás, que em um ano tiveram seis lideranças assassinadas, os Guardiões da Floresta lutam para proteger seu território, a última área de floresta contínua no estado do Maranhão. No filme mergulhamos na tensão desses enfrentamentos na reserva do Caru.
  • JÁ ME TRANSFORMEI EM IMAGEM
    Comentários sobre a história de um povo, feito pelos realizadores dos filmes e por seus personagens. Do tempo do contato, passando pelo cativeiro nos seringais, até o trabalho atual com o vídeo, os depoimentos dão sentido ao processo de dispersão, perda e reencontro vividos pelos Hunikuins.
  • ABDZÉ WEDE’Õ – O VÍRUS TEM CURA?
    O documentário revela o impacto do Coronavírus em uma das populações indígenas mais atingidas pela doença no país. Narrado em primeira pessoa por Divino, o filme destaca a luta desesperada de sua aldeia, Sangradouro, ao leste de Mato Grosso, para sobreviver à mais trágica epidemia conhecida pela nação Xavante. Através de materiais de arquivo e imagens captadas por Divino durante a pandemia, o filme procura relacionar um passado traumático com a realidade da Covid-19 nas aldeias Xavante.

 

SESSÃO DE CURTAS + BATE-PAPO COM DIRETORES | MOSTRA PRESERVAÇÃO
Os filmes que vão compor a Mostra Preservação da 17ª CineOP reverberam as diretrizes que a curadoria adotou para este ano: pensar o audiovisual e sua relação com a memória, vinculada a histórias de resistência e resiliência. Há todo um horizonte semidesconhecido que fala e se expressa na resistência social, de resiliência técnica e tecnológica, de resistências por efetivar memórias, de luta por pautar narrativas não hegemônicas. Poderíamos falar de uma miríade de formas de resistir e permanecer presente, apesar das circunstâncias humanas, históricas, políticas, sociais.

 

LONGA | MOSTRA CONTENPORÂNEA

O passado e a memória não saem da boca e dos teclados de notebook dos intelectuais contemporâneos, talvez por habitarmos um tempo histórico marcado pela velocidade dispersiva de suas imagens, de suas palavras e de suas experiências fragmentadas. Neste momento coletivo de acúmulos e de apagamentos a um só tempo, na vida particular e na coletividade, frear a velocidade do agora e do adiante para se deter em experiências, contextos, personagens e fatos de algum ponto do passado é, em linhas gerais e em linhas específicas, um ato de resistência contra os desaparecimentos e contra as mumificações de discursos sedimentados na farsa. Ou ainda contra as representações tendenciosas deste mesmo passado, que, assim, como ser vivo, apesar de passado para trás, retorna como fantasma, zumbi, iluminações e descobertas. O passado vive pela memória atualizadora.

A CineOP–Mostra de Cinema de Ouro Preto sempre procura valorizar em sua programação filmes realizados em outras décadas e contextos históricos do século XX no cinema brasileiro e busca enfatizar na programação contemporânea os longas-metragens com foco direto ou indireto em momentos anteriores da sociedade, seja ficção ou documentário, ficção e documentário, às vezes por meio de imagens e sons de arquivos de outros períodos, às vezes por meio de entrevistas incumbidas de verbalizar as memórias pessoais ou coletivas, às vezes por meio da encenação de personagens de ficção. A programação contemporânea da 17ªedição da CineOP é conduzida por esta perspectiva de um olhar do presente para os rastros da(s) história(s) e suas possibilidades de regeneração e persistência no tempo e na matéria.

Nesta sessão foi exibida a produção:

  • A MÃE DE TODAS AS LUTAS
    Uma narrativa que recorre à memória para vislumbrar um futuro de mudanças sob a ótica feminina. O filme acompanha a trajetória de Shirley Krenak e Maria Zelzuita, mulheres que estão na frente da luta pela terra no Brasil. Shirley traz a missão de honrar as mulheres e a sabedoria das Guerreiras Krenak, da região de Minas Gerais. Maria Zelzuita é uma das sobreviventes do Massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará, e suas trajetórias nos ligam ao conceito da violência e apropriação do corpo feminino.

ARTE | SHOW – MARINA SENA

Gostoso de ouvir e bom para dançar: esta é a síntese do álbum de estreia da carreira solo de Marina Sena, “De Primeira” – uma mistura de música pop com um som genuinamente brasileiro. Com um repertório sobre desejo, romance e paixão, Marina subiu ao palco apresentando um talento impressionante para compor e um timbre autêntico – que lhe rendem prêmios e o reconhecimento de ser “o mais novo melhor acontecimento na música brasileira”.

Leave comment

Your email address will not be published. Required fields are marked with *.