26a MCT: Cinemas indígena e negro são pautas de debate
Na vanguarda para apresentar ao público os nomes, os filmes, as conversas e os caminhos a serem percorridos nessa nova e estimulante trajetória que a produção deverá seguir na próxima década, a 26ª Mostra de Cinema de Tiradentes promove nesta quinta-feira, o debate “Práticas coletivas no cinema brasileiro contemporâneo: aquilombamento e práticas indígenas”. O encontro será das 15h às 16h30, no Cine-Teatro.
Como a presença disruptiva dos cinemas negros e indígenas transforma a compreensão sobre o que é cinema brasileiro contemporâneo? Como os processos dos cinemas negros em sua forma aquilombada e os processos do cinema indígena podem nos dar a chave e compreensão mais profunda sobre essas mudanças? Essas são algumas questões que serão levantadas no debate que terá a mediação da curadora, Tatiana Carvalho Costa. Participarão da conversa como convidados: Cristina Amaral, produtora e montadora; Gabriel Araújo, crítico e curador; Mirna Kambeba Omágua Yetê Anaquiri, artista visual, performer e arte educadora.
Várias produções de realizadores indígenas ou que apresentam temática indigenista estão na programação da Mostra. Luta pela terra, realizado por Camilla Shinoda e Tiago de Aragão (DF) em parceria com comunicadores indígenas do Coletivo de Comunicadores Mura, do Cimi (Conselho Indígena Missionário) e do CIR (Conselho Indígena de Roraima) é um deles. Na lista também estão Paola, curta-metragem documental do artista visual indígena Ziel Karapotó com fotografia do também artista visual indígena Abiniel Nascimento; A Invenção do Outro , de Bruno Jorge; XAR – Sueño de Obsidiana de Fernando Pereira dos Santos e Edgar Calel; Soberane, de Wara; Cambaúba, de Cris Ventura; e As lavadeiras do Rio Acaraú transformam a embarcação em nave de condução, de kulumym-açu. Outra produção indigenista é Thuë pihi kuuwi – Uma Mulher Pensando, de Aida Harika Yanomami, Edmar Tokorino Yanomami e Roseane Yariana Yanomami.
O cinema negro é representado na Mostra pelas produções “Solmatalua”, de Rodrigo Ribeiro-Andrade (Mostra Foco) – um filme feito com imagens de arquivo, ensaístico; “Remendo”, de Roger Ghil (Mostra Foco) – narra a história de Zé, um homem preto de meia idade que tem uma oficina de eletrodomésticos na periferia de Vila Velha e está em busca de amor.
Diversidade na Mostra
Nesta edição da Mostra de Tiradentes se evidencia a forte presença de filmes dirigidos por pessoas negras, trans e indígenas, a proliferação de coletivos criativos vindos de outras áreas artísticas para além do cinema e a experimentação de formatos, linguagens e espaços de exibição.
Cinema periférico
O cinema periférico também tem representantes na Mostra: “Da ponte para cá”, de Isabela da Silva Alves (documentário que entrevista artistas e realizadores periféricos, como é o caso de Lincoln Péricles, de SP). Este curta também está na Mostra Temática. “O último rock”, de Diego de Jesus (Mostra Foco) – Um grupo de jovens negros se reúne para uma festa antes de ficarem em lockdown por causa da covid-19. Eles conversam sobre música, artes, trabalho.
Cinema LGBTQIA+
A programação traz ainda os curtas realizados por pessoas trans: “Lalabis”, de Noá Bonoba (travesti); e “Pedra Polida”, de Dhanny Barbosa (mulher trans). Os dois curtas estão na Mostra Foco. O curta de Noá é um filme experimental, construído com alegorias pra dar conta das existências na dissidência de gênero e de uma falência do binarismo. O curta de Dhanny é um filme narrativo, ficcional. Dentro dessa temática LGBTQIA+ , destaca-se a participação do Padre Júlio Lancellontti no filme São Marino, documentário sobre homens transsexuais. Padre Júlio Lancelotti também é o protagonista do documentário O Que Nos Espera, de Bruno Xavier e Chico Bahia.
Teatro e cinema
Várias produções apresentam uma conexão/ junção entre teatro e cinema. Os curtas “Febre”, de Márcio Abreu (Mostra Foco) e “Partida de vôlei à sombra do vulcão”, de Fernanda Vianna e Clarissa Campolina (Mostra Temática) são os dois filmes que foram realizados com o Grupo Galpão, reconhecida companhia de teatro. Outra produção que evidencia a relação entre teatro e cinema é o curta “Ensaio para uma voz humana”, de Georgette Fadel (Mostra Panorama). A Georgette é uma atriz de teatro que aqui assume a direção de um curta que trata dos desafios de uma atriz que se prepara para filmar um espetáculo durante a pandemia. Outro destaque é um imbricamento visceral entre cinema e música no média-metragem Caixa-Preta, de Saskia e Bernardo Oliveira (RJ).