18a CineOP: A visibilidade preta no audiovisual surge por sua invisibilidade histórica, diz pesquisadora em roda de conversa
Sob a temática “MPB – Música Preta no Brasil”, o recorte histórico da 18ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto reuniu na tarde de domingo, 25/6, três profissionais da crítica, do audiovisual e da cultura para conversar com o público sobre “Polifonia e memória: reverberações no futuro”. A proposta era trafegar sobre a relação entre imagens, sons, arquivos e memórias no processo de feitura audiovisual sob uma perspectiva da realização negra.
O encontro se tornou uma estimulante troca de experiência entre os participantes (Acauam Oliveira, Ana Julia Silvino e Renan Eduardo) sobre as singularidades de como se aproximar de um manancial de vivências e sobrevivências pretas num país de tantos constrangimentos históricos como o Brasil. “O cinema negro se apropria e se constrói na transposição e dissonância”, disse Ana Julia, crítica de cinema e pesquisadora.
Seu raciocínio apontava que a recente maior visibilidade de uma produção preta vem muito por conta de sua invisibilidade, ou seja, de um apagamento anterior reforçado por racismo e hegemonia branca nas instâncias de decisão. Por isso, segundo Ana Julia, a reapropriação de imaginários em torno da experiência de ser negro no Brasil, quando transposta ao audiovisual, tende a vir na base de grandes saturações sonoras e visuais para que se chegue a uma outra forma de fabulação.
“O instrumento que permite esse tipo de fabulação é a montagem”, definiu ela. “Mais que pensar o cinema como invenção da narrativa através de seu tema, é importante pensar em como uma imagem ou um som se desloca em relação a outra imagem e outro som. O cinema negro em especial está sempre destituindo alguma imagem de sua construção convencional para dar a ela outros sentidos”.
Acauam Oliveira, crítico cultural, ponderou o quanto a presença negra nas subjetividades da criação tem acontecido de maneira mais expressiva, mas ainda questionou de que maneira as instâncias deveriam contar com mais negros nos espaços de decisão. Para ele, isso poderá afetar diretamente os encaminhamentos de linguagem e de produção.