28a MCT – “É festival, é promoção, é reflexão, é formação, é exibição, é difusão…é fazer eco”, comenta Raquel Hallak, diretora do evento e da Universo Produção sobre o balanço do encontro
Raquel Hallack possui vasta trajetória na arte e em especial, no audiovisual nacional. Em 1994, a comunicadora deu vida a Universo Produção, empresa brasileira que tem como objetivo valorizar e dar voz à cultura nacional, expandindo as diversas formas de criação e manifestações artísticas. Desde então, a diretora segue inovando em cada edição da Mostra Tiradentes de Cinema que abre o calendário do audiovisual brasileiro.
Após 9 dias de encontro, Raquel comenta sobre a Mostra e sua importância para o audiovisual brasileiro, as dificuldades e conquistas alcançadas. Confira:
Como a Mostra Tiradentes impactou a cidade de Tiradentes?
Estima-se que a gente gerou em torno de 2.500 empregos diretos e indiretos. As pousadas aqui, pelo retorno que a gente teve da Secretaria de Cultura, ela tá aí com quase 100% de ocupação. A gente calcula que, fechando hoje, em torno de 38 mil pessoas beneficiadas tiveram participando desses 9 dias de evento.
Esse ano choveu bastante, foi um impeditivo?
Acho que a gente conseguiu driblar bem, né? Porque sábado começou a chover, parou para acontecer a sessão, fizemos uma sessão linda. No domingo, a gente teve que trazer pra cá, mas conseguimos fazer uma sessão extra. E acho que se a gente não tivesse feito, aí seria uma perda.
A gente tem que acreditar, até o último momento, a gente acredita que vai dar certo. Então, eu estava lá no impasse, se vai pra tenda, senão vai, todo mundo esperando. Eu falei, não, a gente tem que esperar o sol.
Como funcionou a seleção de curadoria dos filmes exibidos na Mostra com o tema “Que cinema é esse”?
O evento dos filmes é feito pela equipe curatorial, né? Lógico, eu faço parte de uma reunião final, mas eu não assisto aos filmes. Até porque a gente gosta de manter essa neutralidade e o respeito ao conceito curatorial. Mas dentro do conceito do evento como um todo, né, que se propõe a Mostra de Cinema Tiradentes.
O primeiro, é mostrar a diversidade do cinema brasileiro. Isso, sem dúvida. Eles têm a missão de reunir filmes que vão retratar o máximo de estados brasileiros possíveis. Aqui, a gente teve 21 estados das cinco regiões do país.
Depois, a gente tem que ter um pouco esse equilíbrio, né, que é o que a gente pergunta, que cinema é esse? Por que surge essa ideia, essa pergunta? O cinema mudou muito.
Você pode falar sobre o tema da Mostra, “Que Cinema é esse?”
Que cinema é esse que a gente está vendo? Principalmente depois da pandemia. Se mudou o consumo, se a sala de cinema está esvaziada, se tem uma disparidade entre o Oscar e a invisibilidade de vários filmes. O que está acontecendo nesse cinema? Vamos levar isso para as telas, os debates, vamos tratar isso com o público, vamos perguntar para todo mundo.
Que cinema você faz? Como você retrata esse cinema? Porque a gente ainda tem um desequilíbrio muito grande no país, entre o fomento e a distribuição. A gente sempre procura que público é esse do nosso cinema, como que a gente vai equilibrar a inovação artística que a gente exibir aqui, que é uma das propostas também da Mostra, que é apostar em novos talentos, novas estéticas, novas narrativas, é provocar, apresentar no cinema um gigante, insistir, persistir com esses talentos que muitas vezes começam, inclusive, fazendo oficina, depois estreia seu curta, estreia agora seu longa, na mostra do agora.
Então, esse conjunto de inquietações que a gente observa no cinema brasileiro, a gente tenta traduzir na programação.
Qual a importância da Mostra de Tiradentes com o audiovisual brasileiro?
A gente tem um case aqui em Tiradentes, que eu sempre costumo dizer. É do filme Baronesa, que ganhou a Aurora. A Juliana Antunes fez esse filme como um TCC, ganhou um edital de curtas de 15 mil reais, foi morar dentro da comunidade e acabou fazendo um longa e esse filme foi visto aqui pelos realizadores, pelos convidados internacionais e esse filme rodou 37 festivais.
Então, assim, eu acho que é essa visão do festival, que é promoção, é reflexão, é formação, é exibição, e difusão, é fazer eco dos melhores produtos, é o cinema sem fronteiras conectado nos quatro eventos que a gente faz, né? Então, não tem como desassociar o Brasil Cinemundo de BH daqui.
A gente também trabalha muito esse viés de curador de festival, programador de festival e distribuidoras, para a gente poder criar um espaço de oportunidades e negócios.
Quais são os próximos passos para a Mostra Tiradentes deste ano?
O primeiro semestre é o Brasil na França, eu fiz essa negociação para estarmos em um festival, em abril.
Então, é uma conquista muito importante para a gente, porque nós não vamos mostrar uma edição, nós vamos mostrar o que é a Mostra de Cinema de Tiradentes em um país que mais co-produz no mundo. Num país mais aberto e interessado na cinematografia brasileira.
Vamos em março estar em São Paulo, repetindo essa dobradinha com o Cine Sesc. Quando a gente chega em junho, em Ouro Preto, falando de preservação, história e educação, nós estamos ali mostrando futuros projetos, também num diálogo muito grande com políticas públicas, entre o MINC e o MEC.
Estamos criando intercâmbios cada vez maiores com festivais latino-americanos, fomos convidados para ir para Cuba, então a gente vai conhecendo, mas levando o nosso cinema.
Então, é um trabalho permanente e que a gente possa eternizar tudo o que a gente está fazendo.
O que você vai levar ao longo desse ano de 2025 da mostra de Tiradentes?
Quando a gente começa a planejar o evento, a gente sempre tem aquela expectativa, o que vai ser essa edição, vai dar certo, que filmes são esses, como que o público vai reagir a esses filmes, montar esse evento, se a gente vai ter patrocínio, se não vai, é uma caixinha de surpresa, sempre, todo ano, e aí eu acho que essa Mostra, mais uma vez, ela cumpre a missão.
É muito importante quando a gente planeja, ver, chegar ao final e falar assim, “Olha, deu certo em todas as etapas de planejamento”.
Então, quando eu paro para pensar o que ficou dessa Mostra, é difícil achar uma palavra para resumir toda essa edição do evento. Mas eu sinto sempre esse sentimento de missão cumprida, daquilo que a gente pensou e conseguiu realizar.
E quando isso se completa com a plateia e com a viabilização da mostra, a gente fala que estamos no caminho certo. Nós estamos movendo uma energia em prol do cinema brasileiro. Essa edição, eu acho que também deu um salto muito grande na internacionalização do cinema brasileiro.
A 28a Mostra Tiradentes terminou neste sábado (01) com mais de 15 milhões de reais injetados na economia brasileira, com geração de mais de 2 500 empregos, além de alcançar um público de 38 mil pessoas. Sua programação contou com diversas ações em prol a cultura e contou com a transmissão especial de 140 pré estreias nacionais.
*Texto produzido com a colaboração de Fabiane Watanave