Mostra Homenagem traz filmes com corpo e voz em modulação, mesmo com o peso de estarem vigiados ou reprimidos

*Crédito da foto: Leo Lara/Universo Produção

A Mostra Homenagem, que compõe a programação da 22ª Mostra de Cinema de Tiradentes, que ocorre até 26 de janeiro contou com a seleção e exibição de três produções com atuação de Grace Passô: a pré-estreia mundial de Vaga Carne, Temporada e Elon Não Acredita na Morte.

Em Vaga Carne, Grace é antes de mais nada, apenas uma voz que inicia com: “Vozes existem, vorazes pela matéria” e segue durante a transcrição para o cinema do solo cênico escrito e interpretado pela artista. A obra, que transita entre a literatura, o teatro e o cinema é uma performance de transição que tem como parceiro de criação Ricardo Alves Jr. O solo performado mostra uma mulher que vive a urgência do discurso e procura sua identidade de pertencimento. [Confira mais detalhes sobre o filme e a presença de Grace na Mostra].

Passando de Vaga Carne para Temporada, a atriz baixa o tom e injeta calmaria. Com direção e roteiro de André Novais Oliveira, a personagem Juliana (Grace) trabalha em uma equipe de combate à dengue, fazendo amizades, se reinventando em um novo espaço, enquanto seu casamento caminha para o fim em um contexto de perdas e acréscimos afetivos.

“Foi uma combinação de vivências diferentes e as ideias bateram. Desde o início deixei aberto para criarmos a personagem juntos e foi algo maravilhoso. Aprendi muito porque ela é muito generosa no set”, disse o diretor André em bate-papo sobre o filme durante a programação da Mostra Tiradentes.

“As críticas são positivas mas sempre com um traço comum: de que o filme não tem um grande acontecimento, porém o enredo traz uma mulher que muda de cidade, muda de trabalho, termina um relacionamento e passa por novos momentos, porém se tudo isso fosse feito por brancos de classe média não teria esse incômodo. Além disso, o filme toca num ponto fundamental que é a humanidade desses personagens.
Humanizar as classes pobres com um olhar próximo é sensível e o quanto o riso passa despercebido e o filme traz isso, o riso está lá ainda que a violência perpasse, os personagens não são a violência. São respiros divertidíssimos”, analisou a crítica Natalia Batista.

Para ela, o filme não verbaliza muitas coisas, mas ainda assim é político por tratar de temos como os subempregos, as existências, a distância do centro, o racismo, e tudo isso sem dizer exatamente deles, como um filme com diversas camadas para acessar qualquer espectador.

Além dos conflitos, o humor também está presente no filme com frases e comportamento tipicamente mineiros, especialmente marcados pelo personagem “Russao”, que emprestou muito de sua personalidade na composição de atuação.

Já no pocket show Elon Não Acredita na Morte, que aliás é a estreia na direção de longas de Ricardo Alves Jr., Grace protagoniza ao lado de Rômulo Braga um toma lá dá cá a respeito de uma terceira pessoa, Madalena, a esposa sumida e procurada. Elon (Romulo) emerge em uma jornada pelos cantos mais sombrios da cidade, buscando entender o que pode ter acontecido com ela, tentando ao mesmo tempo não perder sua sanidade.

Três filmes impactantes em que a voz e o corpo transcendem espaços para criar vertentes de liberdade onde esses corpos e vozes são cerceados, vigiados e reprimidos. O que pode ser um grande caminho para semear um futuro em que o interior e exterior não sejam pautados por diferenças e preconceitos, mas sim por pluralidade, diversidade e respeito acima de tudo.

 

*Veja a cobertura completa.

*A equipe viajou a convite do evento e teve parceria com a Agência Encontre Sua Viagem – Vila Maria (SP).

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