Temática e Mostra Preservação: Patrimônio Audiovisual – Acervos em risco e novas formas de difusão

Temática Preservação, assinada por Ines Aisengart Menezes José Quental, enfocou “Patrimônio Audiovisual: Acervos em risco e novas formas de difusão”, tendo por eixo a produção televisiva como elemento central na formação cultural da sociedade brasileira. Diante do cenário catastrófico que se avizinha com o desmantelamento das políticas públicas nos últimos anos, a CineOP debateu questões sobre ações específicas e mudanças significativas na valorização do patrimônio audiovisual e das instituições, que dependem de uma transformação da dinâmica entre os distintos agentes que atuam na cadeia produtiva e no ensino do audiovisual.

Este recorte reuniu dois longas e cinco curtas-metragens na Mostra Preservação, com produções não contemporâneas, digitalizadas ou restaurados e novas produções que, de alguma forma, contemplam uma revisão ou discussão em torno de patrimônio e da tecnologia do audiovisual.

 

MOSTRA PRESERVAÇÃO

Dedicada a filmes do passado, a mostra da Temática Preservação de 2020 exibiu a versão recém-restaurada de “Pixote, A Lei do mais Fraco” (1980), de Hector Babenco. A restauração foi viabilizada pelo World Cinema Project, que já recuperou 41 filmes de 25 países. “Pixote” é o segundo brasileiro trabalhado pela entidade, organização sem fins lucrativos fundada em 1990 por Martin Scorsese. O primeiro foi “Limite” (1930), de Mário Peixoto.

A sessão de curtas-metragens da Mostra Preservação foi preparada pela ABPA (Associação Brasileira de Preservação Audiovisual), com filmes das décadas de 1950 a 80 digitalizados em arquivos, cinematecas e iniciativas diversas, de forma a difundir e conscientizar o público sobre o patrimônio audiovisual brasileiro. E a mostra se completou com a exibição de “Fotografação”, de Lauro Escorel, ensaio sobre a percepção imagética e a importância da fotografia ao longo de mais de um século. Confira as sinopses das produções: 

FOTOGRAFAÇÃO 

Documentário sobre momentos marcantes da história da fotografia brasileira, construído através do olhar de Lauro Escorel, atuante diretor de fotografia do cinema brasileiro.

PIXOTE, A LEI DO MAIS FRACO
Vivendo a dura realidade do menor carente em um reformatório de São Paulo e revoltados com as injustiças dos administradores da instituição, quatro meninos fogem e passam a conviver com uma prostituta, envolvendo-se com traficantes de drogas e trapaceiros.

CARNAVAL DE RUA – PORTO ALEGRE
Em 2018, o Museu da Comunicação Social Hipólito José da Costa realizou o projeto Do Fotograma ao Cinema e digitalizou parte do seu acervo. O projeto incluiu os materiais da produtora Wilkens Filmes, empresa cinematográfica de Carlos Wilkens (1913-1977) e de Heitor
Baptista Wilkens (1921-1993), que noticiou a vida social e política do Rio Grande do Sul nas décadas de 1950 e 1960.
Carnaval de Rua – Porto Alegre registra as festividades que, na época, ocorriam no coração da cidade, no encontro da Rua dos Andradas e a Avenida Borges Medeiros. Tais imagens compõem importante registro da história local e do filme de não ficção no Brasil.

CRECHE-LAR
Nos anos 1970, Maria Luiza Aboim integrava o Centro da Mulher Brasileira (CMB), uma organização feminista centrada na reflexão sobre a condição da mulher na sociedade. A ausência de creches e a necessidade urgente de criar condições para que as mães pudessem ter apoio no cuidado com filhos eram temas frequentes.
Creche-Lar, o primeiro filme da diretora, parte dessa busca e retrata uma experiência de creche comunitária em Vila Kennedy, no Rio de Janeiro, onde trabalham mães residentes no bairro. A cópia do filme está depositada, em regime de comodato, no Arquivo Nacional, Rio de Janeiro.

ECLIPSE
Eclipse é considerada a obra mais marcante de Antônio Moreno. Nascido em Fortaleza e radicado no Rio de Janeiro, o cineasta e professor foi um dos fundadores do grupo Fotograma, marco da animação experimental no Brasil. A partir de 1972 realizou 15 curtas-metragens.
Eclipse, filme-ensaio experimental sobre os 21 anos de ditadura no Brasil, foi feito através de animação direta na película, tendo ganhado Menção Honrosa no XIII Festival de Gramado, em 1985. Foi digitalizado em 2019 por intermédio da iniciativa do Urubu Cine, cineclube
dedicado ao curta-metragismo brasileiro. Os negativos originais em 35mm, matrizes dessa digitalização, encontram-se depositados em regime de comodato no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro. A cópia 35mm, utilizada como referência, encontra-se depositada na
Cinemateca do MAM-RJ.

GAFIEIRA
Em 2014, o Projeto Resgate da Obra de Gerson Tavares preparou, digitalizou e recolocou em circulação a produção do cineasta fluminense Gerson Tavares. Gafieira foi produzido pelo Instituto Nacional de Cinema (INC) e registra uma noite de sábado na tradicional Gafieira Elite, na Praça Tiradentes, no Centro do Rio de Janeiro. Fotografado por Lauro Escorel, o curta traça o painel de um típico salão de baile que já então desaparecia da cidade. A cópia em 35mm do curta-metragem, matriz da presente digitalização, está depositada na Cinemateca Brasileira, São Paulo.

PANTERA NEGRA

Pantera Negra ganhou Menção Honrosa no IV Festival de Cinema Amador JB/Mesbla, em 1968. Um filme musical pintado à mão, foi a primeira experiência com cinema de animação do artista e ilustrador Jô Oliveira, na época integrante do grupo Fotograma, organização que reunia o trabalho de diversos artistas e promovia o cinema de animação no Brasil. O filme foi digitalizado em 2019, o que permitiu a sua redescoberta como um material importante para história do cinema experimental no Brasil. O material original, com as cores pintadas em nanquim, está sob os cuidados do artista.

 

Veja a cobertura completa da Cineop 2020.

Foto: Divulgação

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