26a Mostra Tiradentes – Entrevista com o diretor Pedro Diógenes: A paternidade mostrada em “A Filha do Palhaço”
Dentre as diversas Mostras na 26ª Mostra Tiradentes, na Mostra Praça foi exibido o longa A filha do Palhaço, estreia nacional, que conta a história de Joana, adolescente de 14 anos que aparece para passar uma semana com o pai, Renato, que é humorista e se apresenta em shows e churrascarias, bares e casas noturnas interpretando a personagem Silvanelly, entretanto pai e filha possuem uma relação de pouco contato e o filme conta o processo e as novas experiências que pai o filme irão passar, transformando a vida de ambos.
O diretor comentou também sobre as fragilidades como pai, “Um pai tem que ser assim uma filha tem que ser assim. Acho que isso torna esse encontro mais aberto, com essas fraquezas e vulnerabilidades. No filme, por exemplo, tem uma hora que o pai se abre para a filha e conta para ela a história do ex-companheiro e fala que nunca havia contado isso para ninguém, mas naquele momento, por questões naturais ou pela distância, eles se sentem à vontade para se abrirem um com o outro”.
Após a exibição do filme, pudemos conversar com o diretor Pedro Diógenes, confira a entrevista:
Prodview: Eu queria que você me contasse um pouco sobre como foi o processo de produção do filme e quais dificuldades e soluções vocês encontraram?
Pedro Rodrigues: Olha, foi um processo bem particular, porque ele demorou 10 anos, desde as primeiras linhas de roteiro até ele ser exibido a primeira vez, então nesses 10 anos, a gente passou por muitas coisas e momentos diferentes, muitos momentos diferentes do nosso país, o que reflete também no processo de filme, então foi um filme que demorou um pouco para conseguirmos fazer ele, por conta do descaso que se teve com a cultura nos últimos anos, a gente também teve uma influência muito grande da pandemia, porque a gente ia filmar o filme antes e tivemos que adiar por causa da pandemia e mesmo assim filmamos num “intervalo” que teve da pandemia, o que influenciou em toda a produção do filme, foi um set totalmente diferente, por conta da filmagem na pandemia.
Então acho que tudo isso, toda essas barreiras que tivemos que passar, e dessa forma tornaram esse processo único e especial e eu acho que se o filme existe hoje e pôde passar ontem na praça é fruto de uma entrega, de um trabalho, uma dedicação de um elenco e de uma equipe que se jogaram para fazer o filme e tornaram possível a gente estar exibindo ele.
Prodview: E em relação a escolha do elenco?
Pedro Rodrigues O Demi, que é o personagem principal, que vive o Renato, o ator principal, ele já escrevei o roteiro pensando nele. Ele é um amigo, é um ator que admiro muito, já trabalhamos outras vezes e a gente viveu a paternidade juntos, nossos primeiros filhos nasceram mais ou menos com 1 mês de diferença, foi um momento difícil, cheio de crises e a gente se ajudou muito nesse período. Então quando eu estava fazendo um filme sobre paternidade, já me veio à cabeça ele (Renato) e eu escrevi todo o filme pensando nele.
O personagem do Jesuíta também, ele foi um personagem que surgiu durante a escrita do roteiro. Eu já tinha trabalhado com ele anteriormente e eu já tinha esse desejo de trabalhar com ele de novo, e foi uma oportunidade de chamá-lo de novo, em um trabalho diferente do que ele fazia na época.
E a Liz que faz a filha do palhaço, talvez a protagonista do filme, foi um processo diferente. Eu tinha duas pessoas trabalhando comigo, que era Samid Lavo e a Luísa Porto, que fizeram o casting e a preparação de elenco e a gente foi fazendo teste com adolescentes que se encaixavam mais ou menos no perfil que a gente queria. Chegamos a fazer mais ou menos 18 testes, com várias fases e números.
Prodview: E o que foi decisivo para a escolha do papel?
Pedro Rodrigues É difícil dizer, mas tem uma coisa que me chamou atenção na Liz, ela tinha uma timidez mas ao mesmo tempo uma coragem que é o que fez a gente se encantar com ela, além de algumas semelhanças com a vida dela e a personagem foi o que nos chamou atenção para chamarmos ela para fazermos o filmes. Além dos testes, é claro, ela foi fazendo os testes, foi passando, provando e garantindo, deixando muito claro que tinha que ser ela.
Prodiview: Você comentou anteriormente sobre a sua relação com o Tiradentes, com a mostra… e agora quais são os caminhos que o filme vai percorrer? Qual é o próximo circuito de programação, tem alguma coisa marcada?
Pedro Rodrigues: O filme estreou em outubro do ano passado (2022) no centro de Ceará e de lá para cá ele tem circulado nesse circuito de festivais em Mostra. Graças aos Deuses e Deusas do cinema ele tá circulando bastante, tendo um contato muito forte com os telespectadores e eu acho que a ideia agora é no segundo semestre de 2023 lançá-lo no circuito de Cinoma, ele já tem uma distribuidora, que é a embargo filmes, importantíssima, porque ela é a responsável pela distribuidora do Marte 1, filme do gabito.
Então estamos muito ansiosos e esperançosos por ser uma distribuição em massa e depois é buscar os caminhos dos canais de TV, streaming , porque nossa intenção é que o filme seja muito visto e que ele fique vivo durante muito tempo.
Prodview: Anteriormente você comentou do cenário político, agora na atual conjuntura dá mais esperança, acredito que seja um fator positivo para estender a vida do filme.
Pedro Rodrigues: Tu falou e me veio à cabeça que para a gente criar, é necessário esperança, né? A gente precisa de esperança para que o que a gente escreve hoje um dia vire realidade, um dia poderá ser visto, um dia vai poder circular.
A volta do Ministério da Cultura, a volta de um olhar carinhoso e atento para a arte, para o cinema, mudo tudo, né? Muda o espírito, sabe? Só de estarmos em Tiradentes, esse espírito, essa energia que tem o lugar. A Tiradentes que aconteceu no meio do governo Bolsonaro era um outro tipo de clima, outro tipo de discussões, outro tipo de aflições, e agora não, é o mundo preocupado em criar, em trabalhar, em desenvolver seus projetos em realizar, então já mudou tudo.
Prodview: Em falar sobre projetos, tem algum que você possa comentar, dar algum spoiler? (risos)
Pedro Rodrigues: Irei filmar um novo filme esse ano que se chama – até agora Centro e Ilusão – é um musical que se passa no centro de Fortaleza, de baixo orçamento, mas que eu estou muito a fim de fazer, muito empolgado, porque a música cearense é uma de minhas paixões, uma de minhas inspirações.
Neste filme, a música cearense é uma das coisas que sempre está nos meus trabalhos, mas agora ganha uma importância diferente.
Prodview: Gostaria de fazer uma consideração? Algo que você acha importante comentar e não conversamos?
Pedro Rodrigues: Queria apenas agradecer, é sempre bom estar conversando sobre cinema, trocando sobre cinema e poder estar falando sobre a sessão de ontem, que foi muito especial para mim, apenas agradecer.
- Veja o vídeo que postamos no nosso Instagram.
- O filme venceu ainda o troféu Barroco, no encerramento da Mostra.
- Veja também a entrevista com o ator Jesuíta Barbosa.
Saiba mais sobre a 26ª edição da Mostra de Cinema Tiradentes em nossa cobertura completa.
*Texto produzido com a colaboração de Fabiane Watanave.