18a CineBH – Sessão na Praça celebra Luiz Melodia e sua importância para a música brasileira com a presença da diretora Alessandra Dorgan

Assistir um filme na praça é uma experiência incrível e nesta edição da Mostra Praça, na CineBH, os filmes propõe uma “viagem a céu aberto por músicas e letras”, como definiu o curador Marcelo Miranda no catálogo da programação do evento.

Ontem (27/09) foi exatamente o que aconteceu com a pré-estreia nacional do documentário Luiz Melodia – No Coração do Brasil, dirigido por Alessandra Dorgan. A sessão comentada teve a mediação da curadora Mariana Queen Nwabasili.

O documentário musical é narrado todo em primeira pessoa e busca dar voz ao artista, que ao abraçar sua liberdade musical e originalidade, desafiou muitas normas impostas pelo mercado fonográfico e cultural brasileiro. Feito com materiais raros e inéditos de arquivo, reflete a importância cultural de seu legado e da cena musical à qual contribuiu ativamente a partir dos anos 70.

Confira alguns destaques desse bate-papo com a diretora do longa.

Comente um pouco sobre o início da produção e sobre os principais desafios que Luiz enfrentou ao longo de sua carreira?

Partimos de uma entrevista, uma gravação de três horas com Luiz, feita pela jornalista Patricia Palumbo que inspirou a ideia do documentário. Durante a análise da entrevista e de outros materiais, ficou evidente que Luiz frequentemente abordava temas como ser rotulado e as barreiras impostas pelas gravadoras e pela mídia ao longo de sua carreira de 40 anos. Naquela época, a existência artística dependia fortemente das gravadoras, da imprensa e da música em novelas. Não era como é hoje, que um artista pode ser independente.

 

Como você acha que a resiliência de Luiz em se reinventar e voltar aos holofotes, mesmo diante da invisibilidade e do silenciamento, influenciou a forma como você conduziu o documentário?

Então, eu acho que, e ele bateu tanto nessa tecla, ele era tão silenciado, mesmo furando essas bolhas o tempo inteiro, voltava pra música da novela, e aí ele dava um jeito, ele ressurgia de um outro lado, ele regravava Cazuza, ele dava um jeito de se reinventar e de voltar pros holofotes, e ele foi muito resistente.

Então, ouvindo tantas vezes, tantas entrevistas do Luiz, batendo na mesma tecla sobre esses assuntos, eu cheguei à conclusão de que ele tinha que contar a própria história, ele nunca pôde contar. Esse paredão que a gente coloca dos jornalistas, né, que é uma virada do arco narrativo do filme ali no meio, é um compilado minúsculo, perto do que a gente detectou na pesquisa, mas obviamente não dá pra gente ficar 40 minutos mostrando o paredão de jornalista.

Isso era muito recorrente, e isso era recorrente nas entrevistas dele, e o quanto, quando ele respondia, ele já era silenciado e ninguém queria nem saber a resposta. Não tinha isso. Então, acho que é isso, acho que eu fui encontrada pelo Luiz, através da Jane (esposa), e através da Patrícia, e eu entendi que ele precisava se contar.

 

Como foi o processo de montagem do filme?

É, eu acho que é uma escolha deixar o Luiz falar e de deixar a poesia do Luiz falar. Acho que são as duas formas de expressão latentes no filme o tempo todo. É claro que a gente usa alguns artifícios de montagem, a gente não tem nenhuma música na íntegra, mas a gente simula essa sensação.

Então no corte ali, você emenda um verso com outro, são recursos de montagem para que a gente tenha essa sensação de performance completa. Com esse intuito mesmo, com o intuito de deleite desse público do Luiz, que eu tenho encontrado nas sessões.

Isso é muito emocionante. Então, é realmente um reencontro do Luiz com o público dele.

 

Quais foram os desafios para levantar esse material de pesquisa?

É surreal, mas é um trabalho de garimpo mesmo. E aí, voltando para a história dos tempos, dos nossos timings, das coisas, como a gente tinha muito pouco dinheiro para montar, para pesquisar, para tudo isso, quando a gente conseguiu fechar a gente tinha 12 semanas para montar o filme. Quando chegou na décima semana, a gente fechou o corte, mas precisamos de mais tempo para dar respiro ao filme, fizemos uma sessão com pessoas chave, e aí depois de 7 meses, em duas semanas terminamos o filme. Mas a contribuição dessas pessoas, foi fundamental para atingir o resultado dele hoje.

A produção da Embaúba Filmes chega aos cinemas em 16 de janeiro.

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