Pay-TV Forum: dos desafios nacionais às MediaTech globais, evento debate a TV por assinatura
A cidade de São Paulo recebeu a 2ª edição do Pay-TV Forum, um encontro com o objetivo de debater o presente e o futuro do setor de TV por assinatura no Brasil. O evento foi realizado entre os dias 30 e 31 de julho no conjunto World Trade Center na capital paulista, com organização da Teletime e da Tela Viva.
Entre os principais temas estiveram o cenário atual do mercado, a visão de grandes empresas como Claro, Warner Media e Globosat, bem como a visão de outras operadoras e programadoras, OTT, pirataria e bate-papo com entidades como Anatel e ANCINE.
Dados inesperados da TV paga no País
Uma das falas que surpreenderam no encontro foi a de Melissa Vogel, CEO da Kantar Ibope Media, que trouxe dados pesquisados pela companhia que vão contra a corrente apenas depreciativa sobre a TV paga. Por exemplo, apesar da queda constante no número de assinantes no mundo, no Brasil 40% dos lares das principais capitais do País têm TV paga. Esse consumo, além de ainda ser bem expressivo, é também fiel. São 3h24 de consumo de conteúdo por dia, tendo caído apenas cerca de 20 minutos nos últimos três anos. 52,8% dos respondentes à Kantar Ibope Media assistiram TV paga nos últimos 7 duas, 23% assistiram somente a esse tipo de serviço, sem streaming ou TV aberta.
Segundo Melissa, a TV paga precisa parar de culpar apenas o streaming por perder parte de seus assinantes e levar em consideração também que o País está em crise econômica, com o brasileiro perdendo parte de seu poder aquisitivo – nesse cenário, a TV por assinatura ainda é a 2ª conta mais cara dentre as contas domiciliares, enquanto o streaming representa 2% do orçamento total dispendido nas nossas casas.
A executiva frisou que o maior valor da TV paga é seu conteúdo: “A Pay-TV tem como oferecer uma base diversa de conteúdo”, disse. Melissa apontou, inclusive, que a empresa avalia tanto a quantidade de gêneros oferecido quanto o seu índice de intensidade, que seria a quantidade de conteúdo assistido versus a quantidade ofertada na grade por assinatura. Com isso, ela informou que gêneros como as novelas, que representam 0,6% da grade, são na verdade 3,1% do consumo, crescendo 21% entre 2016 e 2019. O gênero infantil, por exemplo, é apenas 6,4% do conteúdo oferecido, porém representa mais de 14% do que é assistido.
Assim, para Melissa, o setor precisa estudar cada vez mais quais gêneros que estão conquistando mais o público e aproveitar também que seus clientes são consumidores fiéis, que ainda querem ser surpreendidos pela programação e são extremamente conectados e engajados.
Percepção de valor e conteúdo
Durante bate-papo no Pay-TV Forum, Fernando Magalhães, diretor de programação da Claro (que conta com a NET também), declarou que uma das maiores dificuldades das operadoras de TV por assinatura hoje é conseguir aumentar a percepção de valor do cliente, que tem menos poder aquisitivo. “Ninguém reclama por pagar uma taxa para ter acesso a muitos conteúdos mesmo assistindo poucos quando se fala de VOD, mas isso acontece na TV paga. Temos que inverter a percepção, para verem que essa é uma oferta de conteúdo quase infinito e são as novas funcionalidades que ajudam nessa mudança de percepção de valor”, explicou.
Para Magalhães, cabe às operadoras o investimento em novas funcionalidades e tecnologias que têm o poder de fazer com que o cliente mude o olhar sobre a TV paga. Nesse sentido, o executivo acredita que o mercado precisa trabalhar a ideia do conceito “Download & Go”, que permite ao cliente ter o conteúdo pelo menos temporariamente em seu aparelho. Anthony Doyle, da CNN Brasil, concordou com o executivo da Claro quanto à necessidade de o setor aprimorar a tecnologia, testando a OTT e outras opções.
Em termos de conteúdo, Magalhães apontou que os canais de nicho são boas opções se oferecidos inicialmente como canais a lá carte, pagos à parte pelos clientes, e com seu próprio modelo de negócio – ou seja, sem depender exclusivamente de taxa paga pela operadora para sobreviver. Isso porque incluir mais canais gratuitamente na grade significa aumentar o valor para todos os clientes, dificultando ainda mais a venda dos planos. No entanto, após “se provarem” nesse modelo, é possível migrar para a grade gratuita como foi o caso da Fish TV. Para Magalhães, esse foi um exemplo ótimo de surpresa para o setor, mas que precisou se provar antes como canal a lá carte.
MediaTech: um olhar Warner Media
O executivo internacional Jim Meza, da AT&T e Warner Media, comentou que o conteúdo premium está saindo do conceito “broadcast” para o “unicast”, que promete mais unificação entre empresas de mídia e de tecnologia, assim como a união da AT&T com a Warner Media. Para ele, esse movimento está acontecendo constantemente e podemos vê-lo na compra da Fox pela Disney, pelo acordo entre Comcast e Sky, HGTV e Discovery, entre outros. Ele apontou também que apenas no Brasil ele vê dificuldades para esse tipo de modelo de negócio por conta das restrições legais. “Precisamos nos manter relevantes, usar dados para tomar decisões melhores e orientar a propaganda de uma melhor maneira”, afirmou.
Além disso, Meza anunciou que na primavera norte-americana, ou seja, ainda no primeiro semestre de 2020, a Warner Media deve lançar o HBO Max, o VOD de conteúdo premium do canal HBO. “O consumidor sempre ganha, cabe a nós oferecer conteúdo atraente e relevante”, completou.
Olhar de brasileiros para o mercado local
A indústria audiovisual brasileira como um todo gera cerca de 335 mil empregos diretos e indiretos, é 0,46% do PIB brasileiro, cresce em média 8,8% ao ano, fatura R$ 44 bilhões e conta com mais de 12 mil empresas nacionais. Todos esses dados foram apresentados por João Pinho, secretário da ANCINE, durante sua fala no evento. Além disso, o profissional também apontou algumas tendências globais como a entrada de gigantes de Tecnologia da Informação – TI no mercado audiovisual e reinvenção dos canais de TV, sendo isso uma oportunidade para empresas que tenham grandes portfólios de propriedade intelectual.
Para ele, o setor brasileiro terá como desafio formar empreendedores maduros, depender cada vez menos do investimento público, buscar mais investidores privados, iniciar debate para atualização da legislação do setor, entre outros. Pinho reforçou que, enquanto mercado, “precisamos tomar decisões baseadas em dados”.
Do ponto de vista de Alberto Pecegueiro, diretor geral da Globosat, as empresas brasileiras são altamente qualificadas e precisam experimentar mais todas as novidades do mercado e assumir os riscos. “Em 2019 estamos vendo o pico da audiência nos canais Globosat mesmo com o crescimento do VOD”, comentou, afirmando também que a cadeia de produção audiovisual viverá em breve a era de ouro porque as empresas nacionais e internacionais precisarão de muito conteúdo. Cícero Aragon, da Box Brazil, concordou com o poder das empresas nacionais: “Só nós temos esse conteúdo, que é respeitado mundo afora”.
Para Pecegueiro, o maior “inimigo” da TV paga é a pirataria, tema que Eduardo Carneiro, da ANCINE, apontou como um dos maiores financiadores atuais do crime organizado, ao lado da falsificação de documentos e lavagem de dinheiro.
Sobre o Pay-TV Forum 2019
O evento contou com patrocínio de empresas como Claro, Oi, Globosat, Discovery, Turner, Sky, CNN Brasil, CommScope, Box Brazil, Metrological, Nagra Kudelski e Curta! TV, além de parcerias com Abratel, ABTA, Cesnik Quintino & Salinas, Associação NEOTV, entre outras.