26a MCT: Mutirão é ação coletiva para que as pessoas envolvidas usufruam

“O objetivo de um mutirão é coletivo para que as pessoas possam usufruir de um determinado território construído com esse objetivo”: assim resumiu a pesquisadora Carla Maia, ao falar sobre a temática de 2023 da Mostra de Cinema de Tiradentes num debate realizado na tarde de domingo (dia 22/1) intitulado “Laboratórios, modos de investigação e cinema de grupo”. A discussão tratou de conceitos e práticas que tenham como parâmetros os trabalhos em coletividade que resvalem na criação de obras em conjunto – e várias delas estão em exibição no evento, inclusive afetadas pela pandemia, crise econômica e descaso do governo federal anterior com o setor cultural.

O mutirão, segundo Carla Maia, surge a partir da vontade de muitos em construir um caminho em conjunto e em comum que seja benéfico a determinada população ou comunidade. Na arte, especificamente no cinema, os filmes são esse objetivo, e a relação com o público é sua etapa final. “O mutirão é uma forma de descentralizar territórios e democratizá-los”, frisou ela. “O coletivo é diferente da reunião, do agrupamento. Não é só estar junto, e sim unir pessoas diversas por desejos que também incluem dissonâncias e diferenças”.

A cineasta Clarissa Campolina, que exibiu no sábado dois filmes (“Partida de Vôlei à Sombra do Vulcão”, codirigido por Fernanda Vianna, e “Canção ao Longe”), reforçou a ideia do dissenso como elemento criativo ao lembrar da Teia, produtora da qual ela fez parte em Belo Horizonte nos anos 2000-2010 e várias vezes citada na mesa. Ela descreveu o quanto o grupo constantemente se reunia, trocava ideias e projetos, repensava os caminhos, se afastava e depois se reaproximava, tudo dentro de um fluxo e processo de trabalho que desembocava em filmes. Ela contou que as trocas podem sempre possibilitar a consciência do lugar que o artista ocupa dentro da cadeia produtiva na qual ele está inserido.

“Usufruir é também imaginar outras possibilidades de cinema, é ser acolhedor com identidades e formas de vivência”, disse Clarissa. “Quando vejo o ‘Avatar’, eu não saio pensando que posso fazer aquilo tudo, por exemplo. Mas um filme como ‘Sessão Bruta’ [ganhador da Mostra Aurora em 2022] nos permite vislumbrar uma possibilidade de fazer cinema, de nos ver, de reverberar o que queremos expressar”. Para Carla Maia, essa relação entre o grande espetáculo hegemônico e as condições possíveis e às vezes precárias de produzir cinema num país como o Brasil é fundamental para se compreender o papel de cada um. “Nem que seja para tomarmos de assalto essa hegemonia, é preciso estar familiarizado com ela”, afirmou.

A distribuidora Talita Arruda expandiu o mutirão aos espectadores como elementos essenciais a serem considerados no processo. Para ela, é importante que os projetos pensem nas formas de recepção já desde a concepção. “A distribuição deve ser parte orgânica do processo, inserida no fluxo, isso é uma coisa frutífera que ajuda muito ao filme seguir um caminho dele depois de pronto”.

Leave comment

Your email address will not be published. Required fields are marked with *.