26a MCT: Júri Jovem é composto por estudantes de todo o Brasil com um ponto em comum: falar de audiovisual com qualidade
Na 26ª Mostra de Cinema Tiradentes entrevistamos o Júri Jovem, composto por: Giuliana Zamprogno, estudante de Cinema e Audiovisual na Universidade Federal Fluminense (UFF); Iara Letícia, estudante de Teatro Universitário da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Lauren Mattiazzi Dilli, estudante de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal de Pelotas (UFPel); Leonardo Amorim, estudante de Arte Dramática da Escola Técnica de Artes da Universidade Federal de Alagoas (ETA-UFal) e Quemuel Costa, estudante de Teatro, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Durante os debates, o posicionamento e as reflexões desse grupo foram bastante elogiados.
Eles falam sobre cinema, audiovisual, expectativas, esperanças e sonhos!
Confira a nossa entrevista:
Prodview: Gostaria que vocês me contassem como foi essa experiência do júri e o que vocês vão levar daqui para a carreira de vocês?
Quemuel Costa: Acho que a coisa mais legal daqui é poder colocar na mini bio, né (risos). “Júri jovem na 26ª Mostra de Cinema de Tiradentes e tals” (risos). Minha graduação é no teatro, escrevo sobre teatro e eu saio mais confiante, assim sabe? É algo muito pessoal de como é que dá para me relacionar com os filmes com o meu repertório de teatro. Vejo quem tem essa formação em cinema e eu com esse olhar do teatro, não me impede, não é uma barreira assim, sabe? E também dá muita motivação para continuar o trabalho e querendo ou não é o reconhecimento de uma trajetória curta, né? Tenho 23 anos, escrevo há um, dois anos, então é um reconhecimento que rola.
Giuliana Zamprogno: Eu também comecei há pouco tempo a escrever na metade de 2021 e também foi um processo super rápido de participar de várias coisas . E 2022 foi o ano que fiquei mais parada por causa do trabalho. Eu faço cinema Universidade Federal Fluminense, mas não conseguindo conciliar esse tempo. Aí o júri jovem chegou para rememorar, lembrar e perceber o quanto eu gosto de fazer isso, quanto é inspirador também debater sobre os filmes, viver eles intensamente. Acho que os debates foram muito bonitos mesmo, sabe. Entender como funciona internamente as coisas, qual é a proposta da curadoria, qual é o papel de um júri, começar a ter essas noções assim de um festival de cinema. Saio daqui pensando e mais animada, com mais firmeza.
Acreditando mais nas minhas palavras e acreditando cada vez mais em propostas coletivas.
Prodview: Acho que o tema mutirão inspirou muito as pessoas, né?
Lauren Mattiazzi: Acho que estar aqui na Mostra presencial é uma experiência de aprendizado para a nossa formação, pelo menos para minha. Eu estudo Cinema e Audiovisual na Universidade Federal de Pelotas, então essa é uma oportunidade da gente encontrar filmes e pessoas. Aqui dentro do júri nós somos pessoas de vários lugares do Brasil e a gente tá se encontrando juntos nesse festival.
Acho que como a Giuliana falou, é uma experiência para a gente entender como funciona o festival, como as pessoas daqui trabalham, como é a lógica. E também depois de todos esses anos de pandemia, é uma oportunidade da gente se encontrar e conectar mais presente, mais fisicamente, porque antes era online, o que também era bom, porque eu pude acompanhar o festival online e foi a partir daí que eu pude e saber como funciona, conhecer um pouco mais, então o online tem essa questão positiva porque aproxima as pessoas de outros lugares que não teriam condições de vir até aqui, mas ter essa experiência presencial é totalmente diferente e importante, acho que vou levar muito para a minha formação.
Iara Letícia: Eu acho que o que mais vai ficar para mim é uma percepção dos filmes como uma coisa muito material, não só uma relação que eu tenho sozinha em casa no meu quarto, mas todo um setor que movimenta muito dinheiro, que emprega muitas pessoas. Em um festival a gente consegue enxergar isso melhor, como funciona, as relações de trabalho, etc.
E estar em um grupo, fazer parte de em um grupo, não só ter uma relação com os filmes solitária , mas que tem a ver com diálogo, colocar as nossas ideias no grupo e ver como elas ficam lado a lado e ver como elas conversam e tudo mais. Aprender com as pessoas, parece meio clichê, mas conversar sobre os filmes sobre o olhar e visão de cada um tem traz muito aprendizado.
Leonardo Amorim: Ainda pegando o gancho de Yara , realmente o contato, não só entre nós aqui do júri jovem, mas também os cineastas, os curadores, os críticos, os que vieram cobrir o evento, gera uma certa energia, quando a gente está numa sala cheia com essa galera que pensa cinema é muito bom. Tem uma atmosfera que é muito forte, que atravessa nossos corpos…
A gente reflete no filme e se reflete no nosso corpo. E também que eu vi este processo para todos nós como uma formação, porque lá em Maceió não tem curso de cinema e eu encontrei na crítica uma forma de refletir sobre os filmes que eu quero fazer, enquanto diretor.
Estar aqui eu sinto em vários dias, seja nas aulas, seja nos debates, com toda essa galera, eu sinto uma experiência.
Prodview: Teve o primeiro fórum em Tiradentes e parece que existe assim um sentimento de muita esperança por parte dos profissionais, principalmente com essa nova fase de governo. Queria que vocês comentassem um pouco sobre isso, como vocês veem o cenário político, principalmente no audiovisual.
Quemuel Costa: Então, eu acho que para mim ainda é estranho porque na minha cabeça a gente tá acostumado com 7 anos de desmonte, né? Acordando todo dia com a notícia de que algo fechou, uma secretaria fechou ou não funciona mais, algum edital parou de existir. Acho que a ficha não caiu ainda , que a gente está em um governo que está injetando dinheiro, um dinheiro histórico, é uma esperança que se vem construindo, é um peso que foi embora dos ombros, é muito feliz ver a galera animada e todo mundo falando desse horizonte de 4 anos muito pequeno.
A gente não vai continuar de onde parou, em 2016, tem muita coisa para ser retomada, a ser reconstruída, mas eu acho que é de muita tranquilidade, de sair desse governo que quer destruir você e o seu trabalho.
Giuliana Zamprogno: E eu pelo menos me sinto mais motivada a entender melhor esse lado de criação de projeto, de produção, que era uma coisa de produção, que antes eu não queria porque não fazia sentido, porque não tinha dinheiro, porque não tinha perspectiva, e agora como tem alguma, e eu vejo na minha formação que antes eu gostava de cinema mas ficava de um jeito idealizado, como se ainda estivesse longe a ideia de eu produzir e agora não parece mais longe, parece bem possível.
Prodview: Eu sei que é meio clichê “Ah jovens são o futuro”, mas como vocês se veem nesse lugar? Porque vocês foram super elogiados nos debates e eu acho que olhar para vocês é olhar para o futuro com muita esperança, porque está vindo aí uma galera muito boa, que vai dar continuidade nesse projeto, nessa reconstrução, nessa renovação. Como vocês se veem nesse lugar?
Giuliana Zamprogno: É muito feliz porque é muito positivo, sabe? Às vezes eu tenho uma questão na palavra resistência que às vezes ela é muito resistente em si, parece que ela é muito propositiva e eu sinto que a esquerda está tomando as rédeas de um projeto (estou considerando a esquerda aqui Tiradentes) , tomando as rédeas de um projeto, de construir algo junto, de estar sendo finalmente feito.
Junto a isso, acho que vejo a primeira vez que me vejo como juventude que está levantando algo novo, também tem um reconhecimento de categoria que está rolando, principalmente esse contato profissional, é muito o que a Iara falou, ouvi muito nos últimos anos “como essa juventude é desmobilizada, como antigamente a galera era mais radical, como as nossas relações estão super frágeis , enfim, modernidade líquida”.
Mas aí eu acho que o festival fez esse respiro. Você vê ali pessoas botando muita fé e querendo ali que a gente participe e cresça, não só esses elogios, mas desde a coordenação mas do incentivo de todo o festival para que a gente estar pensando, tendo uma tranquilidade de exercer um trabalho, isso é muito raro no Brasil, é uma puta formação que você tem aqui, e isso para mim é claro que é positivo, mas é uma responsabilidade muito grande. A gente está saindo do júri jovem com uma parte de que esse trabalho continue, sabe? Acho que é estender esse trabalho, explorar e eu acho que isso pode ser uma via muito boa para cada um de nós.
Lauren Mattiazzi: Você tinha dito sobre esperança nesses próximos ano nesse novo governo, mas eu sinto uma esperança não só no cinema, no audiovisual, na cultura, mas também na educação, como estudantes do júri jovem, sinto essa esperança nisso. Pelo menos na minha universidade houveram muitos ataques, muitos cortes de verba, então chego a um ponto assim que a universidade comunicava a nós que não sabia se ia ter como pagar os funcionários e manter até o final do ano, era uma incerteza muito grande.
Antes da pandemia perdi a conta de quantas manifestações a gente foi para reafirmar o quanto isso é importante, como a educação é importante, essa esperança que a gente sente, eu sinto também na educação, na universidade, essa valorização necessária para que o futuro seja melhor, a importância da educação na vida das pessoas.
Leonardo Amorim: Eu acho que também levando em conta os investimentos, para o retorno do Ministério da Cultura, eu sinto que esse governo agora vai aprender com o que foi feito no passado e vai haver uma descentralização dos recursos para garantir que o Brasil como um todo, norte, nordeste, centro oeste e sul também entre nessa distribuição desses recursos que ficaram muito tempo em Rio/ São Paulo.
Prodview: Vocês querem acrescentar mais alguma coisa?
Quemuel Costa: Eu gostaria de falar uma coisa que a gente sempre comenta, que fica muito explícito em nossos textos, no início quando a gente cita as nossas cidades e estados, mas que o júri jovem antes quando acontecia presencial limitava muito, porque você precisava estar aqui para ser selecionado.
Com a pandemia, passou a ser online, passou a ser nacional, e quando voltou a ser presencial achei que talvez não se mantivesse pelo custo de estar aqui, mas se manteve, e isso permite o fato de ter uma galera de 4 regiões diferentes do país, são visões muito distante, e isso é um ganho muito grande, e é sobre essa descentralização que Léo fala quase como um espelho.
Saiba mais sobre a 26ª edição da Mostra de Cinema Tiradentes em nossa cobertura completa.
*Texto produzido com a colaboração de Fabiane Watanave.