19a CineOP: A animação no Brasil é recente, mas com diversas possibilidades para o futuro
Dando continuidade à 19 CineOP, a Roda de conversa da Temática histórica deu lugar a “Animação Ontem e Hoje”, sediada no Hall de Convivência – Centro de convenções.
Foram convidados Adriana Pinto, executiva criativa e animadora de SP; Arnaldo Galvão, produtor e diretor de animação de SP; Marco Arruda, produtor e diretor do RS; Tania Anaya, cineasta de MG para debater sobre o tema; com mediação de Cleber Eduardo e Fábio Yamaji, ambos curadores da Temática Histórica.
Com fundo de tela sobre o caminho da animação brasileira, com suas mudanças e novidades, a roda de conversa refletiu sobre como está a animação hoje e que rumos são vislumbrados.
O mediador Cleber iniciou a discussão trazendo uma reflexão sobre a “pressa” e os prazos e como eles se relacionam com a animação: “Criamos com pressa, criamos com prazo, com incertezas, sem garantias, paixão, perseverança, limites, potências, com falta de muitas coisas, mas também com abundância de muitas outras. As animações são feitas ainda no ‘apesar de’, nossas animações hoje em dia sofrem uma espécie de eterno retorno ao marco zero, a continuidade da animação e suas melhorias de condição não são garantidas pelos seus trabalhos e a ausência do Anima Mundi é um exemplo disso, por isso a 19 edição da Mostra é uma das proezas a serem celebradas pelas suas persistências”.
Órfãos do Anima Mundi, maior festival de animação da América Latina interrompido na pandemia, criadores tiveram novamente a rica oportunidade de se reencontrarem e discutirem os rumos da área na cidade histórica mineira. Marcos relembrou e reforçou sua alegria em retomar o encontro com o mercado. “É a primeira vez que retorno aqui após a pandemia para reencontrar as pessoas e estou muito honrado de estar aqui”.
“A animação é uma indústria criativa e sempre essencialmente coletiva”, é o que defendeu a Adriana Pinto, executiva criativa e animadora de SP, além disso relembrou as dificuldades de sua trajetória profissional no país. “A história de animação no Brasil é, na verdade, muito recente”.
Tania comentou um pouco sobre a complexidade da produção em animação, desde a criação do storyboard até a finalização: “A animação tem isso, a parte criativa é muito legal e muito vibrante. A gente faz uma “bíblia” e faz com os detalhes, todos os personagens e como o cenário irá funcionar, então requer muito tempo, trabalho e dedicação”.
Mas, além dos desafios, há muito a se comemorar.
“A gente conseguiu, temos muitos filmes que estão aqui hoje no CineOP e fazer com que esses filmes cheguem a mais gente é muito importante. Até mesmo os filmes que não são muito conhecidos pelos outros animadores”, destacou Fábio Yamaji.
Outra fala importante foi do Arnaldo Galvão, ele comentou que “os filmes mais antigos e clássicos de animação são muito autorais e temos diversos exemplos disso na animação brasileira”.
O desafio da distribuição
Ainda na CineOP, o Prodview acompanhou uma coletiva de imprensa especial com os cineastas animadores Marão, Sávio Leite, Igor Bastos, Tânia Anaya e Marco Arruda.
O cinema de animação é bastante atrativo para o público, nas bilheterias cerca de 20% dos ingressos são para esse tipo de filme, embora a produção abarque apenas 2%.
Além das dificuldades impostas pelo próprio mercado durante a produção, a animação também enfrenta outros desafios na distribuição ao concorrer com produções estrangeiras e com orçamentos robustos de marketing.
“No filme Placa Mãe, que fala sobre inteligência artificial, eu faço um trabalho com as escolas e as professoras e depois demos um material didático para ser trabalhado em sala de aula. Faço essa mesma movimentação com espaços de projetos sociais. Então, é meio que de guerrilha, de ir trabalhando com os grupos de interesse e dá muito certo”, conta o diretor Igor Bastos.
Ainda assim, o mercado de animação resiste e segue em crescimento. Marão apresentou um dado bastante importante: de 1917 até 2000, cerca de 30 longas de animação foram feitos. Hoje, no Brasil, já há mais de 50 filmes lançados e outros 40 novos em produção.
Tania Anaya acrescentou a importância da participação nos festivais e o quanto isso colabora para a carreira do filme, principalmente os curtas, que não tem tanto espaço e apelo comercial.
Os animadores também comentaram sobre a questão das cotas de tela, da importância do fomento para produção e como evoluiu a formação dos profissionais nesta área, além do impacto do streaming, que paga muito pouco para produções independentes.
“Faço o festival de BH há 22 anos e acredito que a construção de que animação é só para criança tem que ser desmistificada. A animação nasceu na França como conteúdo adulto e nesse festival eu provo exatamente isso”, finalizou Sávio Leite ao ressaltar quão rica é a produção e a diversidade de conteúdos e técnicas em animação.
*Com a colaboração de Fabiane Watanabe