Estudo sobre desigualdade de gênero, pacto antiassédio e eventos dão foco à mulher no mercado audiovisual

O movimento antiassédio e de empoderamento feminino não é algo exclusivamente atual, porém tem tomado cada vez mais espaço na mídia e força no mercado audiovisual, especialmente após as denúncias contra nomes poderosos do setor e com o crescimento de relatos como os com a hashtag #MeToo, além do movimento Time’s Up. O mercado, porém, tem ainda muito o que progredir nesse assunto.

É o que uma pesquisa da organização Birds’ Eye View aponta ao mostrar a desigualdade de gênero em cargos de alta responsabilidade na indústria cinematográfica.

Estudo detalha desequilíbrio no setor

A pesquisa foi realizada com base nos dados de grandes festivais de cinema realizados entre 2009 e 2018, além de contar com entrevistas de 48 mil profissionais de 18 países. Com isso, o estudo revela números importantes como que apenas 35% dos profissionais de cargos de alta responsabilidade como CEOs e diretores são ocupados por mulheres.

Já as funções de média responsabilidade, que incluem chefes de departamentos e gerentes, têm um equilíbrio melhor, com as mulheres até atingindo uma leve maioria numérica de 51%. Um ponto que deixa claro o desequilíbrio do setor, no entanto, é a maioria absoluta de mulheres em cargos de baixa responsabilidade, com elas representando 64% dos colaboradores.

Nas subáreas do mercado cinematográfico a produção e a distribuição se mostraram as mais desiguais, com apenas 31% e 29% dos cargos de maior responsabilidade indo para mulheres. Entre os territórios que se destacaram por terem melhor igualdade estão a China (47% em alta responsabilidade) e a Rússia (49%), enquanto os piores rankings ficaram com a Alemanha (27%) e a Índia (24%).

Segundo outro estudo, este realizado pelo Center for the Study of Women in Television and Films da Universidade de San Diego (EUA), a área de críticos de cinema também tem bastante desigualdade, com as mulheres representando cerca de um terço apenas dos críticos profissionais.

Pacto antiassédio no Brasil

Durante o Seminário Internacional Mulheres no Audiovisual, promovido pela ANCINE em parceria com o SESC-SP em 4 de julho, a Academia de Filmes realizou uma assinatura simbólica de um pacto antiassédio junto a produtoras e juristas. Entre as produtoras, estavam Conspiração, Gullane, Hungry Man, O2 e Prodigo Films.

A ideia do documento, nomeado de “Pacto de responsabilidade antiassédio no setor audiovisual”, é inibir e apurar denúncias de assédio no setor audiovisual. Assim, o pacto também sela a responsabilidade dos envolvidos no combate aos casos de assédio, tem agenda de ações e eventos, contando ainda com cartilha, que visa orientar vítimas, testemunhas e produtoras, especialmente as que lidam com sets de filmagens. “Temos trabalhado cada vez mais com equipes lideradas por mulheres e projetos voltados a temáticas femininas, por isso, é muito importante cuidar das relações de trabalho, garantindo um ambiente saudável para nosso grupo de colaboradoras”, completa Juliana Bauer, gerente de Negócios da Academia de Filmes.

O pacto conta com o apoio também da Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais – APRO.

Festivais e eventos com foco na mulher

O Seminário em questão foi a segunda edição do evento da ANCINE. Sua programação contou com debates sobre temas como a revolução inclusiva de Hollywood, cases de sucesso como da distribuidora Array e seu foco em produções de negros, panoramas de diversidade no mercado brasileiro e percepção sobre assédio.

Outro evento recente que foi totalmente voltado à mulher foi o FIM CINE – Festival Internacional de Mulheres no Cinema, também realizado em São Paulo (SP), entre 4 e 11 de julho. “Foi uma semana intensa e histórica para as mulheres no cinema. Iluminar tantos talentos nacionais e internacionais atuantes com sessões de filmes, debates e diálogos significa um avanço para o alcance de maior espaço para as mulheres no cinema brasileiro. Um empurrão em direção à equidade de gêneros e raça no cinema como caminho para a pluralidade das narrativas”, afirma Minom Pinho, idealizadora do festival.

Na mostra competitiva do FIM CINE, os longas vencedores foram o brasileiro Slam: Voz de Levante, de Tatiana Lohmann e Roberta Estrela D’Alva, e o mexicano Tesoros, de María Novaro. O premiado do programa especial “Lute Como uma Mulher” foi Lampião da Esquina, de Lívia Perez, que recebeu o Prêmio de Crítica do Coletivo Elviras.

Além disso, cinco projetos foram contemplados pela 1ª edição do Fundo Avon de Mulheres no Audiovisual – F.A.M.A.: A Primeira Morte de Joana, de Cristiane de Oliveira; Cidade do Funk, de Sabrina Viana Fidalgo da Silva; Cais, de Safira Moreira dos Santos; Daqui de Dentro, de Larissa Ribeiro Bezerra; e Minha Fortaleza, os Filhos de Fulano, de Tatiana Lohman.

Na produção, uma iniciativa inovadora veio também da Elo Company, que criou o selo Elas, destinado a projetos audiovisuais de diretoras – tudo em busca de narrativas femininas. A ação ainda prevê a formação de uma rede de mentoras que incluem atrizes, diretoras, roteiristas, advogadas e outras profissionais ligadas ao setor audiovisual.

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