Entidades e produtores debatem sustentabilidade financeira da indústria audiovisual
Entre os destaques deste primeiro dia de painéis da MAX – Minas Gerais Audiovisual Expo 2018, realizada em Belo Horizonte (MG) até sábado (01), estiveram debates sobre temas essenciais para o setor audiovisual como a sustentabilidade financeira dessa indústria, investimento privado e capacitação.
Lei 12.485/11: benefícios e impactos no mercado
Passados cinco anos do sancionamento da Lei 12.485/11, o evento reuniu representantes de diferentes setores do audiovisual para debaterem os impactos da legislação no mercado. Com mediação de Breno Nogueira, produtor da Aldeia Produções e membro do Conselho da BRAVI, a mesa-redonda teve participação de Tereza Trautman (CineBrasil TV), Magno Maranhão (ANCINE), Matheus Peçanha (Estúdio GIZ), Carlos Ribas (CISUP) e Paulo Schmidt (Academia de Filmes).
No encontro, ficou clara a importância da lei na criação de oportunidades para o mercado de produção crescer, inclusive gerando o surgimento de diversas produtoras. “Esse evento já sinaliza o quanto a lei foi relevante para a indústria, que só tem o que crescer. Porém, nosso modelo de negócio ainda está baseado no recurso público, temos que trabalhar para mudar isso”, disse Schmidt.
Com críticas à atuação da ANCINE no momento de implantação da legislação, Tereza também alertou para o fato de que a cota para produção nacional só é válida, a princípio, por mais cinco anos (2023). Ela afirmou torcer para que o prazo da cota se estenda para que se possa manter e aumentar a participação do conteúdo nacional. Segundo Maranhão, de 2010 para 2017, o market share de conteúdo brasileiro em TV paga foi de 1,5% para 18%.
Oportunidades de capacitação e desenvolvimento
Além de toda a perspectiva informacional de vários painéis do evento, a MAX 2018 teve uma apresentação dedicada à capacitação e desenvolvimento profissional para o setor audiovisual com iniciativas como o P7 Criativo. A companhia se posiciona como a primeira agência de desenvolvimento da indústria criativa do Brasil
“Nosso objetivo é tornar o modelo de produção sustentável. Essa imagem de artista maldito começa a cair para dar lugar a pessoas que querem ser empreendedores criativos”, disse Guerra. Para ele, uma estratégia possível para produtoras é sempre manter uma carteira de projetos em diferentes estágios de desenvolvimento, esse catálogo daria maior segurança à empresa em vez de ela depender do sucesso ou fracasso de um único projeto.
Quanto à capacitação, Maíra Santana, coordenadora nacional de Economia Criativa do SEBRAE, comentou que é capacitando as empresas do audiovisual que o Brasil poderá se tornar um mercado mais competitivo. Nesse contexto, Maíra ainda destaca que as micro e pequenas empresas têm um papel fundamental na movimentação do mercado. A executiva, ao lado de Odete Cruz, gerente executiva da APRO, apresentou ainda a proposta de capacitação EAD criada por ambas as empresas. Trata-se de uma ampliação do projeto piloto de formação profissional chamado Objetiva, case que impactou cinco cidades brasileiras e gerou material didático-teórico sobre o mercado.
Outra oportunidade de desenvolvimento e capacitação foi apontada por Daniela Pfeiffer, coordenadora geral da CTAv, que faz parte da SAv. Segundo ela, a CTAv iniciou uma série de cursos e workshops no Rio de Janeiro (RJ), local de sua sede, onde também recebe visitas guiadas e fornece gratuitamente estúdios para gravação.
Investimento privado e recurso público
Na parte da tarde, a MAX 2018 recebeu uma mesa-redonda sobre mecanismos de investimento na indústria audiovisual com nomes como Fernanda Farah (BNDES), Gabriel Kessler (Investimage) e Cristiano Garcia (Culturinvest). A executiva do BNDES comentou o histórico do apoio do banco ao setor de economia criativa e em especial ao mercado audiovisual, sendo que só em Minas Gerais a organização já apoiou mais de 10 longas, bem como a rede de cinemas Cineart.
Fernanda explicou ainda que a linha Procult passa por reformulação com expectativa de relançamento por volta de outubro, “porém não envolve apenas o meu departamento. A ideia é que seja um produto mais rápido do que o Procult e que seja com uma garantia mais flexível também”. Ela ainda brincou, pedindo as campanhas #VoltaProcult e #BNDES10.
Já Kessler e Garcia apontaram oportunidades para o diálogo entre produção e investimento privado, por meio dos FUNCINEs da Investimage e da Culturinvest. Inclusive, o executivo da Investimage afirmou que, além da criação do FUNCINE Minas Gerais, ainda neste segundo semestre será lançado um modelo de fundo de investimento no qual as cotas de FUNCINE poderão ser adquiridas por pessoas físicas por meio da Bolsa de Valores.
Todos os executivos declararam que falta ao empreendedor de produção a formação ou pelo menos um parceiro com perfil de gestão e não apenas criativo. Quem também concordou com a afirmação foi Christian de Castro, diretor-presidente da ANCINE, que realizou a palestra “Novas linhas do FSA e os mecanismos de fomento público”.
Na apresentação, o executivo explicou sua trajetória, vinda do mercado privado, e apontou que no momento a ANCINE já disponibilizou mais de R$ 728 milhões em editais neste ano. Christian também explicou que a agência está criando indicadores de avaliação do Fundo Setorial do Audiovisual – FSA, incluindo resultados financeiros e outros dados como impacto na indústria, e os trabalhos da entidade continuam. “O FSA rompeu o gargalo da produção, mas temos gargalos na distribuição e exibição. Claramente precisamos de mais produtos comerciais”.
Após a apresentação, o executivo respondeu perguntas da plateia por cerca de uma hora.
Confira detalhes da programação do evento e outros destaques do primeiro dia de painéis.