Cine BH propõe um novo olhar sobre o modo de produzir e debate os desafios do mercado de documentários

Além da intensa programação de longas, curtas, rodas de conversas e sessões Cine-Escola, o CineBH contou com dois encontros de formação audiovisual nesta quarta (29/08) no Teatro João Ceschiatti (Palácio das Artes, BH – MG): “Modos de Produzir” e “O Mercado e a Formação em Documentário”.

 

Repensar o modelo e a estrutura atual de produção

Laura Citarella, produtora e diretora da El Pampero Cine, que foi homenageada na noite de abertura (veja detalhes abaixo), apresentou a masterclass “Modos de Produzir”, que promoveu um intercâmbio de experiências, com objetivo de apontar exemplos da história do cinema e dos filmes produzidos pela El Pampero Cine para propor um novo olhar e modos de produção de conteúdo.

Focar e unir os problemas na produção e suas possíveis soluções estéticas incidem diretamente no resultado final do produto. A mediação foi do crítico e curador do evento, Francis Vogner dos Reis, que reforçou a escolha da Pampero primeiro pelo tema proposto nessa edição do CineBH (Pontes Latino-Americanas), que faz proposições importantes para discutir o cinema latino-americano, sua cultura, economia, história, estética e conjuntura atual; e segundo pelo fato do cinema argentino ser o de maior penetração na Europa, como uma “indústria que realmente funciona”.

Laura comentou que a Pampero adquiriu uma expertise e um modo de produção que não pode ser transferido simplesmente para outra produtora, porque nasceu já de um grupo de cineastas que queriam fazer cinema de uma forma diferente e com pouco recurso.

“Produzir tem a ver com um processo, é uma estrutura econômica, nasce com a ideia de poder experimentar livremente, para que o cinema não morra e possa contrapor formatos que embrutecem a linguagem cinematográfica”, disse.

A cineasta comentou que esse mercado estabelece normas e padrões de como se deve produzir, com quais equipamentos e quais cargos devem ser preenchidos, e isso engessa e encarece a produção, ou seja, é possível fazer o mesmo com muito menos recursos, basta repensar o modelo atual, arriscar em novas propostas narrativas e de captação e trabalhar em sinergia e equilíbrio entre direção, produção e elenco.

“A maneira de produzir é a maneira com que esse filme vai ser visto. Quantas mais formas de produzir, mas diversidade teremos, quanto mais experimente na forma de produzir, mais surpresas podem aparecer”.

 

Os desafios do mercado de documentários

O encontro “O mercado e a formação em documentário”, contou com Luis González Zaffaroni (diretor do DocMontevideo/DocSP – Uruguai), Maria Bonsanti (diretora do Eurodoc – França) e Pierre-Alexis Chevit (diretor do Doc Corner Project, Marché du Film, Cannes Festival – França), com mediação de Gudula Meinzolt, colaboradora do Brasil CineMundi.

O documentário contemporâneo, que vive período de efervescência cultural, se apresentando como um meio importante para a reflexão e a discussão sobre a sociedade e o mundo em que vivemos, ao mesmo tempo em que ocupa, cada vez mais, um espaço importante no mercado audiovisual. Os convidados debateram questões de mercado, formação e alcance que o gênero apresenta na atualidade.

“O documentário de criação está muito mais integrado que antes, hoje ele concorre e ganha prêmios. O gênero passou por muitas mudanças e consequências, principalmente com o digital e não se sabe o que acontecerá no mercado como um todo, por isso é preciso promover discussões como esta”, disse Gudula.

Maria Bonsanti explicou como funciona o Eurodoc, programa de formação para produtores de  documentários, que vai ocorrer em três semanas em diferentes mercados europeus (março, junho e outubro). As inscrições estão abertas até 13 de novembro e o investimento é de 1400 euros. Podem participar produtores com um projeto em desenvolvimento ou produtores apoiados por instituições que possuam algum fundo de fomento. “Estar em um encontro como esse representa algo muito importante na carreira de um produtor e abre caminho para parcerias internacionais e coproduções. Além disso, você aprende muito e passa a fazer parte de uma rede”, completou.

Gonzales adicionou suas experiências no DocMontevideo e no DocSP, espaços para o desenvolvimento de documentários, com sessões de pitchings, rodadas de negócios e seminários. Já Pierre-Alexis Chevit comentou sobre o Doc Corner Project (criado em 2012) na programação do Marché du Film, em Cannes, que reúne os profissionais. “Felizmente, graças aos filmes e ao público que aprecia, os grandes festivais que antes tinham dificuldade em enxergar o documentário como uma produção cinematográfica, agora compreendem e reconhecem o seu espaço”, ressaltou.

No entanto, o mercado de documentários ainda sofre com a pouca oferta de financiamento, as vezes atrelado a TV, além da distribuição de maneira desigual com outros gêneros.

 

Noite de abertura (28): representatividade, performance, América Latina

A abertura da 12ª CineBH movimentou o Cine Theatro Brasil Vallourec na noite de terça-feira, dia 28. Seguindo a temática desta edição, “Pontes Latino-Americanas”, a cerimônia, dirigida por Chico de Paula e Grazi Medrado, contou com a apresentação de Giovanna Heliodoro, que mostrou aos presentes as principais atrações da mostra este ano, com uma performance da atriz Marina Viana, em diálogo com a ideia de pontes, limites, relações e uniões.

A produtora argentina Laura Citarella recebeu o Troféu Horizonte em homenagem à El Pampero Cine, coletivo de realizadores que vem se destacando por suas formas de produção e exibição fora dos meios tradicionais. Ao lado de autoridades e do trio de curadoria formado por Pedro Butcher, Francis Vogner dos Reis e Marcelo Miranda, Laura disse ter recebido o tributo com surpresa. “Não falo isso como falam aqueles artistas que ganham homenagens e se dizem surpresos, porque eles não estão. Falo com sinceridade: não esperávamos um reconhecimento como esse”.

Ela frisou que a El Pampero Cine se caracteriza como um “encontro de amigos” e disse não qualificar o grupo como uma produtora. “Somos companheiros, praticamente irmãos, e queremos que seja assim a vida toda”. A El Pampero é formada por Laura, Mariano Llinás, Alejo Moguillansky e Agustín Mendilaharzu. Além de La Mujer de los Perros, de Laura Citarella e Veronica Llinás, exibido nesta quarta, a Mostra Homenagem contará também com as sessões de La Flor, de Mariano Llinás, vencedor do Bafici em 2018 e um dos grandes destaques da programação do evento.

Fechando a noite de abertura, foi exibido, em pré-estreia nacional, o paraibano Sol Alegria, de Tavinho Teixeira e Mariah Teixeira. A sessão teve a presença do cantor Ney Matogrosso, que atua no filme como um “toureiro do fim do mundo”.

 

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