CineBH traz modelos de negócios e oportunidades com outros países, além de reflexões sobre a estética das produções
Apesar de em 2017 o mercado cinematográfico ter apresentado sua primeira queda de público, após 8 anos consecutivos, em termos de arrecadação o reflexo não foi o mesmo. Nos últimos 15 anos, com exceção entre de 2005 a 2008, a frequência do público e a arrecadação da bilheteria teve um crescimento significativo, com um salto de 75 milhões de ingressos vendidos em 2001 para mais de 180 milhões em 2016 e 2017. Os números são do site FilmeB.
Partindo desses dados, percebe-se o quanto o segmento audiovisual no Brasil tem espaço para continuar em expansão, principalmente por que apenas 7% dos municípios brasileiros têm salas de cinema para exibir esses conteúdos.
E para estabelecer novas redes de contatos e conexões globais que reflitam em uma produção de maior qualidade nacional, aliada ao contexto e possibilidades internacionais, o CineBH, que segue com programação até 02/08 conta com um Programa de Formação Audiovisual que reúne 30 profissionais brasileiros e estrangeiros de destaque na cena audiovisual no centro de cinco debates, quatro painéis, uma masterclass, um laboratório e três oficinas com total de 280 vagas.
Nesta sexta (31) aconteceram dois painéis para trazer oportunidades aos cineastas:
- Sundance: O painel Filme Internacional no Sundance com Heidi Zwicker (programadora do Sundance Film Festival – EUA) e Séverine Roinssard (produtora da Parati Films e coordenadora do La Fabrique des Cinémas du Monde) destacou as oportunidades ofertadas aos cineastas no Sundance Film Festival e no Sundance Institute, além de abordar como os programadores de festivais trabalham para conhecer e selecionar os projetos. O programa abre em 14 de setembro. Vale destacar que no Brasil a ANCINE realiza o “Encontros com o Cinema Brasileiro”, que seleciona 12 filmes para serem exibidos aos programadores de Sundance.
- Fundo na Noruega: No Painel SORFOUND – Fundo de Investimento Audiovisual da Noruega, Mads Voss (coordenador de programação do Fims fron the South Festival – SORFOUND) explicou detalhes do recurso que apoia projetos de países da lista DAC (América Latina, Ásia, Africa e Oriente Médio). O objetivo é fortalecer a produção cinematográfica nesses países e aumentar a colaboração internacional. Dentre as prioridades do fundo estão qualidade artística e identidade cultural local. Rafiki (Quênia, estrelado em Cannes em 2018) e Las Herederas (Paraguai, estrelado em Berlim nesse ano) estão entre os últimos lançamentos apoiados pelo fundo, que chega a 400 mil euros por ano para longas. Mais de 51 filmes tiveram aporte desde 2011.
Além disso, duas mesas de debate tiveram o propósito de esclarecer aos participantes formas de acesso a mercados externos. Uma delas tratou de experiências na França, com representantes de produtoras que apresentaram possibilidades e os principais desafios de se firmar parcerias do Brasil com o país europeu. E a outra, se estendeu para toda a Europa, reunindo Annabelle Aramburu, consultora da Espanha, e Rosanna Seregni, produtora da Itália, para esclarecer diversos pontos a respeito de mercados continentais, redes de realização e programas de apoio, circulação e exibição.
Higlights das Rodas de Conversas e Diálogos
O CineBH proporciona um ambiente que se transforma em um verdadeiro ponto de encontro entre críticos, pesquisadores e cinéfilos, que discutem não só os filmes, mas as relações estéticas entre as produções. As Rodas de Conversa e os Diálogos Históricos propostos na programação compõem esse cenário e ocorrem logo após a exibição dos filmes. Confira algumas falas que marcaram esses ambientes:
*Roda de conversa com Samuel Marotta (responsável pela produção Baixo Centro)
“Eu tinha feito dois filmes na minha cidade natal (Dores do Turvo, no interior mineiro) e precisava me reconectar com Belo Horizonte de alguma forma. Pensei, então, na história de dois jovens que se encontram pela noite e se envolvem com esse pedaço da cidade que é o centro”, contou Marotta.
*Diálogo Histórico com Pesquisador João Luiz Vieira sobre Carnaval Atlântida, chanchada de 1952
“Em 1952, Carnaval Atlântida surgiu trazendo respostas a alguns dilemas daquele momento e parodiando essas ambições de grandes espetáculos da Vera Cruz, que tendia a menosprezar essas comédias”. A noção de “filme-manifesto” defendida pelo pesquisador já começava no título, que trazia o nome do estúdio vinculado ao Carnaval, algo ainda hoje inédito.
*Roda de Conversa com Edgard Navarro (realizador de Abaixo a Gravidade)
Para o cineasta todo o maquinário de produção, equipes grandes e exigências burocráticas de orçamento e de leis e editais sabotam a espontaneidade que ele busca imprimir em seus trabalhos. “Chega, cansei disso! Agora quero ser é ‘cinemêro’, como eu era lá no começo”, afirmou, em referência a seus primeiros trabalhos com película Super-8, ainda nos anos 1980.
*Diálogo Histórico com o crítico argentino Roger Koza, que apresentou e comentou o drama Pajarito Gómez – Uma Vida Feliz (1965)
“A modernidade não é uma invenção latino-americana, mas uma exportação intelectual da Europa. Isso não significa que não podemos ser modernos, e sim nos coloca a questão de como nos apropriar da forma moderna na América Latina”, comentou. Koza disse que, na Argentina de hoje, inexiste uma tradição moderna de cinema, com raras exceções – uma delas, segundo ele, é Mariano Llinás, cujo novo trabalho, La Flor, está na programação da CineBH, como parte da homenagem à produtora El Pampero Cine.
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