Representatividade da mulher negra e diálogo com Geração Alpha são desafios do audiovisual
A Minas Gerais Audiovisual Expo – MAX deste ano fechou sua programação de painéis nesta sexta-feira (31), em Belo Horizonte (MG), com temas baseados em demandas urgentes do mercado audiovisual e da sociedade.
Um desses assuntos foi a representatividade da mulher negra no setor, tão relevante e impactante para o País. O evento, iniciado na terça (28) com programação cultural, debateu também os desafios para a produção para a Geração Alpha, o mercado de web séries, o papel do áudio e a minimização de riscos para o mercado de produção nacional.
A presença da mulher negra no audiovisual
Belo Horizonte é o local de nascimento da primeira diretora negra que esteve à frente de um longa-metragem no Brasil, Adélia Sampaio (Amor Maldito). Isso demonstra o longo caminho que a indústria audiovisual ainda tem que percorrer para ser mais igualitária, já que a produção ainda é formada em sua maioria por homens brancos.
Em 2016, por exemplo, nenhuma mulher negra assinou um longa-metragem no País, sendo que os incentivos da ANCINE e de outros órgãos cresceram desde então. Outros números de um estudo da mesma entidade também preocupam. Nos anos de 2002, 2008 e 2013, nenhum dos filmes de maior bilheteria foi protagonizado por uma mulher negra. De 2002 a 2014, 45% do elenco principal dos filmes foi composto por homens brancos e 69% das produções contou com roteiristas brancos. No caso de direção, a presença dos homens brancos é de 84% e não houve, no período, nenhum longa dirigido por uma mulher negra.
Com base nessa temática, a mesa “Outras narrativas: a representatividade da mulher negra no audiovisual” discutiu a presença da mulher negra no audiovisual buscando construir novas estratégias para combater as desigualdades presentes no cinema contemporâneo.
Participaram do debate: Tatiana Carvalho Costa (pesquisadora da UNA), Renato Cândido (vice-presidente da APAN (Associação de Profissionais do Audiovisual Negro) e Juliana Vicente (diretora da Preta Portê Filmes). “Queremos não só editais e cotas, mas sim fazer e produzir todas essas obras, fazendo circular o dinheiro entre nós e para nós”, comentou Renato.
Os panelistas chamaram atenção para a questão da formação de profissionais que estejam engajados em todas as etapas da produção; do diálogo entre o que é discutido politicamente e artisticamente na linguagem dos filmes estar aliado à possibilidade de geração de negócios, inclusive internacionais, além de repensar as formas de distribuição e consumo do conteúdo.
“Temos que continuar batendo em várias teclas, fazer filmes e criar condições políticas para a viabilização de várias narrativas audiovisuais (cinema, propaganda, música…) em várias frentes de ação”, concluiu Tatiana.
Geração Alpha: a atenção de crianças de 0 a 8 anos
Com mediação de Silvia Dalben, produtora executiva da D2R Studios, um painel da MAX apresentou cases e detalhes sobre a chamada Geração Alpha, que contempla crianças com nascimento a partir de 2010. Participaram da mesa-redonda os executivos Reynaldo Marchesini (CEO da Flamma), Aline Belli (sócia da Bello Studio) e Luiz Filipe Figueira (coordenador de conteúdo e programação do Gloob & Gloobinho).
Segundo Figueira, essas crianças nascem nativas digitais assim como a Geração Z (de 1995 a 2010), porém com maior protagonismo, autonomia e desejo de criar conteúdo. “Vale a pena não pensar só no que a criança gosta, mas do que ela precisa. É importante olhar com carinho para os problemas dessa relação com o meio online”, comentou.
Entre os cases apresentados estão Escola de Gênios do Gloob, Boris & Rufus da Belli Studio e Princesas do Mar da Flamma, este último também recebeu atenção especial por ter alcançado destaque no mercado internacional, sendo exibido em 128 países. “Não tinha leis de cota nem grandes incentivos na época”, disse Marchesini.
Web séries: narrativas digitais
O meio digital movimentou muitas mudanças na produção audiovisual, incluindo na criação de novos formatos de conteúdos como as web séries ou séries digitais, geralmente de curta duração com veiculação exclusivamente pela internet. “A gente trabalha com equipe grande e cara, os distribuidores exigem que o conteúdo esteja pronto para passar em qualquer tela”, disse Guto Aeraphe, diretor da Cinemarketing Filmes.
Segundo o executivo, ainda existe uma banalização da produção de séries digitais ou micro movies ainda que existam cases bem-sucedidos como Red, apresentado por Viv Schiller, roteirista do conteúdo que tem como temática um relacionamento lésbico. “Queria trazer um conteúdo livre de canal tradicional, era uma história de um público oprimido e a demanda existia”. O debate contou também com a participação de Flavio Langoni, cineasta, e Marcelo Marques, sócio da Guerrilha Filmes, que tem se destacado pelos conteúdos de ficção científica.
A música no audiovisual e a minimização de risco na produção
A MAX 2018 recebeu a presença da União Brasileira de Compositores – UBC tanto em estande oficial no evento quanto por meio de painéis. Em uma dessas apresentações, Elisa Eisenlohr, gerente de comunicação da entidade, apontou os meios pelos quais os autores e produtores fonográficos recebem seus direitos autorais em produções audiovisuais. Além disso, a executiva tirou dúvidas da plateia e, em comentário ao Prodview, contou que a UBC pleiteia com a ANCINE que o detalhamento dos fonogramas dos filmes brasileiros faça parte do processo normal das produções aprovadas em editais.
Já do lado jurídico e de seguros ligados ao mercado, representantes da Cesnik, Quintino e Salinas Advogados, Chubb do Brasil e Cesnik Corretoras de Seguros explicaram a importância de as produções nacionais já preverem em seus orçamentos iniciais os investimentos em seguro e na avaliação dos riscos jurídicos do projeto. “Esse é um tema fundamental para quem atua no audiovisual, é importante sabemos das nossas responsabilidades. A gama de responsabilidades jurídicas em uma produção audiovisual é muito grande”, afirmou Alessandro Amadeo, advogado da Cesnik, Quintino e Salinas Advogados.
O executivo destacou o serviço de Clearance, no qual advogados avaliam do roteiro até o primeiro corte da produção, para orientar e resguardar a produtora. Já Juliana Santos, gerente de entretenimento da Chubb do Brasil, reforçou que o pensamento de algumas produtoras pequenas de que não precisam de seguro para sua operação por conta de seu tamanho enquanto empresa é uma ação prejudicial. “As grandes produtoras já têm faturamento para lidar com tudo isso, mas a pequena pode falir nesse processo”.
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