Curador da 14ª CineBH destaca liberdade do espectador on-line e representatividade da arte

A 14ª Mostra CineBH foi realizada entre 29 de outubro e 2 de novembro de modo digital, organizada pela Universo Produção. Além de promover a cobertura do evento, o Prodview também entrevistou um dos profissionais que fizeram parte do time de curadores da CineBH: Marcelo Miranda.

Confira a entrevista na íntegra:

 

Marcelo Miranda, curador da CineBH em 2020

Prodview – Quais foram os desafios e as possíveis facilidades para se manter a essência conceitual da CineBH em versão digital?
Marcelo Miranda – O desafio é sempre ter uma grade enxuta e limitada de títulos e tempo diante de tantas possibilidades de filmes, já que a CineBH tem caráter internacional. Com o evento on-line, tivemos que fazer um recorte ainda mais objetivo, então pensar quais filmes entrar e como exibi-los de maneira estimulante para o espectador virtual, foi algo especial. Já sobre “facilidades”, eu não usaria esse termo pra curadoria, mas uma coisa interessante foi pensar que os filmes estariam todos disponíveis simultaneamente: se isso faz perder a experiência da sessão coletiva, em que todo mundo se reúne em um mesmo local e horário pra ver filmes, por outro lado permite grande liberdade de fluxo do espectador, que pode navegar pelos filmes e, de certa maneira, “montar” sua própria mostra.

Nos debates, muito se falou sobre os desafios e as vantagens do digital para um audiovisual e para artes vivas em meio à pandemia. Como você resumiria os resultados dessas conversas?
Foram conversas bastante estimulantes, que não exatamente encontraram respostas ao impacto e aos dilemas do atual contexto na produção de artes, mas propuseram caminhos e possibilidades a se refletir. O que ficou mais evidente é que as artes, presenciais ou remotas, vão passar por esses obstáculos se renovando e se reconfigurando, assim como sempre foi ao longo da história, em diferentes momentos e situações-limite.

Outro assunto recorrente nos debates da CineBH foi o uso do audiovisual como ferramenta de resistência e de representatividade, especialmente da voz negra. Você vê algum padrão ou tendência no uso do audiovisual em prol dessas vozes necessárias?
As pessoas oprimidas socialmente (que costumam ser chamadas de “minorias”, palavra que carrega uma hierarquia de valor) têm encontrado mais e mais possibilidades de expressão artística graças a um aumento na democratização dos acessos a equipamentos e às políticas públicas afirmativas implantadas ao longo dos últimos 20 anos – e hoje em ameaça de extinção, lamentavelmente -, que vão desde as escolas e universidades até os recursos de editais culturais. Naturalmente os filmes advindos desse processo frutificaram e ganharam visibilidade, amplificando exponencialmente as presenças diversas, a multiplicidade de vozes e pontos de vista e principalmente as pluralidades expressivas. Não acredito que haja uma preferência por ficção ou documentário; o que é perceptível é que, por conta das naturezas distintas de produção, o documentário aparece em maior número por depender mais de um encontro entre os corpos e as câmeras, sem necessariamente um aparato ficcional (roteiro, locação, atuação, iluminação, encenação etc.). Mesmo assim, esses limites são cada vez mais tênues quanto mais inventivo um filme é. Uma ficção pode se aproximar do documentário ou vice-versa sem pra isso ser uma coisa ou outra, esse tipo de hibridismo muitas vezes aparece com força em filmes muito representativos. Especificamente falando sobre a CineBH, os filmes se garantem pelo que são, e a pluralidade se torna orgânica, natural, ela aparece dentro dos nossos processos de olhar. É isso que precisa ser o ponto nevrálgico: o olhar.

 

Veja aqui a cobertura completa da 14ª Mostra CineBH.

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