23/1 – Debates sobre “Vertentes da Criação” e cinema de gênero marcam segundo dia da 24ª Mostra Tiradentes

A 24ª Mostra Tiradentes começou na última sexta (22/1), com programação gratuita planejada até 30/1, próximo sábado. E por falar em sábado, em 23/1, o segundo dia do evento foi marcado especialmente por um debate sobre a temática principal da Mostra neste ano: “Vertentes da Criação”. Assim, formaram o painel os cineastas Adirley Queirós e Cristina Amaral, com mediação de Lila Foster, curadora do evento. O foco principal foi trazer uma oportunidade dos realizadores compartilharem com o público do encontro seus modos de fazer e viver o setor audiovisual.

Cristina resumiu bem o tom da conversa ao colocar que o cinema que ela de dispõe a fazer não teria espaço para acomodação, que comentou sua grande atuação como montadora de filmes. “Tenho uma amiga que perguntou se eu não me sinto solitária enquanto estou montando, eu disse que nunca estou sozinha: aquelas pessoas todas nas imagens estão ali comigo, nesse intenso convívio com aquele material que me permite compreender todas as buscas dos participantes e do diretor”.

Para a cineasta e montadora, é necessária a tomada de consciência da busca pela autonomia e pela desobediência, especialmente em meio ao desmonte do apoio ao audiovisual. “A gente tem que cobrar as obrigações do Estado, de cuidar da saúde, da cultura, do meio ambiente. Se ele não faz isso, então para quê precisamos de governo? Hoje temos um governo que não é pra gente, ele está aí pra cuidar de outras coisas, não das pessoas. Precisamos de movimentos para buscar autonomia, pra que a gente possa atravessar e projetar um sonho, um mundo melhor. A casa caiu (politicamente), não podemos ter dúvidas disso, e esse é o momento de sobreviver, em todos os sentidos, e construir alguma coisa lá na frente. O cinema precisa estar junto disso, não existe separação do cinema que eu faço e da vida que eu levo”.

Essa correlação entre momento histórico, realidade e audiovisual também é trazida por Adirley. “Eu tenho uma relação de trabalho com o cinema, é o meu ofício. E o processo de criação nasce entre o trabalho e o desejo coletivo de quem está disposto a entrar nele, e esse processo sempre vai gerar um filme diferente a cada projeto. O processo criativo acima de tudo é individual, depois expande pro coletivo. Movidos por vontade, por desejo, por paixão, fazer os filmes é inevitável pra gente, mesmo agora, sob total ataque à produção e a qualquer possibilidade de questionamento”, disse.

RODA DE CONVERSA | A POÉTICA DO CINEMA DE GÊNERO – Foto Reprodução/Universo Produção

Já o segundo debate do dia, sob a temática “A poética do cinema de gênero”, contou com a participação dos cineastas Armando Fonseca e Kapel Furman (“Skull – A Máscara de Anhangá”), Marco Arruda (“Magnética”), Otto Cabral (“Animais na Pista”) e Rodrigo Aragão (“O Cemitério das Almas Perdidas”).

Aragão trouxe a perspectiva de quem teve que desafiar o status quo: “Eu me dedico a efeitos especiais desde muito jovem. Comecei a fazer meu primeiro filme em 2005 e terminei em 2008. Era uma época que eu ouvia muito que no Brasil não se fazia filme de terror, mas sim comédia”. Para Furman, é extremamente importante que, para se quebrar esses preconceitos, se exiba filmes de gênero em festivais como a Mostra Tiradentes. “Para a gente conseguir crescer, precisamos praticar muito. A dificuldade maior de fazer cinema de gênero, e cinema em geral no Brasil, é justamente como fazer isso em um sistema que não é comercial. Um filme não gera renda para que outro seja feito”, explicou.

Já Otto Cabral e Marco Arruda, que não fazem especificamente cinema de gênero como produções de fantasia, ficção científica e horror, afirmaram que sim, dialogam com esse repertório. “Conheço o cinema de gênero como espectador e no caso do Magnética esses elementos vieram com tudo, principalmente nas sensações”, disse Arruda.

Vale lembrar que a Mostra Tiradentes já realizou 3 dos 24 debates que, ao todo, contarão com 112 profissionais participantes. Mas quem fechou o sábado, 23/1, foi Chico César, com show ao vivo, exibido gratuita e digitalmente pela Universo Produção.

Confira os debates na íntegra:

Aqui, o show de Chico César:

 

 

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