Plataformas de streaming conquistam espaço em Veneza

Por Janaina Pereira, de Veneza

 

75º Festival de Veneza  terminou neste sábado (8), com a vitória do filme Roma, de Alfonso Cuáron. Com este resultado, um novo ciclo se inicia na indústria cinematográfica: o longa é uma produção da Netflix, que assim venceu seu primeiro festival de cinema, justamente o mais antigo do mundo, e no ano em que foi banida do Festival de Cannes.

A vitória da Netflix já era esperada – favorito absoluto, Roma tinha a preferência do público e da crítica. Paralelo a isso, aconteceu a terceira edição da Venice Production Bridge, o braço de negócios do evento. E foi lá que a Netflix teve uma influência ainda maior.

A Venice Production Bridge tem como objetivo a apresentação e troca de projetos originais de filmes e obras em andamento, de modo a fomentar o seu desenvolvimento e produção. Em 2016, por exemplo, o diretor argentino Gonzales Tobal apresentou um projeto por lá. Vindo do cinema independente, buscava financiamento para Acusada, longa-metragem sobre uma jovem que está sendo julgada por supostamente matar sua melhor amiga. Graças aos contatos feitos durante a Venice Production Bridge, Tobal retornou ao Festival de Veneza este ano competindo pelo Leão de Ouro.

“Esta é uma parte do evento que funciona muito e ajuda aqueles que buscam financiamento. E, mesmo tendo um grande orçamento em mãos, mantive o estilo que queria dar ao filme”, revelou Tobal, em entrevista ao Prodview.

E onde entra a Netflix na Venice Production Bridge? Pois é, este ano, pela primeira vez, a empresa de streaming dominou os negócios, com 12 executivos trabalhando ativamente dentro da VPB, e com foco em filmes que não fossem falados em inglês. A segunda empresa com maior número de negócios no  evento foi outra gigante online, a Amazon.

Realidade Virtual

Também chamou a atenção o grande número de produtores e executivos chineses que circularam pelo Hotel Excelsior, onde a VPB aconteceu. Estes foram atraídos por outra novidade do Festival de Veneza: a Venice Virtual Reality, primeira competição de filmes em realidade virtual na história dos festivais de cinema.

“Estamos analisando os títulos ainda disponíveis na mostra competitiva de realidade virtual, e Veneza é a única a propor falar deste novo meio”, disse o executivo Chin Poy, representante de uma produtora chinesa.

Segundo Pascal Diot, diretor responsável pela Venice Production Bridge, o festival de cinema mais antigo do mundo está à frente do seu tempo. “As duas plataformas de streaming que vieram aqui não queriam apenas apresentar filmes, mas também fazer negócios, porque enxergam no nosso evento uma boa oportunidade para isso. Eles estão cada vez mais fortes na questão da distribuição local, e aqui podem fazer parcerias. Acredito que a Netflix sai de Veneza com algumas coproduções encaminhadas. É por isso que estamos um passo a frente de outros festivais, porque acreditamos no potencial destas empresas e abrimos as portas para elas”, revelou, referindo-se ao fato dos executivos da Netflix não terem participado do Marché du Film – o braço de negócios do Festival de Cannes – deste ano.

A 3ª Venice Production Bridge contou com a participação de 2.470 profissionais da indústria cinematográfica, um número maior do que os 2 mil que estiveram no evento em 2017.

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