CineOP 2019: A preservação audiovisual em diálogo com a história, a educação e a sociedade

Antes mesmo da abertura oficial, o CineOP (14ª Mostra de Cinema de Ouro Preto) trouxe debates muito interessantes sobre a importância da preservação audiovisual e atuação das mulheres nas escolas, propondo por meio do cinema novos caminhos e modos de aprendizado. O ponto alto do segundo dia de programação certamente foi a abertura oficial e principalmente a homenagem a Edgard Navarro. Confira:

 

Breve relato da temática

A programação do dia 06/06 começou com a 1ª reunião de trabalho dos participantes do Encontro Nacional de Arquivos e Membros da ABPA – Associação Brasileira de Preservação Audiovisual que teve como participantes: Carlos Roberto de Sousa (presidente da ABPA), Débora Butrice (vice-presidente da ABPA) e José Quental (curador da Temática Preservação).

“É um movimento de resistência estar aqui”, disse José Quental.

 

Apresentação de projetos audiovisuais educativos

A primeira sessão de projetos teve como tema “Mulheres na Escola” e trouxe projetos educativos que trabalham a construção da história e da memória da presença da mulher na escola, seja no cotidiano escolar ou em situações específicas, como as ocupações das escolas públicas, por exemplo, mostrando as intervenções das mulheres e como isso tem alterado o espaço pedagógico da escola.

“O filme é hoje uma porta de entrada para outras discussões”, comentou Tina Xavier que apresentou o projeto da Princesa Pantaneira.

Foram apresentados quatro projetos:

– Experiências audiovisuais do Coletivo Feminista MAR (PPGE/Cinead/UFRJ);
– A produção de filme de animação com crianças e a desconstrução das normas de gênero: A Princesa Pantaneira como protagonista (UFMS/MS) – identificação regional e e discussão de gênero;
– Professorxs cineastas (UFF RJ) – produção de um vídeo em polifonia com a imagem desconectada das falas durante as manifestações no caso Marielle;
– “Uma Alma Educadora”: o pensamento de Carmem Santos para o cinema educativo durante a produção de Inconfidência Mineira (1948) (UFF/RJ) – fragmento de uma pesquisa de mestrado da relação da cineasta com a produção do filme;
– 10 anos sem Eloá: a sociedade de costas para o território da violência (Escola Municipal Maria do Amparo (MG) – trabalhou dentro da temática do caso o corpo da mulher como território para a violência.

 

Programação intensa e de vanguarda onde o território é o da diversidade

O CineOP propõe uma programação intensa, de vanguarda, onde o território é o da diversidade, das imagens e espaços que reconstroem, que constrói identidades, redes de contatos, novas formas de criação, de preservar história e educação. Esse foi o tom da abertura oficial do encontro que tem como frente principal focar e refletir a preservação audiovisual em diálogo com a história e a educação numa ação conjunta e ampla com a sociedade.

O tem central: “Territórios Regionais, inquietações históricas” traz diante de sua dimensão física, social, histórica e humana guiada pelas especificidades e forças propositivas dos territórios para se pensar a história do cinema, do patrimônio audiovisual e da educação.

A performance audiovisual, comanda por Grazi Medrado e Chico de Paula e apresentada pela atriz Rejane Faria, valorizou a resistência de povos brasileiros dos mais distintos em prol das lutas por seus territórios e seus direitos individuais.

 

Homenagem a Edgard Navarro

O ponto alto do encontro foi a homenagem especial a Edgard Navarro, apaixonado por cinema que fez do seu ofício a missão de levar uma mensagem transfigurada da utopia com filosofia, poesia e subversão.

O cineasta – que terá vários de seus trabalhos exibidos na programação, inclusive o mais recente longa-metragem, Abaixo a Gravidade – se disse temeroso do atual momento político do Brasil, mas exaltou a força da cultura e dos trabalhadores da arte como caminhos possíveis para se atravessar a conjuntura recente. “Tô botando fé no futuro, a gente é mais forte que essa coisa que está aí no poder”, finalizou, antes de ser ovacionado pela plateia e dançar ao som de “Odara” no chão do Cine Vila Rica. Em seguida, foram projetados o curta Exposed (1978) e o média Superoutro (1989), ambos do cineasta.

O curta metragem Exposed, que a partir da abordagem onírica e sinuosa, introduz o tema poder – econômico, bélico, político – associando à potência sexual.

“Freud explica que o cara se torna um exibicionista porque teve um mau desenvolvimento da psique. Esse exibicionismo (doença) faço um paralelo com o exibicionismo dos militares de colocarem os canhões na praça, será que eles também não têm uma insegurança em relação a própria virilidade, é isso que eu proponho nesse filme”, comentou o diretor.

Superoutro tem como cenário as ruas de Salvador e como personagem central a figura tragicômica de um louco de rua, anti-herói contemporâneo, que por meio da imaginação caótica e alucinada tenta se libertar da miséria.

“Um caldo de coisas da Bahia e que terminou sendo o filme mais conhecido e pelo o qual me tornei conhecido. Ele tem uma comunicabilidade muito grande”, comentou Navarro.

A noite terminou com arte performance e show musical.

 

* Foto: Nereu Jr/Universo Produção

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*A jornalista viajou a convite da Universo Produção.

 

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