CineOP: Cortejo de arte, Mulheres Negras, Regionalização, Cooperações na América Latina, Formação de plateias e Cinema independente

O sábado (08) teve mais uma programação intensa dentro do CineOP (Mostra de Cinema de Ouro Preto). Foram cinco seminários e um encontro de trabalho dos participantes do Fórum da Rede Kino. 

Veja como foi:

 

Cortejo de Arte

O tradicional passeio musical percorreu novamente as principais ruas de Ouro Preto com a temática de abordar os territórios regionais e valorizar as manifestações culturais e tradicionais locais que convivem com as transformações como uma forma de resistência.

 

As Mulheres Negras e o Cinema

Quando ingressam no cinema, as mulheres negras trazem também a sua terra, cultura, ancestralidade, conhecimento e espiritualidade. Em que medida o Quilombo e o Terreiro podem ser acionados para pensar o cinema feito com as mulheres negras? Para discutir a questão, participaram do seminário: Alexia Melo (arte educadora e realizadora audiovisual), Janaína Oliveira (pesquisadora e curadora) e Makota Kidoiale (coordenadora do projeto Kizomba, MG). 

“A universidade hoje é a nova senzala, porque eles entendem que nós negros somos intrusos, mas eu não os culpo porque é um modo de vida pensar assim, que vamos retirar o que de bom eles têm, e eles nos vêem como invasores, talvez eu no lugar deles, também pensasse assim”, comentou Makota. 

 

A regionalização e a preservação do cinema brasileiro

Pensar o patrimônio audiovisual brasileiro pelo prisma da regionalização implica necessariamente revisitarmos o conceito de ciclos regionais. O seminário reuniu alguns dos principais especialistas em história do cinema brasileiro que se debruçam sobre cinematografias ditas regionais: Carlos Roberto de Souza (presidente da ABPA), Luciana Araújo (professora e pesquisadora), Lúcio Vilar (professor Demid) e Luís Rocha Melo (cineasta, professor e pesquisador). 

O historiador Carlos Roberto de Souza, por exemplo, falou de seu mestrado, feito nos anos 1970, sobre um boom de filmes em Campinas nas primeiras décadas do século 20. Ele disse nunca ter usado o termo “ciclo de Campinas” – ainda que a historiografia já trabalhasse com noções de “ciclo de Cataguases” e “ciclo de Recife”, entre outros, durante seus estudos.

Lúcio Vilar, professor da UFPB (Universidade Federal da Paraíba), apontou que a defesa de ciclos regionais definiu determinados espaços geográficos e à omissão de outros. De certa forma, ele disse que a Paraíba não foi “contemplada” nos estudos, por motivos variáveis, e que trazer à tona as pesquisas de recorte regional teria ainda importância.

Professor na UFJF, Luís Rocha Melo comentou que ainda há importância de se compreender o cinema em termos geográficos e que mesmo uma coletânea de ensaios como “Nova História do Cinema Brasileiro”, que refuta os ciclos regionais da historiografia clássica, acaba por construir outro campo de estudos a partir de delimitações de região.

Hernani Heffner, conservador-chefe da cinemateca do MAM-RJ, afirmou que alguns desafios se impõem ao trabalho de difusão, como o “elitismo do cânone”, que tenderia a repetir os mesmos tipos de filmes e realizadores já legitimados pela história, e a propalada “morte do cinema”, simbolizada pelas infinitas novas possibilidades de consumo do audiovisual em tempos de streaming e plataformas móveis.

 

Cinema e Educação: Cooperações na América Latina

O seminário recebeu representantes de projetos realizados na Argentina, Brasil e Uruguai com o intuito de abrir espaço para debate sobre as relações entre cinema e educação com políticas que fortaleçam esse intercâmbio. 

As convidadas foram: Carmen Canavese (coordenadora audiovisual do Cineduca); Clara Suaréz (Festival Cine a La Vista); Graciela Acerbi (coordenadora audiovisual do Cineduca, Uruguai); Regina de Assis (diretora de educação, cultura e comunicação TV Escola); Solange Stecz (projeto Educação audiovisual na formação de docentes). 

Um dos mais recentes frutos dessa construção da cooperação entre países da América Latina é a série de curtas “A Esperança Transforma (Hope Works)”, experiência apresentada pela especialista em Educação e Mídia e diretora de Educação, Comunicação e Cultura da TV Escola, Regina de Assis. O projeto conta com recursos adicionais de aprendizado destinados a inspirar os valores de bondade, compreensão e esperança em crianças de todo o mundo.

“Precisamos dar atenção a questões de gênero e doenças do nosso tempo que tem acometido às crianças, como o suicídio e a depressão. Como elas lidam com isso? É fundamental a participação da escola nesse sentido”, disse Regina. 

“O Audiovisual e as novas tecnologias estão nas escolas e os professores precisam entender como lidar, porque o espaço de formação é muito reduzido, considerando a possibilidade que os professores têm de contato com o cinema brasileiro”, completou Solange. 

 

Difusão do Patrimônio Audiovisual e Formação de Plateias regionais

A formação de público é um elemento fundamental na valorização do patrimônio audiovisual e nesse sentido diversos arquivos e cinematecas regionais desenvolvem trabalhos relevantes de difusão e formação. 

A mesa trouxe alguns exemplos com os convidados: Alexandre Sônego (coordenador do MIS Campinas); Cristiane Senn (diretora do MIS PR); Hernani Heffner (conservador e chefe da Cinemateca do Man, RJ); Marcus Mello (programador e crítico, Cinemateca Capitólio RS). 

“A Cinemateca do Man foca em tecnologia e em como o público entende essa sinergia. Além disso, damos ênfase também ao público jovem”, comentou Hernani.

“Nos últimos tempos queremos pensar o que é o cinema paranaense e quem são as pessoas que constroem esse espaço”, disse Cristiane. 

 

Circuitos Regionais e Cinema Independente

A mesa debateu de que forma a interlocução entre cineastas, produtores, críticos, historiadores, coletivos cinematográficos e revistas de cinema propõem novos caminhos para o cinema brasileiro. 

Participaram desse encontro: Alice Dubina Truz (historiadora, RS); Sérgio Peo (cineasta), Sylvio Lanna (cineasta).

O cineasta mineiro Sylvio Lanna, realizador de Sagrada Família (1970), um dos grandes trabalhos brasileiros no período, defendeu a “difusão caligráfica” do cinema, pequenos gestos de visibilidade que se aproveitem das novas tecnologias e da singularidade de cada núcleo interessado em mostrar aquilo que acredita ser importante.

Alice Dubina Trusz, historiadora e pesquisadora, relatou a experiência de Verdes Anos (1984), produção gaúcha de Carlos Gerbase e Giba Assis Brasil, como exemplo de movimento independente que alterou o estado das coisas em Porto Alegre.

A parte de conteúdo terminou com a 2ª reunião de trabalhos dos participantes do Encontro de Educação, da rede Fórum Kino. 

 

Exibição de  “Carvana” e “A Mulher da Luz Própria”

No documentário Carvana, o jovem estudante de teatro, figurante das chanchadas, ator emblemático do Cinema Novo e comediante irreverente é retratado em filmes garimpados que mostram seu ofício de diretor.

Já em A Mulher de Luz Própria, narrado pela própria Helena Ignez, conta por meio de imagens parte da história do cinema brasileiro, seu contexto político e trajetória. 

A noite fechou com arte performance e show musical dedicados aos sons urbanos.

 

Foto:Jackson Romanelli/Universo Produção

 

Leia mais:

 

*A jornalista viajou à convite da Universo Produção.

Leave comment

Your email address will not be published. Required fields are marked with *.