CineOP: Debates sobre Mulheres, Terras, Territórios e Ações de Preservação Audiovisual com as Novas Tecnologias

O segundo dia do CineOP, que vai até 10 de junho em Ouro Preto, contou com a abertura oficial do seminário, do 14º Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais Brasileiros e do Encontro da Educação: IX Fórum da Rede Kino.

Além disso, o encontro teve uma roda de conversa com o homenageado Edgard Navarro e a exibição de Curtas e Longas.

 

Debate Inaugural – Territórios Regionais, inquietações históricas

Num país de dimensões continentais, como podemos pensar as particularidades das regiões e dos territórios que compõem o Brasil? Para dialogar sobre a temática, o CineOP recebeu: Célia Xakriabá (professora e ativista do movimento indígena), Francis Vagner dos Reis (curador da temática histórica), Lucas Parente (cineasta e escritor), Vladimir Carvalho (cineasta e documentarista) e Clarisse Alvarenga (curadora da temática educação) como mediadora.

“Uma maneira de construir ou reconfigurar um território é através da história, observar o território que até então era invisível. Uma nova maneira é escrever uma outra história”, comentou Lucas Parente.

“A câmera dá conta de registrar,mas não dá conta da oralidade e da subjetividade (força da espiritualidade). É preciso pensar como guardiã, como potencializar, mas sem perder a dinâmica de continuar potencializando sem deixar de fazer parte do território. A intelectualidade indígena está também no nosso corpo e espiritualidade”, acrescentou Célia, que também falou sobre a produção dos indígenas dentro e fora da tela, as várias formas de opressão e de matar os índios e como o cinema está inserido em todo esse contexto. 

 

Roda de conversa com Edgard Navarro

A trajetória de Edgard Navarro por meio de sua obra é o testemunho de um Brasil dos últimos 40 anos, mas é sobretudo uma produção poética, visionária e provocativa à violência do poder. 

“As pessoas que não merecem não vão se sentir ofendidas, é para quem precisa. Nada do que é humano nos devemos envergonhar, porque é por essa falsa educação e hipocrisia que eu continuo lutando. A gente tem que ser feliz, temos a obrigação de transcender, faça o milagre acontecer e deixar para trás tudo o que é condenável pela sociedade”, disse o cinemeiro como assim faz questão de ser chamado, principalmente sobre suas obras, em especial o filme Rei do Cagaço.

 

Mulheres, Terras e Territórios

Mulheres fortes de trajetórias e lutas por território, seja onde nasceram ou aonde passaram a habitar. O encontro reuniu diferentes mulheres e o seus vínculos com a terra e a relação que estabelecem com a educação e o cinema.

Participaram da mesa: Célia Xakriabá, Mãe Efigênia (líder do Quilombo Manzo Ngunzo Kainango, MG) e Sandra Benítez (coordenadora pedagógica indígena). A mediação foi de Clarisse Alvarenga.

“Existe uma escola da vida e uma vida na escola…uma universidade da vida e uma vida na universidade. Qual o lugar do protagonismo da mulher indígena? Ser a primeira nos dá o trabalho de questionar e a responsabilidade de não ser a única, porque precisamos ocupar os espaços para além das aldeias”, disse Célia.

“Estamos passando por um processo de transformação, é preciso ser mais maleável, abrandar o coração, ter equilíbrio e buscar proteção na espiritualidade e o cinema é importantíssimo, onde é que uma mulher negra apareceria na tela grande? Então o cinema é uma forma de comunicar e é muito importante, principalmente para os jovens”, apresentou Mãe Efigênia.

 

Ações Políticas e Regionais para preservação Audiovisual

A mesa reuniu representantes de órgãos, entidades, estados e municípios para refletir sobre a importância da descentralização (econômica, política e cultural) e os mecanismos de apoio para proteção ao patrimônio. 

Gabriel Portela (secretário municipal adjunto de Cultura de BH), Lia Baron (subsecretária da Secretaria Municipal de Niterói) e Renata Dias (diretora geral da Funceb). A medição foi de Laura Bezerra (professora e pesquisadora).

“Sobre as políticas regionais nesse momento de desmonte geral, Belo Horizonte está numa certa contramão, como estratégia de desenvolvimento estamos bem estruturados e com uma política bem planejada de preservação”, disse Gabriel Portela.

“Não temos política de preservação do audiovisual estabelecida, mas temos algumas ações”, explicou Lia Baron ao citar os editais e a implementação da Niterói Film Commission, que tem uma equipe já trabalhando nisso.

 

Preservação Audiovisual frente às tecnologias digitais

A gestão dos documentos, as soluções de armazenamento a longo prazo para arquivos audiovisuais e os riscos de destruição dos documentos originais permearam as discussões. 

Participaram: Beatriz Kushnir (diretora geral do Arquivo da Cidade do Rio de Janeiro), Erick Soares (Sony), Fabio Tsuzuki (Media Portal), Zé Maria (Cedoc da TV Cultura). Mediação de Igor Calado (ABPA).

 

Exibição de “Rio da Dúvida

O documentário dirigido por Joel Pizzini recria por meio da dramatização e material de arquivo da Comissão Rondon e do acervo da memória Cibelli e de vários depoimentos refazer a expedição Rondon e expor diferentes visões para refletir meio ambiente, política indigenista e desenvolvimento da Amazônia. 

 

Cine na praça

Um momento especial marcou a sexta-feira: a estreia do Cine Cemig na Praça, com filmes da Mostra Educação e da Mostra Contemporânea, com filmes relacionados à temática desta edição. Na primeira sessão, destaque para a presença de Mãe Efigênia, que, após participar do debate da tarde, assistiu, com a família, ao documentário Tem quilombo na cidade: Manzo Nzungo Kaiango. A produção apresenta três quilombos, entre eles o que é liderado pela ouro-pretana, que retornou à cidade natal pela primeira vez em 40 anos. O filme foi dirigido por Bruno Vasconcelos e Alexia Melo, que participa de um dos debates programados para este sábado.

O dia terminou com a tradicional performance artística e show musical.

 

Foto: Nereu Jr/Universo Produção

 

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*A jornalista viajou à convite da Universo Produção.

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