CineOP: Mulheres indígenas, patrimônio audiovisual e produção contemporânea, cineclubes e coletivos
O domingo no CineOP (Mostra de Cinema de Ouro Preto), contou com a apresentação de mais projetos audiovisuais educativos, debates e até workshop internacional com a experiência da Cinemateca da Bretanha.
Ainda, os participantes do Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais e do Encontro da Educação: XI Fórum da Rede Kino tiraram a tradicional foto oficial dos participantes do CineOP (acima).
Confira os destaques:
As Mulheres e a Terra
Foram apresentados projetos audiovisuais educativos que buscam refletir as relações que as mulheres estabelecem com a terra e o cinema perpassa esse caminho como mediador ou apenas espaço ao seu redor.
Projetos apresentados:
- Narrativas da Juventude do Quilombo Mato do Tição: vozes,imagens e sons de jovens quilombolas (Alexia Melo, MG);
- A imagem como arma: a trajetória da cineasta Patrícia Ferreira Papá Yxapy (Sophia Pinheiro, GO);
- Cinefronteira (Thaylane Cristina, MG);
- Cinema no Lina (Felipe Barquete, PB);
“O audiovisual propicia espaços de escuta no território. E com os equipamentos, como eram coletivos, elas tinham medo de quebrar, mas no processo de aprendizado, isso acontece. Fizemos exercícios de como por e tirar bateria, por exemplo, e um glossário da câmera, porque o manual era todo em inglês”, comentou sobre o desenvolvimento de seu projeto na comunidade, Thaylane.
Patrimônio Audiovisual na produção contemporânea
Diversas são as produções contemporâneas que utilizam imagens de arquivo e filmes de patrimônio, e isso ocorre infelizmente com muita dificuldade, porque o acesso a esse material não é facilitado. Os debatedores dessa mesa comentaram suas experiências e reforçaram como os arquivos são importantes na criação das obras e na formação de público para que a memória não se perca.
Participaram Claudia Nunes (cineasta, GO), Rodolfo Junqueira Fonseca (cineasta, MG) e Sinai Sganzerla (cineasta, RJ).
“No caso do ‘Desmonte do Monte’, achei muita imagem aérea do Morro do Castelo, de 20, 30, 40 … em instituições internacionais que cobravam caríssimo. Tem sites que compram acervos nossos e cobram por isso, mas não entendi direito esse processo, mas pelo menos era um caminho”, contou Sinai sobre sua experiência com o filme.
Lançamento de Livros
Durante a programação foram lançados quatro livros com a presença dos autores e direito a autógrafos. São eles:
- Caderno de Notas: Mestrado Oficial em Artes (Marcos Camargo e Solange Stecz, Unespar);
- Cinema Brasileiro e Educação (Acir Dias da Silva e Salete Paulina Machado Sirino, Unioeste);
- Cinema de Brincar (Cézar Migliolli e Isaac Pipano, Relicário);
- Gestão Cultural e Diversidade: Do Pensar ao Agir (José Marcio Barros e Jocastra Holanda Bezerra)
As mulheres Indígenas e o Cinema
Nos últimos anos as mulheres indígenas assumiram também o papel de realizadoras de suas próprias produções, modificando e contribuindo com um novo olhar cinematográfico. A presença delas modifica o cinema e traz novos olhares e perspectivas no processo audiovisual. No entanto, a visibilidade dessa atuação ainda é pouca, mas há muitos processos para ampliar e possibilitar intersecções com outros processos criativos.
Participaram dessa mesa: Luisa Elvira Belaunde (antropóloga, RJ), Mari Corrêa (cineasta, SP) e Papá Yxapy (realizadora audiovisual indígena, RS).
“Como trabalhei muito tempo com a formação de diretores de várias origens, sei o quanto a gente tem influência de como aquilo está sendo feito. Quanto mais a pessoa desenvolve habilidades e adquire experiência, mais isso se afirma, talvez a primeira experiência seja mais frágil, mas a partir dali acho que ela se faz no diálogo, mas não quer dizer que é um filme de autoria compartilhada”, comentou Mari.
Workshop Internacional: experiência da Cinemateca da Bretanha
A Cinemateca da Bretanha foi criada em 1986 e possui um dos acervos regionais mais importantes da França, principalmente de filmes amadores locais. O workshop abordou a importância das estruturas regionais de conservação e valorização do patrimônio audiovisual.
Dentre as ações realizadas, Cécile Petit-Vallaud (diretora da Cinemateca da Bretanha) comentou a organização e tabulação dos dados (database) das obras que foi criado há 15 anos e que facilita muito o controle e a preservação das obras.
Cineclubes e Coletivos: a Experiência fomentadora dos anos 70 e 80
Fora do eixo Rio-São Paulo que realiza um cinema industrial nos anos de 1970 e 1980, outras capitais também faziam produções por meio de coletivos e pequenas produtoras. O debate discutiu o cinema feito por essas gerações da produção piauiense, goiana e paranaense.
Dália Ibiapina (professora e cineasta, DF), Fernando Severo (professor,PR) e Marina da Costa dos Campos (pesquisadora, SP) contribuíram com as discussões.
Cine Cemig na Praça: Gilda Brasileiro – Contra o Esquecimento
Na sessão na praça foi exibido o documentário que traz a vida de Gilda, 52 anos, uma mulher forte que pesquisa a história de uma estrada clandestina, usada por traficantes de escravos do século 19. O esforço de Gilda desperta um passado obscuro da história da escravidão no Brasil com imagens de época feitas pelo fotógrafo Marc Ferrez.
Seção Curtas: Mostra Contemporânea e Mostra Histórica
Foram exibidos dentro da Mostra Contemporânea os curtas: Plano de Controle (Juliana Antunes, 2018); Estamos Sendo (ClarYssa, 2019); Bicha-Bomba (Renan de Cillo, 2019); Imaginário (Cristiano Burlan, 2018); Sabá (Sérgio Carvalho, 2018).
Já na Mostra Histórica, conferimos: Recordação de um presídio de meninos (Lourival Belém, 2009), Espaço Marginal (Carlos Sales, 1981), Hahnemann Bacelar (Roberto Kahané, 1965), Ritos de Passagem (Sandra Werneck,1980).
Curtas dirigidos por Edgard Navarro, o homenageado desta edição
A noite terminou com a exibição dos filmes dirigidos por Edgard Navarro: Lin e Katazan (1979), Rei do Cagaço (1977), Porta de Fogo (1984) e Talento Demais (1995).
Edgard explicou que esses quatro filmes são de épocas diferentes, tem dois que foram feitos lá no início da Super8 e já o Porta de Fogo é o começo de uma profissionalização na década de 80, que sofreu muito com a censura.
Em “Rei do Cagaço” ele queria causar esse mal estar propositalmente para que a palavra “cagaço” fosse dita já que era vetada, mas tanto jornalistas quanto diretores de festivais eram obrigados a falar quando apresentassem o filme. Em “Porta de Fogo” é um tributo de sangue ao Lamarca, que representava a luta de milhares de pessoas, além de Lampião, figura emblemática na luta contra os coronéis.
Edgard ressaltou ainda o quanto se sente lisonjeado em estar no Festival, principalmente por ser um encontro de resgate de uma produção que é patrimônio audiovisual.
“Sinto como se eu estivesse chegando ao pódio da minha vida. Trabalho reconhecido por um festival que tem essa característica de tornar tema e de trazer para o lugar de atualização a memória audiovisual”.
Foto: Leo Lara/Universo Produção
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*A jornalista viajou à convite da Universo Produção.