25/1 – A produção do filme “Oráculo” e conversa sobre corpo, arte e resistência na Mostra Tiradentes

A segunda-feira, 25/1, foi o quarto dia da 24ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes, organizada pela Universo Produção. Além de todos os mais de 110 filmes com acesso gratuito até 30/1, o evento teve dois destaques nesse dia:

ENCONTRO COM OS FILMES – MOSTRA AURORA | ORÁCULO – Foto Reprodução/Universo Produção

– Encontro com os filmes da Mostra Aurora sobre a produção “Oráculo”
Participaram do painel: Gustavo Jahn e Melissa Dullius, diretores e produtores do filme; o ator Juarez Nunes; as atrizes Luana Raiter e Alice Bennaton, mãe e filha; e o crítico convidado Rafael Parrode. Todos com mediação do crítico Marcelo Miranda.

Jahn contou que o projeto começou em 2016, quando ele e Melissa já indicavam um interesse em produzir um longa-metragem, sendo que boa parte dos cenários vistos em “Oráculo” são de espaços onde os diretores já filmaram antes. Vale lembrar que ambos já atuaram como montadores e que o filme teve boa parte realizada à distância. Para a diretora, por sua vez, o longa, apesar do nome, fala mais sobre o presente do que sobre o futuro, “é uma viagem interior”. Já sobre a montagem, Gustavo explicou que “o filme foi montado ao longo de um ano e acabamos fazendo uma escolha na montagem de afastar o filme do registro documental”. A obra ainda traz algumas características marcantes como vários planos-sequência e sua realização original em película 16 mm. “Produzir com o que se tem, essa é a nossa realidade, é o nosso jeito de seguirmos fazendo cinema. A matéria dos nossos filmes são as condições que temos e os elementos que chegam até nós, por essa rede de pessoas com quem trabalhamos junto”, contou Melissa.

A relação antiga, desde 1999, entre o ator Juarez Nunes e Jahn trouxe uma série de oportunidades para trabalharem juntos, dando a vez a uma ação mais performática do ator em “Oráculo”. “Se parar para analisar, neste filme, tive as ações a serem realizadas e as relações com os espaços. O Gustavo orientava o que precisava ser feito naquele tempo e local. Eu seguia, para realizar as ações, procurando incluir minha experiência de vida, de relação, de afeto e de ligação com o filmes”, contou Nunes. A atriz Alice também elogiou a relação com o diretor: “O Gustavo me deu muita segurança. Ensaiamos bastante e eu tive também certa liberdade para improvisar e para escolher os espaços onde filmar. Achei muito legal, a filmagem foi um ambiente muito familiar”.

O crítico convidado Rafael Parrode apontou: “os filmes experimentais mexem muito com a nossa percepção e este longa traz mais perguntas que respostas”. Vale lembrar ainda de que a dupla de diretores está com outro filme em exibição na 24a Mostra Tiradentes: “Levantado do chão”, na Mostra Panorama.

 

– Roda de conversa sob o tema “Corpo, arte e resistência”

RODA DE CONVERSA | CORPO, ARTE E RESISTÊNCIA – Foto Reprodução/Universo Produção

Nesse debate, Daniele Ávila Small, crítica e pesquisadora de artes cênicas, mediou um bate-papo com três realizadores que contavam com obras em exibição na Mostra. Foram eles: a cineasta Dé Ferraz (“Agora”); a atriz e diretora Sara Antunes (“De Dora, por Sara”); e o cineasta Macca Ramos (“Negro em Mim”).

Déa descreveu o processo do documentário “Agora”, que registra artistas e ativistas dentro de uma caixa num estúdio a performarem desejos, angústias e indagações. “A ideia nasceu de uma crise nas eleições de 2018 e do que a imagem é capaz de fazer. Essa crise me levou ao desejo de pensar a imagem como algo quase esvaziado, de retirar tudo da imagem e deixar só o que interessasse. E o que mais interessava era o corpo”, disse.

Já Sara contou como “De Dora, por Sara” se trata de uma troca de cartas a partir do aprisionamento da guerrilheira mineira Maria Auxiliadora Lara Barcelos (1945-1976). A origem do projeto data de 2014, quanto Sara iniciou trabalhos na peça “Guerrilheiras ou para a terra não há desaparecidos”. Recém-mãe na ocasião, Sara diz ter ficado muito atenta à relação das mães com as guerrilheiras pesquisadas no processo. “Eu tentei travar um diálogo entre a Dora e a mãe dela […]. Sobre a ditadura ouve-se muito que lembrar é resistir, mas já não acho isso, eu acho que é mais incorporar, é fazer o corpo reverberar alguma coisa, deixá-lo disponível”, refletiu.

Para Macca, a questão do corpo em “Negro em Mim” passa pelas suas possibilidades de ocupar os espaços. “Quando a gente vai falar de corpo, a gente vai falar de perdas, do jovem que está sendo assassinado, do indígena em Manaus sem oxigênio, pautas e lutas atuais e urgentes. A grande problemática agora é se os corpos podem estar presentes, pela falta de uma vacina. Como eles vão se unir? O corpo hoje é virtual. Devemos entender como aprimorar esse corpo virtual, como ele pode se fazer mais presença jurídica, mais presença política”, comentou.

 

Confira os debates na íntegra:

 

 

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