Especial Mulheres do Audiovisual: representatividade, inclusão e liderança

Nós do Prodview acreditamos que todo dia é um bom momento para incluir e debater sobre a atuação e presença das mulheres no mercado audiovisual, especialmente sobre a representatividade feminina, tanto que falamos sempre com e sobre essas profissionais que são tão importantes para o setor (Confira abaixo algumas entrevistas especiais que realizamos com grandes executivas do audiovisual). Porém, com a aproximação do Dia Internacional da Mulher, 8 de março, muitas oportunidades de debate surgem nesse meio. Confira algumas:

 

Olhar de quem está (e se destaca) no mercado

Em São Paulo, a Escola Britânica de Artes Criativas – EBAC realizou no fim de fevereiro um de seus debates “Women in the Industry” (Mulheres na Indústria, em tradução livre), realizados mensalmente. Neste encontro, as convidadas foram Sofia Franco, gerente de pós-produção da Netflix com atuação em obras como 3% e Que Horas Ela Volta?, e Celia Catunda, fundadora da TV PinGuim e produtora de títulos como Peixonauta e O Show da Luna!. A mediadora do debate foi Malu Andrade, gestora e produtora executiva, Head de Academic Quality na EBAC, responsável por implementar políticas de paridade de gênero da Spcine e fundadora do grupo Mulheres do Audiovisual Brasil em rede social.

Ambas as convidadas contaram um pouco de suas experiências, desde a graduação, passando por estágios e muito mais. “Nosso mercado de pós-produção audiovisual é ainda inicial, amador por não ter tantos cursos para o mercado. A maioria dos cursos de cinema é voltada à crítica ou viés mais acadêmico”, comentou Sofia, cuja primeira graduação foi na área de Comunicação e Jornalismo. Para ela, as necessidades generalistas do mercado atual dificultam também o processo de especialização de profissionais que lidam com efeitos visuais.

A especialista em pós-produção comentou sua experiência, incluindo empresas como a produtora AnimaKing e a Quanta Post, nesta última trabalhou por cinco anos e atuou na pós-produção da primeira temporada da série 3% ainda fora da Netflix. A profissional está na companhia multinacional desde março de 2018.

Celia também criticou a falta de cursos que tenham foco no audiovisual e principalmente em animação. Ela fundou a produtora de animação TV PinGuim em 1989 ao lado de Kiko Mistrorigo, quando, segundo a profissional, não havia uma crença de que a animação fosse rentável e muito menos viável para uma empresa nacional. “Começamos em uma época em que não tinha canais a cabo, a tecnologia de animação em computador estava começando, falava-se que a animação estava acabando. Mas eu sou apaixonada por animação desde os 13 anos e queria fazer animação brasileira. Coloquei como meta ter uma animação brasileira na TV”, disse.

Para ela, os festivais sempre foram um bom local de experimentação, mas Celia sentia falta de animações brasileiras em veículos de massa como a televisão. O primeiro material da TV PinGuim a ser exibido em TV foram as chamadas animadas Rita, na TV Cultura. Segundo Celia, as TVs públicas foram essenciais para o início da produtora. O ponto de virada para ela e a TV PinGuim foi após um evento MIPCOM quando conseguiram vender para a Discovery Kids alguns episódios de Peixonauta, que foi um sucesso de audiência já na primeira semana de exibição em canal pago.

“Quando saiu o Ibope de Peixonauta, recebi um monte de ligações, incluindo de pessoas que não acreditaram no projeto. Essa obra foi usada até como exemplo no Senado brasileiro como prova de que o conteúdo brasileiro em TV paga por sim ter qualidade e audiência para justificarem a cota para obras nacionais”, contou.

Ambas as executivas comentaram sobre dificuldades em suas carreiras pelo simples fato de serem mulheres, além da escassez de profissionais mulheres em áreas mais técnicas do audiovisual. Sofia já sofreu com algum nível de assédio sexual e, por ser lésbica, também via sua sexualidade desrespeitada ou mal interpretada. “Passei por muito diretor babaca, assédio várias vezes. Eu colocava o fato de ser lésbica logo de cara para me proteger. Não é sempre que você tem o privilégio de não tolerar o assédio, mas é preciso encontrar esse lugar. As microagressões vai nos minando ao longo do tempo. Temos que cortar isso e empoderar sempre as outras mulheres”, afirmou.

Já Celia passou por desrespeito de outros profissionais que a viam inicialmente como uma executiva. “Eu era muito jovem quando abri a produtora. Eu e meu sócio tínhamos que ter alguns cuidados para não me tomarem como sua assistente, até evitávamos ir juntos em reuniões”, disse. Tanto Celia quanto Sofia também comentaram que, embora tenham notado maior dificuldade em trabalhar com homens, muitos profissionais foram parceiros de trabalho honestos, abertos a ideias e a dar espaço para mulheres.

 

Programação especial – Spcine

O Circuito Spcine e a plataforma Spcine Play exibirão uma programação diferenciada neste mês de março, com filmes dirigidos por mulheres. Vale lembrar que a presidência da entidade Spcine foi assumida por Laís Bodanski nos últimos dias. “Nós, mulheres no audiovisual, apesar de marcarmos presença em diversas funções executivas e de criação, somos poucas na direção. Então, qualquer iniciativa que jogue luz sobre elas, como a do Circuito e da Spcine Play, é necessária e muito bem-vinda”, disse Laís em comunicado oficial.

Laís Bodansky assumiu a presidência da Spcine

Na sala Spcine Roberto Santos, serão quatro filmes exibidos até 27 de março: Encontros e Desencontros, Lady Bird: A Hora de Voar, O Jardim Secreto e Domando o Destino. Enquanto na sala Spcine Olido o destaque será My Name is Now, Elza Soares, bem como os curtas Guaxuma, Sem Coração e Dia Estrelado. Na Spcine Paulo Emilio será realizado um debate no dia 9 de março com as realizadoras Michelle Mattiuzzi, Julia Katharine e Jessica Queiroz após a exibição dos curtas Experimentando o Vermelho em Dilúvio, Tea for Two e Peripatético.

Já na plataforma Specine Play uma curadoria escolheu filmes que ficarão em destaque por metade do preço como incentivo até 1º de abril tanto para locação quanto para download. Entre os títulos estão O Banquete, Animal Cordial, Sinfonia da Necrópole e Doces Poderes.

 

No comando: As mulheres (Encontro entre lideranças)

No início de março, mulheres que lideram entidades e empresas do audiovisual se reuniram para planejar ações e fortalecer a presença da mulher no audiovisual brasileiro.

O encontro foi realizado na ESPM e também celebrou a indicação de Laís Bodanzky a presidência da Spcine, além das indicações de Simoni Mendonça para a presidência do SIAESP e de Marianna Souza para a presidência da APRO.

 

Foco Nelas – Mulheres Diretoras

Na terça-feira, 12 de março, às 16h, será realizada a 1ª edição do “Foco Nelas – Mulheres Diretoras no Cinema e na Publicidade” no Museu da Imagem e do Som – MIS SP.

No evento serão apresentados os projetos Selo Elas, da ELO COMPANYFree The Bid e FAMA, além dos dados colhidos por cada um deles para pesquisa de construção, detalhando assim o cenário atual da direção feminina no cinema e na publicidade. Após a apresentação haverá espaço para perguntas e respostas e pocket show da Rosa Rosah Cantora.

 

Produções sobre violências ao feminino

Em março, no dia 8, Dia Internacional da Mulher, e no dia 9, o SescTV apresenta seis produções, com a temática violações ao feminino, que aborda diferentes aspectos das violências sofridas pelas mulheres. São elas: o show Elza Soares – A Mulher do Fim do Mundo; os documentários No Devagar Depressa dos Tempos e Quem Matou Eloá?, o curta-metragem de ficção Meninas Formicida; o programa Direitos Humanos e a Declaração Universal, e o espetáculo Erêndira, com a Biblioteca del Corpo, dirigida e coreografada por Ismael Ivo, que integra a série Dança Contemporânea. Com exceção ao show e à dança, os demais são inéditos.

 

Mostra em Goiás: Mulheres fazem cinema

A Secretaria de Educação, Cultura e Esporte de Goiás – Seduce, por meio do Ipeartes, realiza a mostra “Mulheres fazem Cinema”, de 11 a 17 de março, em Alto Paraíso de Goiás.

Ao longo da semana, a programação inclui produções locais, nacionais e estrangeiras, abrangendo temáticas femininas, oficinas artísticas, apresentações musicais, debates e muito mais. Veja a programação completa em https://www.facebook.com/events/885742801817334/ .

 

Telecine destaca histórias de mulheres

Para homenagear o Dia Internacional da Mulher e lembrar da luta diária que todas vivem, o Telecine reuniu situações que renderiam ótimos roteiros de cinema. A série “Mulheres Que Fazem Cinema”, iniciativa que acontece pelo segundo ano, traz vídeos nos mais diversos gêneros, ao mostrar comédias, dramas, suspenses e aventuras inéditas e exclusivas contadas por brasileiras icônicas em depoimentos que podem ser conferidos no Telecine Play a partir de hoje (08).

 

Produtora investe em equipe 100% feminina nas áreas técnicas

“Produzimos uma média de 20 vídeos por mês, e cerca de 30% com contratação de profissionais freelancers. Quando o conteúdo é específico, a equipe também é. Em um trabalho com o canal “Nunca Te Pedi Nada” para o mês das mulheres, em 2017, ou na parceria com o “Think Olga”, para a realização de animações que falam sobre mulheres nas eleições 2018, a equipe foi 100% feminina (e diversa)”, afirma Gislaine Miyono, Coordenadora de Produção da Uzumaki Comunicação.

 

Funções ainda distantes

Estudo sobre a “Participação feminina na produção audiovisual brasileira (2016)”, também realizado pela Agência Nacional de Cinema (Ancine), constatou que a direção de fotografia, direção e roteiro são as áreas em que as mulheres menos têm oportunidades. Dos 1.655 trabalhos de direção de fotografia realizados no país, somente 8% foram feitos por profissionais do sexo feminino. Na direção de 2.583 produções, apenas 17% eram mulheres, e de 1.836 roteiros, só 21% foram assinamos por elas.

 

Mais números

De acordo com o estudo Emprego no Setor Audiovisual (2018), da Agência Nacional de Cinema (Ancine), foram gerados 91.834 mil empregos em 2016. Desse montante, 60% das vagas correspondem aos homens e 40% às mulheres. Por regiões, a maior participação foi no sudeste com 61,1%, seguido do nordeste com 12,5%, depois o sul com 11,5% e na lanterna ficaram o centro-oeste e norte do país com 7,1% e 5,8%, respectivamente.

 

Entrevistas e matérias especiais Prodview com as mulheres do mercado audiovisual

Joana Heinning, da Escarlate
Priscila Guedes, da Anableps
Barbara Sturm, da Elo Company
– Tânia Pinta, da RioFilm Commission
– Gláucia Pelliccione, diretora da AICTV
Fernanda Farah, do BNDES
Grace Passô, diretora, cineasta, artista
Belisa Figueiró, jornalista
Festival Delas – Mulheres na Arte
Programa de formação une mulheres de várias áreas do audiovisual
Estudo sobre desigualdade de gênero, pacto antiassédio e eventos dão foco à mulher no mercado audiovisual
Fullpack amplia entrega digital com coordenadora de Criação Online
Yourmama, FOX Lab e Sempre Livre: parceria gera documentário “Nosso Sangue, Nosso Corpo”
Mostra “Lugar de Mulher é no Cinema” dá visibilidade à produção fílmica de mulheres contemplando a diversidade
Espaço dá visibilidade para a produção cinematográfica de diretoras latino-americanas

Tudo isso e muito mais está no Prodview.

 

 

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