CineOP: Longas e Curtas da Mostra Contemporânea dialogam com a memória para compreender o presente

Na seleção de longas e médias-metragens contemporâneos da CineOP (Mostra de Cinema de Ouro Preto, 05 a 10 de junho), Francis Vogner dos Reis e Lila Foster buscaram trabalhos que, de alguma forma, dialoguem com a memória, o arquivo e as noções de território e espaço que permeiam a Mostra em 2019. Chegaram a um conjunto de sete títulos em pré-estreia que vão de perfis de personalidades do audiovisual à abordagem etnográfica de comunidades e culturas específicas. 

“O cinema brasileiro recente tem, cada vez mais, buscado reconstituir parte da história do país e do próprio fazer cinematográfico, uma história que ainda não foi organizada devidamente”, diz Francis. “São personagens, espaços e olhares que testemunham as próprias narrativas e nos apresentam a elas. E todos os filmes são dirigidos por profissionais que lidam com esses resgates, tendo por objetivo ressignificar o presente. A ausência de memória certamente auxiliou para que estejamos nessa atual crise macropolítica no Brasil e os filmes contemporâneos desse ano na CineOP tentam resgatar algo do passado que se reconfigure nos dias de hoje e nos ajude a olhar pro futuro”, complementa. 

Na seleção de curtas-metragens, a cargo de Camila Vieira, os 14 títulos contemporâneos são marcadas especialmente pela apropriação das imagens de arquivo como orientação para compreender os ecos do passado no presente e a experimentação da forma cinematográfica na exploração ou mesmo textura da película como marca estética para criar narrativas. O uso desses registros são variados. 

 

  • Longas da Mostra Contemporânea

A Mulher de Luz Própria (2019) – A Mulher da Luz Própria é um documentário de longa-metragem sobre a atriz e diretora Helena Ignez. Helena Ignez é uma das principais personalidades femininas do cinema brasileiro. Inaugurou um novo estilo de interpretação e atualmente dirige filmes independentes. O filme é narrado pela própria atriz e possui imagens de arquivo e imagens atuais que ajudam a descrever parte da história do cinema brasileiro, o contexto político e sua trajetória. (Direção: Sinai Sganzerla).

Até onde pode chegar um Filme de Família (2018) – Reminiscências (1909-26), filme de família do cineasta natural de Ouro preto – MG, Aristides Junqueira, acervo da cinemateca do MAM-Rio e Cinemateca Brasileira, é desvendado em suas histórias e pontos de vista na forma de um ensaio fílmico com materiais de arquivo, cenas de família, film footage, entrevistas e voz off para contar a biografia desconhecida de um pioneiro do cinema brasileiro. (Direção: Rodolfo Nazareth Junqueira Fonseca).

Carvana (2018) – É Hugo Carvana, exímio contador de histórias, o narrador de sua própria trajetória em CARVANA. É sua voz inconfundível que pontua uma história de 60 anos de carreira, contada por ele em entrevistas colhidas desde os anos 1970. O jovem estudante de teatro, figurante nas chanchadas, o ator emblemático do Cinema Novo e o comediante irreverente revelam-se nas cenas de filmes garimpados. (Direção: Lulu Corrêa).

Gilda Brasileiro – Contra o Esquecimento (2018) – Gilda, 52 anos, é uma mulher forte, filha de pai afrodescendente e mãe judia-alemã. Ela pesquisa a história de uma estrada clandestina, usada por traficantes de escravos no século 19. Gilda encontra documentos relevantes, mas na sua cidade ninguém quer vasculhar o passado. Para ela, isso é inaceitável. (Direção: Roberto Manhães Reis e Viola Scheuerer).

O Barato de Iacanga (2018) – Uma fazenda familiar no interior de São Paulo foi palco do mais lendário festival ao ar livre da música brasileira: o Festival de Águas Claras. Suas quatro edições, entre as décadas de 70 e 80, reuniram milhares de hippies e confundiram a ditadura. O evento contou com importantes nomes da nossa música, como Gilberto Gil, Hermeto Pascoal, Luiz Gonzaga, Egberto Gismonti, Sandra de Sá, Raul Seixas, Alceu Valença e João Gilberto. (Direção: Thiago Mattar).

 

  • Médias

Resplendor (2018) – A Comissão Nacional da Verdade, instalada em 2011 para apurar crimes cometidos durante a ditadura militar, trouxe a publico fatos muito obscuros da nossa história: a existência de um centro de detenção indígena, na cidade de Resplendor (MG), chamado Reformatório Krenak. (Direção: Claudia Nunes e Erico Rassi).

Teko Haxy (2018) – Um encontro íntimo entre duas mulheres que se filmam. O documentário experimental é a relação de duas artistas, uma cineasta indígena e uma artista visual e antropóloga não-indígena. Diante da consciência da imperfeição do ser, entram em conflitos e se criam material e espiritualmente. (Direção: Patrícia Ferreira e Sophia Pinheiro).

  • Curtas

?In Memorian o Roteiro do Gravador (2019) – Um filme sobre a morte e o renascimento do Cinema. (Direção: Sylvio Lanna).

A Praga do Cinema Brasileiro (2018) – Com a pedra da 3ª força, Zé do Caixão retorna ao passado, na virada do milênio, no dia 2 de fevereiro de 2000, com a função de evitar o Terror Político no Brasil, instituído pelo Capetal e seus canalhas capetalistas infiltrados nos setores estratégicos e que arrastaram o país para o 5º dos Infernos com as bençãos dos boizebus, das diabas e dos satanazes dos 3 poderes. (Direção: Zefel Coff e William Alves).

Arara: Um Filme Sobre um Filme Sobrevivente (2018) – Em 2012, Rodrigo Piquet, do Museu do Índio, mostra a Marcelo Zelic, do grupo Tortura Nunca Mais, um filme que encontrara, chamado Arara. O título não se referia ao animal, nem ao povo conhecido por esse nome. Zelic o aponta como importante registro probatório sobre o ensino de tortura durante a ditadura militar. (Direção: Lipe Canêdo).

Bicha-Bomba (2019) – Este filme “não é capaz de vingar as mortes, redimir os sofrimentos, virar o jogo e mudar o mundo. Não há salvação. Isso aqui é uma barricada! Não uma bíblia.” (Direção: Renan de Cillo).

Estamos Sendo (2019) – Da minha janela, estava sendo em 28 de outubro de 2018. de outras janelas, trincheiras rasgadas. e, foi nessa abertura que tudo se separou pelos ares. (Direção: ClarYssa).

Imaginário (2018) – A partir de material de arquivo, “Imaginário” constrói uma paisagem de sons e imagens do passado que dialogam com os dias de hoje. (Direção: Cristiano Burlan).

Magalhães (2018) – Nas eleições municipais de 1992, Magalhães Teixeira é eleito prefeito de Campinas. Filme-arquivo, sobre um político em campanha, os embaraços de sua equipe de filmagem e eleitores desconfiados em meio ao impeachment do presidente Collor. (Direção: Lucas Lazarini).

Não fique triste, menino (2018) – Partindo de memórias pessoais, o filme “Não fique triste, menino” busca falar sobre identidade negra, masculinidade e ressignificação da própria memória. (Direção: Clébson Oscar).

Num País Estrangeiro (2018) – Transcriação cinematográfica de texto censurado em 1968. (Direção: Karen Akerman, Miguel Seabra Lopes).

Plano Controle (2018) – Marcela quer ir pra Nova Iorque, mas o serviço de teletransporte oferecido por sua operadora tem dados limitados. (Direção: Juliana Antunes).

Princesa Morta do Jacuí (2018) – O arqueólogo Margot Moreira retorna ao lugar onde nasceu, a zona de exclusão chamada Depressão Central. Lá, o sol nunca para de brilhar. (Direção: Marcela Ilha Bordin).

Quentura (2018) – De suas roças, casas e quintais, as mulheres indígenas da Amazônia nos envolvem em seu vasto universo de conhecimentos ao mesmo tempo em que observam os impactos das mudanças climáticas nos seus modos de vida. (Direção: Mari Corrêa).

Sabá (2018) – A memória da luta contra fazendeiros e em defesa da floresta Amazônica, 30 anos após a morte de seu companheiro Chico Mendes, ora se confundem, ora se fundem com o cotidiano simples do seringueiro e sindicalista Sabá Marinho e sua esposa Joana. (Direção: Sérgio de Carvalho).

Sem Título # 5 : A Rotina terá seu EnquantoUm duplo tributo amoroso: ao último filme do diretor japonês Yasujiro Ozu (1903-1963) – “A Rotina tem seu Encanto” (Sanma no Aji; 1962) – e a um sol nascente que pintou em meu horizonte (2018). Um cinepoema de reapropriação de arquivo. Um found footage haikai. (Direção: Carlos Adriano).

Thinya (2018) – Minha primeira viagem ao Velho Mundo. Minha fantasia aventureira pós colonial. {Um discurso muda uma imagem?} (Direção: Lia Leticia).

 

Foto: Leo Lara/Universo Produção

[VEJA A COBERTURA COMPLETA DO CINEOP 2019]

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