27a MCT: Debates na mostra destacam importância da política pública audiovisual e exaltam trabalho de profissionais no cinema independente
O primeiro fim de semana na Mostra de Cinema de Tiradentes foi marcado por encontros, trocas e debates que já mobilizaram os participantes e preparam terreno para uma semana de continuidade das conversas até agora lançadas. A mesa dedicada à dupla homenageada, o cineasta André Novais Oliveira e a atriz Bárbara Colen, na tarde de sábado, levou a plateia às lágrimas com as palavras, lembranças e análises das trajetórias de cada um, que se relacionam diretamente por terem se iniciado em épocas próximas, há quase 15 anos.
A ideia de uma grande família permeou a mesa dedicada a André e Bárbara e ambos, acompanhados de parceiros de trabalho, exaltaram o respeito no trabalho ali discutido. Maurílio Martins, produtor da Filmes de Plástico, exaltou André Novais como “um gênio do cinema brasileiro contemporâneo” e se emocionou ao dizer que vislumbra o amigo e colega como “um verbete incontornável da história do cinema nesse país”.
Por sua vez, Bárbara relembrou dúvidas e dificuldades de seu começo de carreira, em especial por ser uma mulher negra num país de formação racista e numa área cultural ainda tão pouco representada equanimamente em termos de raça e gênero. Ela disse que sua estreia como atriz de cinema no curta-metragem “Contagem” (2010) foi um ponto de virada por se ver ali na pele de uma personagem forte, autônoma e inteligente, algo que ela já buscava e que pautou seu trabalho dali adiante. “Eu entendi o meu lugar nesse universo e senti que devia trilhar esse caminho”.
A conversa com a equipe de curadoria da Mostra, também no sábado, colocou em perspectiva a temática “As Formas do Tempo” a partir do entendimento de que a economia das imagens a pautar um certo tipo de cinema  brasileiro é o eixo condutor de formas singulares de lidar com o tempo do trabalho, dos afetos, das ambições e do cotidiano acelerado. O coordenador curatorial Francis Vogner dos Reis frisou que o tema trata não só da estética e linguagem de filmes, mas também de como se dão os processos profissionais e o sucateamento de mão de obra diante de cenários cada vez mais exigentes por resultados.
A curadora Tatiana Carvalho Costa completou revelando ter sentido, nas inscrições, ausência de realizadores e realizadoras que chamaram muita atenção em anos anteriores na Mostra e não retornaram com novos trabalhos. “Cadê os filmes dessas pessoas? Eles não existem porque depois de 2018 elas foram paralisadas por um governo contra a cultura e foram fazer seus corres. Imaginem esse estrago, só agora sendo corrigido com um novo ministério. As políticas públicas são essenciais para que não aconteça esse tipo de instabilidade”, disse ela.
Numa mesa sobre seu filme, “Estranho Caminho”, o diretor cearense Guto Parente deu um exemplo prático do que disse Tatiana Carvalho. Ele contou que foi ao assistir a uma versão preliminar de “Marte Um”, de Gabriel Martins, que convidou o ator Carlos Francisco para seu filme. Ao mesmo tempo, foi assistindo a “Cabeça de Nêgo”, de Deo Cardoso, que ele conheceu o trabalho do jovem ator Lucas Limeira, que protagoniza “Estranho Caminho”. Tanto o filme de Gabriel quanto o de Deo foram realizados por um edital afirmativo no governo Dilma Rousseff lançado em 2016. “Foi essa política pública que permitiu a existência desses dois filmes que reverberam até hoje”, exaltou Guto.

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