27ª MCT: O Tempo do Plano, O Tempo do Processo: como a direção, o olhar, a relação com as pessoas se envolve com o tempo

Durante o dia 27 de janeiro aconteceu na Mostra Tiradentes o Debate Temático: O Tempo do Plano, o Tempo do Processo: Duração e Invenção com os convidados Ariel Ortega, cineasta indígena e líder Mbyá-Guarani (RS); Claudia Mesquita, professora e pesquisadora (MG); Ernesto de Carvalho, cineasta, fotógrafo e montador (PE) e Neville d’Almeida, cineasta, roteirista, escritor, ator, fotógrafo e artista multimídia (RJ) com mediação de Juliano Gomes, curador (RJ).

O Debate temático, que aconteceu no Teatro Aymoré, é um mergulho no tempo da produção dos filmes da história de Tiradentes que são um resultado no modo de fazer não industrial – a recusa de ser um produto, interrompendo o ritmo do capitalismo 24/7. Os convidados discorrem sobre o tempo da criação, tempo do espectador(a), tempo dos artistas.

Claudia Mesquita abriu o debate, recordou um debate anterior que participou em 2011, “Anos 2000: 10 questões”, na qual abordava o processo de produção de alguns filmes em sua obra e posteriormente comentou sobre o filme Mato Seco (direção de Joana Pimenta, Adirley Queirós) em chamas: “‘O longa traz uma autonomia e faz com que nós telespectadores pensamos em regressos temporais, fazendo com que a gente sempre fique tentando se situar temporalmente nas passagens das cenas. Esses são processos que respondem talvez a temporalidade e a natureza do próprio processo de realização.

Seguida pela longa e rica reflexão da professora, Ernesto de Carvalho abordou a nova realidade dos filmes e plataformas, recordando a importância da Mostra “Eu, particularmente tenho um apreço muito grande por aqui. Primeiramente por causa desse contato com o público e também devido a alta qualidade dos filmes exibidos. E também porque hoje em dia estamos e somos sufocados por tantos filmes nas plataformas de streaming e por isso, o quão importante é conseguirmos realizar esses debates, esses filmes, essa comunidade, esse fazer política”. Em relação ao “tempo”, o diretor comentou sobre a dificuldade de apresentarem e transmitirem o “Silêncio característico da vida, mas que por vezes não é possível fazer com que o telespectador o sinta”.

Ariel Ortega comentou sobre o início da sua trajetória: “No início, eu usava só a câmera do celular para gravar e eu não sabia como funcionava na prática, posteriormente fui aprendendo mais com as oficinas, da importância desse aprendizado. Naquela época eu não sabia se ia continuar nessa área, mas era necessário né? Ter um documentário sobre o povo Guarani, as pessoas precisavam entender, nós precisamos mostrar a todos como funciona, essa trajetória, a luta dos territórios, o objetivo sempre foi esse: contar a nossa história. No começo, eu não tinha essa ideia de “filme” e sim mais um “registro. E era sobre esse filmar com as pessoas, esse tempo que a comunidade e meus parentes precisavam para entenderem e se entenderem com a câmera, é esse tempo que eles precisavam aprender, assim como eu, então todo esse processo de filmagem foi um aprendizado e teve muito o espírito guarani, sobre respeitar o tempo”.

Finalizando o Debate temático, Neville d’Almeida comentou brevemente sobre o cinema mudo “Antigamente a gente entendia o filme através do olhar. então, como é que você vai passar a emoção do que você está passando, como vai passar o medo, a alegria, o medo, o temor, a vontade, o desejo, como é que você vai passar a curiosidade. E pense só, como é que você vai dar emoção no cinema mudo? Então tudo isso era passado através do olhar, através do olho. Então isso tem a ver com o tempo. O tempo da criação, o tempo da emoção, o tempo do plano”.

A Mostra Tiradentes de Cinema aconteceu entre os dias 19 a 27 de janeiro.

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